ACERVO BF | Entrevista com MV Bill – Depois do engarrafamento… a Declaração de Guerra

Esse conteúdo faz parte do Acervo BF e foi originalmente publicada no site Manuscrito, que era uma iniciativa do Bocada Forte em parceria com o UOL. Última edição em 03.01.2024

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Por: Christie Aleixo

Quarta-feira, dia 28 de setembro do ano de 2002, estou tentando chegar a coletiva de MV Bill. Desesperadamente atrasada, para variar, com a cidade totalmente engarrafada, me encontro trancafiada em um veículo que mal sai do lugar. Num misto de curiosidade e preocupação para conferir as ideias do mais conhecido rapper brasileiro da atualidade. Acabei por despencar, atrasada, na sala de reuniões da gravadora Natasha Records, na Gávea zona sul do Rio de Janeiro. Tendo a sorte de ainda pegar o bonde andando, pude participar das ideias do MV Bill sobre seu novo disco, muito comentado nos últimos dias.

Seu segundo CD, ‘Declaração de Guerra’, lançado pela BMG e Natasha Records, mostra um MV Bill contundente e polêmico onde o mesmo diz que este cd é “um trabalho em clamor pela paz verdadeira, com igualdade e democracia.”

Com produção do melhor produtor de Rap brasileiro DJ Raffa, do conhecido DJ Zé Gonzales, Daniel Ganjaman, DJ Luciano e o próprio Bill, este álbum chega pelando do forno com 14 faixas e mais uma oculta.

Contando também com participações mais que especiais de seu pai, Charlie Brown Jr., das rappers K-Milla, Nega Gizza “sua irmã” e o mano Buiu da 12 e muitas outras surpresas fazendo um “Rap popular brasileiro” de primeira. Dizem que após a tempestade vem a bonança, eu Christie Aleixo digo, que após o “engarrafamento” vem a Declaração de Guerra. Confira na integra:

GRAVADORA

” …desmistificando qualquer mito, principalmente de rapper que fala que quando sai de um CD independente e vai para uma gravadora grande muda o discurso: Porra nenhuma cara! Fiz o disco do jeito que eu queira, com as influências que eu queria, chamei os músicos que eu queria, aonde eu queria, do meu jeito. E esse caminho alternativo que a gente tem procurado para não ter que se moldar a programas de televisão e a modelos radiofônicos, fez de mim um cara que fala o que quer, do jeito que o rapper deveria ser, sem ter a preocupação de ser ético nem sensato, falar o que pensa. Ter esta liberdade de falar o que quero sem ter rabo preso com porra nenhuma é o que mais me fascina dentro deste trabalho… e esse intuito do Rap em falar, das críticas sociais principalmente, foi o que me cativou dentro da Cultura Hip-Hop, talvez se não falasse de todas estas questões eu não sei se faria Rap hoje, talvez nem seria envolvido com música.”

INFLUÊNCIAS MUSICAIS

“…mesmo aqueles que não estão pensando em samplear coisas brasileiras, já estão de certa forma pensando em fazer suas músicas procurando samplers diferentes, com outras sonoridades, sem estar voltado só ao som dos mesmos caras. Acho a maior vacilação nossa esperar um Doctor Dre vir ao Brasil, achar um som do caralho, fazer um Rap em cima para só depois a gente ir na onda deles. O grupo, A Tribe Called Quest fez isso com uma bossa nova, que não está creditada no CD. Tem os caras do De La Soul, que quando vieram a São Paulo, tavam doidos para ir ao sebo, chegando lá ficaram igual pinto no lixo, se perderam, pegaram um bolo de discos, forró pra cacete, mpb pra caralho, pagode, samba, tudo. E o resultado está no último CD deles, tá lá, De La Soul, samplers Tom Zé e luiz Gonzaga, os caras tiraram som em cima de forró, a música não estourou lá fora nem aqui, mas é uma experiência pros caras. Pô então, não posso esperar que outros pesquisadores, doidos pra fugir da mesmcie do Rap americano, caia nas graças do Brasil, que são músicas comentadas pra caralho no mundo inteiro, e façam a parada na nossa frente.”

