Festival Batuque 2023 | Stefanie, Max B.O e DJ Nato_pk falam sobre o festival e a homenagem a Enézimo

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Nessa mesma data, em 2020, perdíamos um grande irmão e uma das pessoas mais importantes na história do Hip-Hop brasileiro, MC Enézimo. Um grande artista, MC, arte-educador, ativista, militante, deixamos aqui a nossa reverência e enquanto estivermos por aqui lembraremos do seu legado. Enézimo presente!


Texto, fotos e entrevista por Erica Bastos

O Festival Batuque está de volta! Após um hiato de três anos, o evento que acontece em Santo André (SP) é sempre esperado com ansiedade pelo público do Rap underground. No line-up deste ano, o rapper norte-americano Freddie Gibbs foi confirmado como atração internacional. Ele se apresenta nos dois dias do evento, dividindo o palco com nomes como: Febre 90’s, Victor Xamã, Rodrigo Ogi, MC Luanna, Stefanie, DJ Nato_pk e Max B.O.

O evento ainda terá a exibição do filme ‘Irmãos de tinta’, de Mouco Fya, documentário que mostra figuras importantes do pixo e do bombing em ação nas ruas. O retorno do Batuque também será marcado por uma justa homenagem ao rapper e educador social andreense Enézimo, falecido em 2020 por complicações devido ao Sars-CoV-2.

O site Bocada Forte trocou uma ideia com alguns personagens do Festival, entre eles, DJ Nato_pk, o MC e artista plástico Max B.O e a MC Stefanie. Os artistas contaram como se sentem em relação ao retorno do Festival e a homenagem ao grande parceiro Enézimo.

Enéas foi um professor pra mim, eu aprendi muito com ele, então com certeza o que eu vou fazer naquele palco lá eu devo muito ao Enéas”, comenta Stefanie.

Max B.O, que é o grande mestre de cerimônia do Festival, já tendo apresentado o evento oito vezes, sinaliza que este retorno é marcado pela resistência. “Eu acho que assim, é  tudo pensado depois da pandemia, então eu acho que é uma consagração à resistência , tipo é uma coisa de celebrar tudo aquilo que a gente passou desde a pandemia”.

Ele ainda confessa estar ansioso pra ver o rapper norte-americano Freddie GibbsO Gibbs  tem um novo Gangsta Rap e com uma linha de produção diferente também né, bastante coisa com Madlib, então ele é gangsta, às vezes menos na musicalidade e mais no que ele esta cantando e tal, eu acho que vai ser um show muito foda”.

Nato_pk, que também já participou de outras edições, está ansioso por este retorno e pela homenagem ao seu grande parceiro do selo Pau-de-Dá-em-Doido (P.D.D), o MC Enézimo, o DJ fala da importância do amigo para Santo André e para o Hip-Hop brasileiro.

Veja os trechos da entrevista com os artistas falando sobre o Festival Batuque:

DJ Nato_pk

DJ Nato_pk, foto Erica Bastos

A gente já tem uma relação bem estreita, bem próxima assim com o festival, porque até a primeira mixtape do selo Pau-de-Dá-em-Doido já tinha acontecido várias coisas, já tinha passado com o Armagedom, com o Enézimo, depois já tinha passado o Polemikaos, que era meu grupo, aí vem toda uma reformulação do selo – esta ideia de levar o selo P.D.D pra frente-  e o primeiro grande espaço que a gente teve chance de levar nosso trabalho, com a primeira mixtape, foi justamente no Indie Hip-Hop 2007, que tinha esse nome antes de ser Batuque, então foi uma vitrine incrível pro selo, potencializou muito nosso trabalho.

Daí pra frente, em 2008, o Enéas lançou o primeiro disco dele no Indie Hip-Hop também. Depois, em 2012, eu lancei o segundo volume da mixtape. Era Indie Hip-Hop ainda, quando veio o Del, dividindo o palco com Doncesão e o Pizzol. Então eu tenho uma frequência de oportunidade de estar incluso no festival.

Em 2014 eu discotequei os dois dias, quando veio a Santigold. Em 2015, eu toquei com o Ogi, quando veio o Joey Badass. Enfim, em 2017 eu toquei com o Só Disco Salva, fizemos um set 100% vinil no festival e 2018 a gente foi a última apresentação, que foi um show com banda comemorando os 20 anos do selo P.D.D.

Depois da pandemia, depois de tudo o que aconteceu, perdemos o Enézimo, então pra mim é muito emocionante. Eu estou trabalhando, minha cabeça está muito centrada nisso, pensando só nisso, essa oportunidade de estar na cidade onde o selo Pau-de-Dá-em-Doido nasceu e onde o Enézimo era uma figura muito importante. Ele era uma figura política de bater de frente, de buscar melhorias para o Hip-Hop na cidade, seja como MC, como arte educador. Os últimos trabalhos dele foram na Fundação Casa.

