Memória BF | MF Doom e o seu ‘Mm.. Food?’ seguem sendo únicos e incomparáveis

Publicado pela 1ª vez em 18/11/2019, com o título 'Memória BF | Parabéns, MF Doom, pelos 15 anos do disco ‘Mm.. Food?’. Última edição em 18/11/2020.

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Lançado em 16 de novembro de 2004, pela Rhymesayers, o álbum ‘Mm.. Food?’ , de MF Doom, é considerado por muitos o melhor disco do rapper mais amado e ao mesmo tempo odiado. Com ele não dá pra ter meio termo.

Na verdade, é tanta informação, tantas referências diferentes de tudo que nos acostumamos a ver e ouvir no Rap, que não é fácil de entender e assimilar este álbum. Eu mesmo admito que levei um tempo pra entender o quão genial foram os projetos de Daniel Dumile, um artista único.

Sempre procuramos comparações. No caso de MF Doom, é difícil encontrar algo semelhante, mesmo após 20 anos do seu primeiro lançamento. Talvez o mais próximo dele seja duas personalidades que vieram antes: Kool Keith, como rapper, e RZA, como produtor. Mas ainda assim não dá pra comparar. É apenas uma referência aproximada.

Confira alguns dos samples utilizados nesse álbum

Este disco foi o 5º álbum lançado por ele, o segundo com o nome MF Doom e, já no título, ele mostra a sua criatividade brincando com as letras do seu alter ego mais famoso. ‘Mm.. Food?’ é um disco temático, com referências gastronômicas e cabe aqui uma interpretação do título: podemos pronunciar “Eme eme food?” ou “Mmmmmm food?” ou, em português, “Hummmm comida?”.

Doom nos faz usar a expressão “mainstream do underground”, pois sendo diferente de tudo, sem se esforçar para isso, ele foi um grande sucesso e foi o que de mais criativo, genial e estranho apareceu em toda história do Rap.

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Quando lançou este disco, ele já tinha um público muito grande e fiel, pois já havia lançado seus outros projetos e uma coleção de instrumentais. Para os fãs, muitas músicas do álbum não eram novidade, pois antes de ser lançado oficialmente com 15 músicas, uma versão com 22 faixas vazou. A diferença no total de faixas aconteceu, em partes, por conta dos diálogos, que na versão final foram incorporados às músicas. A produção foi praticamente toda sua, com exceção de três músicas feitas por três produtores diferentes: Madlib, PNS (The Molemen) e Count Bass D.

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Os samples, os diálogos de desenhos, os timbres, a sujeira, os recortes, todo o conjunto, faz com que este disco seja a sua obra mais próxima do Rap convencional. Ouça com atenção e perceberá que não é exagero tratar o álbum como a obra de um gênio do Rap.

Assista ao vídeo de “One beer”

Mesmo que ele tenha produzido 12 das 15 faixas, o grande destaque pra mim é a música produzida por Madlib, “One beer” (4ª faixa), que originalmente foi feita para o álbum ‘Madvillain’. Esta parceira entre os dois foi lançada em março do mesmo ano. Claro que Doom também tem muitas músicas que merecem destaque. Quase todas. Mas chamo a atenção para as cinco primeiras. Começando com “Beef rapp”, onde ele ironiza e se diverte rimando sobre rappers que “inventam” batalhas ou “beefs” para conseguir sucesso.

A faixa seguinte e único single do álbum é “Hoe cakes”. “Hoecakes” é uma espécie de panqueca, feita com fubá, água e sal, que os escravos preparavam na enxada. Destaco esta música por conta do recorte que ele fez do som “Supersonic”, das meninas do J.J Fad, junto com um sample da Anita Baker.

Assista ao vídeo de “Vomitspit” ao vivo

Seguindo a sequência, depois da já citada “One beer“, vem a faixa “Potholderz”, produzida por Count Bass D, que também participa rimando. Neste som eles falam sobre os rappers mais antigos, dizendo que eles não servem mais como referência ou que não são mais bons. Ao mesmo tempo ele também é um rapper antigo, afinal, em 1989, ele estreava oficialmente no primeiro álbum do 3rd Bass.

A sequência dos meus destaques termina com “Deep fried frenz”, onde ele rima sobre amigos falsos e interesseiros. Ele usou como um dos samples o clássico “Friends”, do Whodini.

A sequência de músicas é quebrada por 4 faixas com diálogos e instrumentais. Uma espécie de intervalo para retomar com a faixa “Kon karne”. Esta é uma homenagem ao seu irmão e parceiro no grupo KMD, o DJ Subroc, que faleceu em 1993 em um grave acidente de trânsito.

Em “Guinnesses”, ele não rima e deixa a faixa toda para Angelika (staHHr, pesquisem sobre, ela rima muito) rimar sobre o fim de uma relação e o refrão é de 4ize. Termino meus destaques com duas faixas. Uma delas é “Rapp snitch knishes”, uma parceria nas rimas com seu amigo Mr. Fantastik. No som, eles falam sobre rappers que se caguetam nas próprias músicas, ostentando crimes que eles nem cometeram e nem chegariam perto de cometer, mas mesmo assim escolheram falar sobre isso.

A música que fecha o álbum se chama “Kookies”, onde ele faz referência a vários tipos de biscoitos, como metáfora para mulheres, e fala sobre o vício em pornografia na internet. Nela ele utiliza sample do tema de Vila Sésamo. Quando a gravadora relançou o álbum, em 2007, esta música veio em outra versão, com certeza por problemas com direito autoral. Aconselho a quem não conhece nada sobre MF Doom, pesquisar e ouvir despido de preconceitos.

Ouça o álbum completo

Assista um dos shows da tour do disco

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2 COMENTÁRIOS

  1. Parabéns pela materia, MF DOOM (em caixa alta quando escrever o nome do homem) é sensacional, sorte de quem conhece. Valeu!!

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