DECLARAÇÃO DE GUERRA / ÚLTIMO CD

“Declaração de guerra ainda é o início, ao menos pra mim, de um nova era dentro do Rap, mas que pode ‘abrasileirar’ muito mais, eu comecei minha pesquisa de uma forma até meio tardia, mas não a ponto de não poder utiliza-la. Descobri coisas, que não posso nem revelar muito se não vagabundo passa minha frente, coisas boas pra caralho! E em um desses trabalhos de pesquisa descobri a obra de um cara que eu só ouvia falar, que é o Zé Keti. Pô, o que o Rap fala hoje, o cara já falava há décadas, em uma épocas que era proibido até pensar e ás vezes, a falta de pesquisa fez que como eu, pelo menos, não tivesse conhecimento disso e o que está ao lado acaba ficando mais distante e eu acabei absorvendo o que vem de longe. Beber na fonte de Zé Keti, Nelson Cavaquinho e alguns outros nomes que não posso falar, pois não consegui autorização e tive que descaracterizar os samplers do meu jeito, foi foda. E o próprio Hyldon, que tem outras músicas dele que estou utilizando para trabalhos futuros, que é um cara que eu gosto muito, apesar de não ter vivido na época dele, mas gosto porque minha mãe falou que seu som embalou o namoro dela com meu pai. Eu acho que se formos pesquisar tudo que a gente tem de música não só a música preta brasileira, mas tudo que a gente tem dentro do cenário musical no Brasil, vamos encontrar coisas muito boas, bonitas, fortes agressivas… e o mais foda de tudo, swingadas e sem deixar de ser Rap.”

PARTICIPAÇÕES ESPECIAIS

Charlie Brown Jr. – “…eu e Chorão nos conhecemos num banheiro de uma festa em Santos, onde nem nos cumprimentamos porque a gente tava com as mãos sujas, ele falou que se identificava muito com meu trabalho… combinamos então de trocarmos uma ideia e por telefone, onde ficamos mais de uma hora, ele tava comentando que em todos seus discos, desde o primeiro, ele sempre dedicava pelo menos uma das canções a algum tipo de questionamento social, mas de uma maneira muito honesta, que era do jeito dele, ele não queria ser preto, favelado como eu e falar do meu jeito. E falando desta violência que hoje está exagerada e que antes era cometida mais junto das comunidades, hoje está espalhada e que antes atingia só a mim, conseguiu atingir a ele também dentro das pistas de skate. Porque ele sendo skatista leva duras bem parecidas com as minhas dentro da comunidade, então quando combinamos de fazermos um som, eu falei: Pô porque a gente não fala disso? Usar nossas experiências com a policia, com as autoridades da forma que a gente enxerga tudo isto, eu falo do meu jeito e você fala do seu, lógico que vamos ter visões bem diferentes, mas acho que o ponto forte vão ser as coisas em comum que terão os dois relatos sendo mais uma forma de mostrar que a violência cresceu e que não é uma coisa só minha. Fizemos o som que seria para colocar no disco deles ou no meu, como o meu foi primeiro ele trouxe o Champignon pra tocar o baixo e o Marcão pra tocar a guitarra.”

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Pai – ” Eu comecei a me envolver com música através de meu pai, quando eu tinha uns 13 anos, um ano antes de conhecer o Rap, ele tinha me chamado para puxar um samba, eu era mulequinho cantando ao lado dele. E mesmo depois do meu envolvimento com o Rap, ainda defendi um samba para ele no ano de 1994… meu pai fez 50 anos e nunca conseguiu gravar a voz dele em lugar nenhum, nem os próprios sambas que fazia, assim eu quis dar um presente a ele só que quase tive que chamar um cardiologista porque o cara quase teve um troço. Eu tinha feito a música ‘Margina menestrel’, meu pai escreveu uma parte dela e colocou a voz lá do jeito dele, meio sambeado, com as influências de Bebeto, que eu também sou fanzaço… tenho todos os CDs dele, recentemente ele tocou na Cidade de Deus e quem sabe um dia a gente faz um som junto.”

