Com quem falamos em 2025: Mxdeira, criador de beats e novas histórias numa cena marcada pela exclusão
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Rodrigo Madeira Machado, mais conhecido apenas como Mxdeira, é um beatmaker e DJ da cena hip hop que caminha entre as batidas e o silêncio, do seu espaço com FL Studio 12 até os palcos da quebrada.
Com uma trajetória iniciada no final de 2015, Mxdeira representa uma geração de produtores que, mesmo sem grande estrutura ou reconhecimento imediato, vem forjando uma sonoridade própria, profunda e artesanal.
A entrevista que ele concedeu ao Bocada Forte revela sua jornada na música, o artista também formula uma crítica direta à indústria, à elitização do equipamento e à subvalorização da arte instrumental no rap brasileiro.
A origem
Mxdeira começou como tantos outros na cena independente: observando, experimentando e aprendendo com quem estava ao seu redor. Influenciado por nomes como Madlib, Jay-Z, Wu-Tang Clan e Anderson .Paak, seu primeiro contato com a produção veio de um parceiro, o Andersoul Raps, que apresentou a ele os caminhos do beatmaking e compartilhou pacotes de timbres que ampliaram sua noção estética.
Mesmo sem acesso às caras MPCs do mercado, Mxdeira encontrou no FL Studio sua ferramenta principal, DAW que a usa até hoje. Sem controladora, sem pads físicos, apenas com o teclado e o ouvido atento, ele construiu seu estilo, sampleando, cortando e moldando os beats com a sensibilidade de quem vê na arte uma extensão do corpo. “A galera aqui no Brasil só fala que é música se tem voz. A impressão que eu tenho é essa”, desabafa.
Quando o instrumental fala por si
Mais do que acompanhar MCs, Mxdeira vê no beat uma linguagem própria. Ele reclama, com razão, da lógica vigente que só valoriza o beatmaker quando ele está por trás de um rapper famoso. Para ele, muitos instrumentais são histórias completas. “O beat conta a minha história. Que ela seja instrumental ou com vocal, mas é minha narrativa”, explica.
Com influências de soul, jazz e sons experimentais, Mxdeira flerta com o alternativo e acredita que a música instrumental tem espaço para crescer, apesar da indiferença do mercado brasileiro. Ele cita referências como Cookin Soul e Kev Brown, produtores internacionais que vivem apenas de suas beat tapes, enquanto aqui o produtor precisa, muitas vezes, esconder sua criatividade para caber na métrica de um MC.
Resposta à precariedade
Em um cenário dominado por equipamentos caros e uma lógica de exclusão tecnológica, Mxdeira defende o uso criativo do que se tem. “Não importa do jeito que você faz, o que importa é o trampo e a criatividade.” Para ele, há mais profissionalismo num artista que sabe tirar som de um equipamento modesto do que em alguém com uma controladora cara, mas sem domínio técnico e sensibilidade artística.

Um caminho em construção
Além do álbum com o grupo Seres Tapes (Andersoul Raps, Nick BPS e Mateus Rod), lançado em 2019, Mxdeira (madeira) produziu singles com artistas do Vale do Paraíba, do ABC paulista e de outras regiões. Trabalhou com nomes como Flow MC, Beto Bongo, DJ Elvis, Inglês, Monge do Caos, entre outros. Atualmente, prepara uma beat tape autoral para lançar ainda este ano, num projeto que representa sua reafirmação como artista solo.
Ao final da troca de ideias, Mxdeira reflete sobre a indústria musical, a inteligência artificial e os perigos da pasteurização. Ele se recusa a seguir modismos ou a criar batidas que agradem algoritmos. Para ele, o som precisa ter alma, identidade, conflito, erro, textura, precisa ser humano.
A história de Mxdeira é a de muitos artistas periféricos que fazem da falta de acesso à grande parte da tecnologia que reina na cena sua ferramenta de invenção, que enfrentam a pressão estética do mercado e das plataformas digitais com autenticidade e crítica. Ele é um dos que seguem acreditando na arte e na música como documento de tempo, lugar e subjetividade.
Para o Bocada Forte, Mxdeira é um construtor de narrativas instrumentais que sobrevivem em meio a pressão do mainstream e da produção de type beats… E como ele mesmo afirma: “Se você sabe dominar seu equipamento, já era.”




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