Então eu acho que é um momento importante. A data por si só do Festival já é outra coisa marcante, porque o Enézimo veio a falecer dia 15 de dezembro. É uma oportunidade que a gente tem de estar exaltando o nome dele para as pessoas que conhecem, e apresentando para as pessoas que não conhecem, porque ele foi um cara que dedicou a vida ao Hip-Hop.

Max B.O

Max B.O, foto Erica Bastos

Eu sou um dos MCs que apresentou mais festivais desde que surgiu o festival, e estava inclusive vendo o livrinho do Festival Duloco, ‘A Década Duloco’, eu estou em pelo menos  80% dos festivais. Creio que estou nesse papel por conta do profissionalismo de ser uma parada que eu desenvolvo com bastante habilidade, que é um lance de MC mesmo, de mestrar cerimônia, de conduzir o lance com a plateia.

Eu acho que é tudo pensado depois da pandemia. É uma consagração à resistência, tipo é uma coisa de celebrar tudo aquilo que a gente passou desde a pandemia até este festival. É uma coisa também de refletir as nossas saudades, as nossas perdas e, desta vez. a festa da firma tem um outro caráter, porque alguns funcionários infelizmente não estão entre nós, eles estão em nós. Inclusive é parecido com o que eu falei do Sabotage, é lembrar que por exemplo o Enézimo não está com a gente, mas cada um é um pouco do que ele deixou.

Estou muito ansioso também porque sou fã do Freddie Gibbs e é sempre surpreendente, acabo tendo a oportunidade de apresentar uns dos caras que tô começando a conhecer e outros que eu admiro bastante. Tipo, o Joey Badass eu não conhecia muito, comecei a conhecer naquele ano, mas o Freddie Gibbs eu gosto muito do trampo dele, tipo tenho quatro LPs e vou levar dois pra ele autografar.

Eu acho que vai ser muito foda, primeiro porque é um outro entendimento do que é o estilo gangsta Rap, pra minha geração, geração do Nato, o Gansta Rap esta mais naquele lugar dos caras que a gente começou a curtir nos anos 90, Snoop Dogg, Doctor Dre, aquela galera de Los Angeles e tal, Coolio.

O Gibbs tem um novo gangsta Rap, com uma linha de produção diferente também, coisas com Madlib, então ele é gangsta, às vezes menos na musicalidade e mais no que ele esta cantando e tal. Vai ser um show muito foda e dos outros artistas também que vão participar né, a gente também. É importante lembrar que a galera de casa cumpre muito bem seu serviço, seu papel. É muito louco pensar nessa parada de ser o primeiro depois da pandemia.

Stefanie

MC Stefanie, foto Erica Bastos

Eu estou feliz pra caramba. O Batuque, pra nós que vem acompanhando a cultura há anos, é muito importante. Santo André teve vários momentos muito fortes. Pra gente, receber um dos maiores festivais que tem de Hip-Hop, de Rap, e  ter a honra de apresentar este evento, significa uma felicidade muito grande. Estou animada e é uma responsa também.

Mas vou ser bem sincera, eu sempre lembro do Enéas, ele foi um professor pra mim, eu aprendi muito com ele. Com certeza o que eu vou fazer naquele palco lá, eu devo muito ao Enéas. A aprendizagem que tive com ele, me divertir, sentir à vontade, de aproveitar o momento, de curtir o momento…é sobre isso, sobre celebrar, celebrar o retorno do Batuque, celebrar o Batuque, que tem toda esta história, esta trajetória, celebrar os 50 anos da Cultura Hip-Hop, tem tudo isso

É muito louco porque o Festival Batuque além de trazer os artistas, o público do Festival Batuque é muito importante porque são pessoas que são muito fiéis ao Rap, a cultura. É lógico que as atrações são importantes, tudo é importante, mas o público do Festival Batuque é demais. As pessoas desde o meio do ano já ficam “meu quem será que vai vir?” e todo mundo na torcida e ai quando descobre quem vai se apresentar fica super feliz. É aquela alegria, aquela felicidade. Daí vem a ansiedade para comprar ingresso, e quando você chega lá, você encontra várias pessoas que não vê há muito tempo.

Muitas dessas pessoas que vão para o Batuque vivem o Hip-Hop, é o estilo de vida. Eu acho que é por isso que o Festival tem essa energia tão foda e forte, é o Rap, é muito real e verdadeiro, não caiu de paraquedas. Muitas pessoas que chegam, que não tiveram a oportunidade de conhecer o Batuque, chega se encanta porque é a festa de confraternização de final de ano do pessoal do Rap. Eu gosto muito, eu sou muito fã e espero de verdade que continue. Fico muito honrada.

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