RAP NO RIO

“O Rio de Janeiro, não só com relação ao Rap, mas com relação a cultura, por ser um Estado meio tendencioso é meio fechado a novas coisas entrarem, principalmente para trabalhos de denúncia, acho que há um pouco de aversão. Até quando o Rei do pop, Michael Jackson, veio ao Brasil e todos acharam que ele queria ir ao Cristo Redentor e as praias e souberam que ele queria ir a uma favela, houve protesto de todas as partes, de todos os conservadores porque não é isso que as pessoas querem que seja mostrado. O Rap tem como característica exatamente de mostrar, o avesso do postal, esse outro lado, então essa já é uma grande dificuldade. Fora a coisa de que toda arte produzida dentro das comunidades por preto, favelado tem uma tendência a ser uma coisa bandida, uma coisa marginalizada, mas às vezes uma mesma coisa sendo mostrada por uma outra pessoa branca, até da mesma classe social de forma até mais agressiva vira uma outra coisa. Cara, às vezes o texto que é um texto marginal vira literatura, a imagem que era acusada de apologia ao crime vira sétima arte… então acho que há uma tendência a marginalizar as coisas que são feitas, produzidas por nós, filhos dos outros, mas que há muita admiração quando é feito pelos filhos deles, ou seja, é aquela história que agente aprende quando é pequeno, aceitar as malcriações dos próprios filhos, mas não dos filhos dos outros.”

COLETÂNEAS INDEPENDENTES – D2( RIO) E XIS (SP)

“Acho bom pra caralho! Acho que é uma forma de botar novas caras, com novas pessoas trabalhando, mostrar novas propostas, ampliar o cenário. Eu estou fazendo um programa em uma rádio do Rio de janeiro e a gente tem tocado muitas coisas, coisas underground pra caramba de grupos que ainda não conseguiram gravar aqui do Rio, porque há essa carência, tem uma porrada de grupo e os caras não tem onde gravar e quando grava não tem onde divulgar seus trabalhos. Existe uma diversidade muito grande de músicas tocadas na rádio, rola umas músicas da coletânea do D2, do próprio disco dele e outros trabalhos de outros caras que não conseguiram gravar em lugar nenhum, mas que tem seus trabalhos solos, como os grupos lá da central única das favelas, a CUFA, que a gente vai tocando também…”

CHEGADA DO RAP NO CINEMA

“Eu conheci o Rap no cinema, acho que os dois casam muito bem, a música propriamente dita com as imagens cinematográficas, acho que as imagens ajudam a ilustrar a música Rap, falando só do Rap. Acho que os dois têm um papel muito grande cara, de entreter e ao mesmo tempo por serem grandes veículos de comunicação podendo influenciar bastante a vida das pessoas. E quando eu conheci o Rap foi num filme chamado ‘Colors’ (As cores da Violência), onde a trilha sonora era só Rap. O filme chamou muito a minha atenção, mas foi quando eu vi a tradução de uma das letras da trilha sonora que era do ICE-T (Colors), achei que o cara estava falando da Cidade de Deus e falei: ‘Caralho, é esse o bagulho!’ Ai comecei a me envolver, então foi exatamente isso que me cativou dentro do Rap e isso que tem me projetado nacionalmente, tem feito que pessoas lá em Salvador se identifiquem ideologicamente com o que eu falo aqui no Rio de Janeiro e em outros estados em situações diferentes. Acho que é essa coisa do engajamento social que move o Rap, é isso que mantém o Rap forte e porra, chamativo cara, conseguindo chamar a atenção das pessoas, da sociedade e às vezes até das autoridades, de forma até negativa, por exatamente abordar assuntos que outros músicos, de outras vertentes musicais não têm coragem de abordar. Então acho que não necessariamente tem que falar das questões sociais, mas acho que é o ponto forte da Cultura Hip-Hop.”

MTV

“É uma emissora de playboy, que quase não toca música brasileira, não é grande admiradora do Rap, não é uma emissora direcionada à periferia, pior, é paga, é restrita… e mesmo assim, alguns caras acham que é a casa do Rap. Na realidade a MTV tem o mesmo padrão branco de beleza de todas as outras emissoras inclusive, a TVE e a TV Cultura… logo não vejo diferença nenhuma entre MTV e a Rede Globo, as duas são exatamente iguais. Então para mim não faz diferença ir a um programa da MTV ou da Globo.”

