DJ Cortecertu – ‘Minhas tracks são canções de liberdade e revolta. Assim me sinto bem.’

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Eu poderia aproveitar esse espaço pra fazer o que a maioria faz pra ter o tal do engajamento. Poderia falar sobre o novo álbum da Sza; ou dos 5 álbuns lançados de uma vez só pelo coletivo Sault, inclusive com uma faixa cantada pela Xênia França; poderia falar do último do Nas, que até aqui foi o melhor dessa, por enquanto, trilogia; poderia falar do Mount Westmore; poderia falar também do monstrão Kool G Rap, que lançou um álbum pesado.

Enfim, poderia falar de tantos outros lançamentos, mas não, esse espaço é valioso, tem um alcance orgânico com números que me impressionam. Ter tanta gente se cadastrando e ativando as notificações pra receber nossas postagens é a certeza de que ainda temos alguma relevância. Sendo assim, resolvi escrever sobre o DJ Cortecertu, já escrevi sobre ele quando lançou o EP ‘Vai Embora’ (LEIA AQUI) e não retiro uma vírgula, na verdade acrescento mais coisas.

Jair dos Santos é gênio e feliz quem consegue enxergar isso nele. Pra mim ele é referência, tenho o prazer de conhecer há bastante tempo, aprender, dividir e compartilhar ideias. Vejo com muita tristeza e até uma certa revolta a idolatria a nomes da produção musical que só são o que são porque tem dinheiro. Existem alguns nomes que parte do público do Rap e algumas mídias que se dizem especializadas tratam como divindades, quando na verdade se eles não tivessem todos os privilégios e facilidades dificilmente conseguiriam estar entre os “melhores”.

Cortecertu vem lançando nas plataformas e principalmente em seu perfil no SoundCloud, onde acumula milhares de plays, diversos instrumentais, remixes e músicas com participações de MCs. Agora, o DJ que já trabalhou com o grupo Racionais, com o produtor Felipe Vassão, com a banda Decore e os rappers Rica SilveiraFlávio XL, Stillo Radical, Fábio Emecê e DJ LLobato, reuniu seus melhores sons no álbum ‘Ultrapassado’, que remete ao seu trabalho como beatmaker, articulista e profissional do mundo da comunicação.

Nesse álbum são 9 faixas instrumentais com todas as características e influências dos sons e estilos que fazem parte de toda a sua vivência musical (rock, drum’n’bass, jazz, funky e breakbeat). O Corte é apenas mais um dos milhares de artistas geniais e talentosos invisibilizados pela indústria e seus algoritmos. Sobre seguir os padrões mercadológicos ele mesmo diz – “Não devo, não tenho condições e não quero  seguir o que está sendo feito no mercado da música atualmente. Minhas tracks são canções de liberdade e revolta. Assim me sinto bem”.

Ouça também o ‘Guetto Roots’

O primeiro contato que tivemos foi por e-mail, através do Bocada Forte, isso era começo dos anos 2000. Ele sempre mandava e-mails comentando o conteúdo e ali eu já percebia que estava falando com alguém diferenciado, com conhecimento acima da média. Não me lembro bem como aconteceu exatamente a entrada dele no BF, mas lembro de conversar com a Equipe e todos concordaram em convidá-lo para colaborar com o site. A principio ele se tornou colunista, depois passou a fazer matérias, entrevistas e mais pra frente editor. Nesses primeiros contatos, ele já era o DJ Cortecertu, mas aos poucos fomos nos conhecendo melhor e aí descobri através das conversas que ele também era compositor e produzia.

Post - https://www.bocadaforte.com.br/destaque-bf/cortecertusobrevivencia
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Entre as suas contribuições mais famosas estão composições em parceria com o Comando DMC (“Fita errada” e “São Paulo está se armando”), banda Kamykazy e a faixa do grupo Redenção Rap na coletânea ‘Movimento Rap Volume II’ (1993), a mesma coletânea que lançou o Facção Central com a música “Cor”. Reparem, olha só como ele não é e nem nunca foi “ultrapassado”, sempre esteve a frente!

A letra que ele escreveu nessa coletânea se chama “Mulher de verdade“. Em 1993, com 20 e poucos anos, ele estava na contramão da esmagadora maioria dos grupos de Rap exaltando a força das mulheres, as defendendo e atacando o machismo na sociedade e principalmente no Rap. Confira abaixo:

Acredito que a música nessa coletânea tenha sido seu primeiro registro fonográfico e de lá pra cá ele não parou mais, se manteve fazendo música, ele tinha um projeto que eu gostava muito chamado Casa 5, aproveito a ocasião para deixar um presente raro pra vocês, CLIQUE AQUI ouça e/ou baixe uma das músicas desse projeto, o refrão é cantado pela maravilhosa Bel Borges. Jair dos Santos, o gênio e Mestre Cortecertu não é e nem nunca foi “ultrapassado”, ele está anos luz à frente de criações vazias e totalmente atrasadas que inundam as plataformas.

Você não ouvirá sobre ele em veículos que são pautados por grandes corporações e seus robôs que manipulam números e moldam comportamentos padronizados. Por enquanto é isso, valorizem a arte e principalmente pessoas geniais das quebradas, eles, elas e elus estão mais perto do que imaginamos.

Ouça os trabalhos do DJ Cortecertu – SoundCloud | BandCamp | Palco MP3

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