Em memória do Mestre, músico, poeta e compositor Toninho Crespo
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Faleceu na manhã desta segunda (22), aos 70 anos, em decorrência de um câncer no intestino recém descoberto, o músico, poeta e compositor Toninho Crespo, também conhecido por suas parcerias com artistas do Rap. A trajetória de Antonio Rodrigues Filho, conhecido como Toninho Crespo, atravessa a história recente do Brasil. Nascido em 09 de junho de 1955, na Penha, zona leste de São Paulo, sua vida é marcada por violência policial, descobertas culturais e pela construção de uma identidade negra através da música.
Filho de um motorista mineiro e de uma operária pernambucana, Crespo cresceu em um ambiente de luta diária pela sobrevivência, onde a rua funcionava como extensão da família. Na infância, experimentou cedo a perda do pai, vítima da violência policial. Essa ausência forjou sua consciência sobre desigualdade social e racismo estrutural. Ele lembra que a morte não trouxe amparo algum do Estado à sua mãe e irmãos, deixando marcas que moldaram sua visão crítica sobre a relação entre periferia e polícia.
Ainda jovem, encontrou na música e na estética negra caminhos de afirmação. Do soul ao Black Power, do reggae aos dreadlocks, sua identidade foi se consolidando contra estigmas e resistências cotidianas. A descoberta de Bob Marley, em um show de Gilberto Gil, mudou o rumo de sua militância: deixou de frequentar o Movimento Negro em reuniões formais para adotar a música como forma de luta.

Nos anos 1970, participou do histórico ato de fundação do Movimento Negro Unificado (MNU), em 1978, nas escadarias do Theatro Municipal, em São Paulo. Denunciando assassinatos e a violência policial, reconheceu naquele momento a urgência de se posicionar: “o que aconteceu comigo, estava acontecendo com todos nós”.
Sua militância se expandiu pelo reggae e pela educação. Ao lado da esposa, tornaram-se um dos primeiros casais em São Paulo a adotar os dreadlocks, enfrentando preconceito inclusive no mercado de trabalho. Perdeu empregos em redação de jornal e banco, mas transformou a exclusão em desafio e resistência.
A arte-educação passou a ser uma frente central de sua atuação. Toninho organizou oficinas de música em bairros periféricos e casas de cultura, acreditando que o contato das crianças com instrumentos e poesia poderia abrir horizontes negados pelo Estado. Mesmo diante de repressão policial dentro das salas de aula onde lecionava, reafirmou a importância da música como ferramenta de cidadania e emancipação.
Com o reggae, levou sua experiência para além do Brasil. Apresentou-se diversas vezes na França, onde notou o respeito internacional pela música brasileira. O contraste com a falta de valorização no próprio país reforçou seu compromisso em preservar a memória da cultura afro-brasileira e fortalecer iniciativas de base comunitária.
Toninho Crespo foi também poeta desde a adolescência, escrevendo versos que acompanharam sua formação crítica.
Sempre esteve próximo do Rap e da Cultura Hip-Hop, fez apresentações com Racionais MCs e tantos outros grupos, realizou um intercâmbio entre artistas do Brasil e França – levando DJs, MCs, dançarinos e dançarinas de samba e dança de rua para trocar experiências. Dessa ligação com o Rap e a aproximação com os mais novos, surgiram parcerias com Jotacê, grupo Mesclado e mais recentemente com DOXDÉL, unindo rimas e batidas ao swing do Samba Rock.
Deixamos aqui nossos sentimentos aos familiares, sua esposa Lourdes, amigos e amigas.
Todo nosso respeito ao Mestre, sua obra e legado!






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