EMBRANQUECIMENTO NO RAP

“Acho que para todos os ritmos pretos no Brasil houve uma necessidade da mídia achar algum representante branco para estourar e geralmente o representante branco não tinha muito compromisso social, era submisso e era dentro dos moldes da mídia, que tem o preto como o excluído, não quer ter a cara preta dentro da televisão, se tiver que colocar um branco eles botam mesmo. Eu até declaro um pouco de guerra a isso também, a esse embranquecimento forçado das coisas, se tiver que um branco fazer Rap, ele vai fazer porque quer, porque ele gosta não porque precisa de um rapper branco pra estourar com o Rap no Brasil. Acho que este conceito foi errado com o Gabriel o Pensador, que todos acharam que ele seria o rei do Rap, ele é meu parceiro, meu camarada, mas por ter já essa cultura dentro do Brasil, talvez uma cultura mundial – até o próprio Eminem afirmou isso, que ele vende mais CD que os outros caras porque ele é branco – mas pelo Rap ser uma música de opinião forte e a Cultura Hip-Hop por ter um caráter agressivo, soube desprezar o que a mídia estava impondo… ‘Gabriel o novo Rei do Rap’, isso foi maligno até para a carreira dele, durante um tempo ele mesmo falou que não queria saber de Hip-Hop, que ele não era mais do Hip-Hop. Então tá provado que a mídia pode até tentar, como já tentou com outros, mas que não vale a pena nem citar aqui. O Rap como está muito enraizado, ao contrário do samba que se perdeu no meio de sua trajetória, ele tá muito preso às comunidades, muito forte às raízes assim, vai tendo muita aversão a esse tipo de tentativa. Às vezes me causa preocupação dentro do Rap, mas eu estou convicto que a maioria dos caras que fazem Rap vão fazer de tudo para que não aconteça com o Rap o que aconteceu com o samba… uma árvore sem raiz não consegue se manter em pé.”

RACISMO

“…as pessoas as vezes me chamam de racista por eu ter orgulho de ser como eu sou e de lutar para levantar a auto estima dos pretos cara, isso não é ser racista ao inverso, isso é ser pró os pretos, ninguém é pró a eles e eu não posso esperar que meus caros amigos de pele clara, cansei disso, e acho que vocês nem tem compromisso com isto, isso é um compromisso meu com minha comunidade, parar de achar que a ajuda vai vir de cima para baixo e a gente aqui de baixo começar a se ajudar, se auto ajudar. Então acho que muitos artistas pretos, da mídia, renomados não tocam nesta questão justamente por ter medo de perder sua cherokee, por medo de não ir a Xuxa, ao programa do Faustão e as músicas não tocarem mais nas rádios… e muito deles se submetem ao ridículo para aparecerem e até se manterem na mídia. Então é o que eu falo: Me manter no caminho alternativo, me dá a possibilidade de fazer a minha música do jeito que eu gosto e nas entrevistas dar o meu verdadeiro ponto de vista. Por exemplo, a mídia briga, sai na porrada para provar que a Camilla Pitanga não é preta e muitos pretos claros, tem que quase brigar para se auto entitular de preto, para ter orgulho de ser preto, porque a mídia não quer a ponto de dizer: Pô você é tão bonita pra se achar assim…”

FILME CIDADE DE DEUS

“Um filme belíssimo! Assisti o filme e achei muito bonito e dentro de minha visão leiga de cinema acho que tem uma fotografia muito bonita, posso estar falando besteira. Acho que a atuação dos meninos lá do morro do Vidigal, boa pra caralho! Os moleques deram um banho de atuação em muitos artistas consagrados e enjoados que passam na televisão e que eu não aguento mais ver a cara… acho que o cinema nacional não progredia tanto por causa disso, reclamavam muito das produções, acho que também era um pouco os artistas pois eram os mesmos artistas que estavam nas novelas. Minha sensação ao assistir um filme nacional era de estar vendo uma novela global dentro do cinema.

Já no filme Cidade de Deus especificamente, acho que a atuação deu um banho, dou crédito ao Augusto Fraga que é o preparador dos meninos lá, acho que é um filme que vai ganhar muitos prêmios talvez até por ser uma violência ‘glamourizada’, por não sintetizar a realidade até mesmo porque eles não tinham esse compromisso porque trata-se de uma ficção e ficção fala o que quer, não é o retrato fiel de lá, porque os arquimilionários e os diretores que estão financiando este filme não têm este compromisso de passar essa mensagem.

 

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Mas é um filme que eu acho que pode ganhar até o Oscar, mas que para a Cidade de Deus vai trazer apenas um troféu, o de comunidade mais violenta do mundo, porque ao fazer uma pergunta a mais de 30 jornalistas que conversei num período de 2 dias, todos haviam assistido ao filme e todos disseram ter pavor da Cidade De Deus, sem coragem de sequer passar por perto. Então eu sendo um cara que venho lutando insistentemente para mudar a realidade daquela comunidade e mostrar que lá além de fuzis, como em qualquer outra favela do Brasil, têm muita carteira de trabalho assinada, muita sem assinar, muita carteira de estudante, muita carteira de idoso, muita gente de bem, que é a maioria. Pessoas que têm sonhos, que têm vontades, pessoas que são contra a violência, que são a favor do desarmamento, apesar de nunca terem sido consultadas, pessoas que são contra o tráfico de drogas, mas que ficam impotentes diante da luta. E o meu receio é que talvez o filme traga exatamente o contrário disto, dificultando que as pessoas daquela comunidade consigam arrumar emprego depois, porque já era difícil dizer que morava na Cidade de Deus. Tenho medo que essas pessoas não consigam mais se socializar, não conseguindo mais arrumar namorado(a) no asfalto, não receberem mais visitas de pessoas importantes… e conversando com um cara do Sul, ele falou que à partir do filme ele não tem medo só da Cidade de Deus, mas sim de todas as favelas e isso talvez impeça um pouco a criação de alguns projetos, das pessoas que tem boa vontade de querer ajudar e assim recuem um pouco mais. Os colunistas que estão fazendo os elogios rasgados a este filme, estão no ponto de quem está vivendo a violência glamourosa esteticamente bonita que é, no filme, mas que é cruel para caramba pra quem vive ela diariamente. Torço muito para que o filme traga bons frutos para a comunidade, mas ao julgar pelas imagens que eu vi, fico com um pé atrás e aconselho a todas as pessoas, de todas as classes, para que assistam o filme e tirem suas próprias conclusões.”

ELEIÇÃO 2002

“Não vou dizer quem é porque estou votando com a sensação de estar indo votar errado. Eu separei um entre os quatro, ou melhor três, pois o Garotinho não conta, então entre os três eu destaquei um, mas eu não estou convicto de que é o voto certo. É horrível você ter que escolher o menos pior por eliminação… então, por não ter a convicção de que estou votando certo não vou revelar e não influenciar ninguém a votar errado como eu. Não acredito em mudanças, acho que é preciso declarar uma guerra para a gente conseguir a paz. Declarar guerra aos padrões imbecis que são impostos todos os dias, essa coisa de que na favela é onde está a violência, tipo o preto é o marginal, o favelado é o bandido. De reter a riqueza, o poder e não querer dividir isso de falar em democracia racial com falsidade, com hipocrisia, que são coisas que não existem, eu te provo isto na prática e declaração de guerra marca um momento pra mim de soltar farpas a quem merece. Expor meus pensamentos de forma áspera e crua onde conservadorismo têm sempre imperado, de que a sociedade durante muito tempo brincou de fazer de conta ‘guetificando’ a violência, fazendo dela um instrumento de genocídio e que sempre passou com muito descaso e muita distância porque a violência é dentro das comunidades. A violência explodiu cara, dentro do morro o pessoal correu para o asfalto e eles descobriram na prática que não estava tão distantes dele, mas eles não se sensibilizaram e se assustaram quando os filhos dos Drs. fulanos de tal começaram a ser sequestrados, envolvimentos de não sei quem, balas perdidas, assaltos a condomínios de luxo… ai eles começaram a perceber que a luta antiviolência não era só do favelado e de quem sofria diretamente com isso e sim de toda uma nação. É preciso declarar guerra aos nossos preconceitos, as nossas imbecilidades e as nossas mentiras para encarar a vida real, sair do Reality Show e entrar na vida verdadeira”

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