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O que ouvimos em 2025: ‘Antes Que o Mundo Acabe em Mel’, Kyle Fortes e lucasbin

O que ouvimos em 2025: ‘Antes Que o Mundo Acabe em Mel’, Kyle Fortes e lucasbin

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Ter mais de 50 anos e acompanhar parte do que é feito no rap é uma condição que me propicia assistir, de tempos em tempos, o surgimento de novas escolas.

Numa dessas pesquisas cotidianas, trombei o rapper Kyke Fortes, londrinense que já passou uma cota em Sampa e apresenta um disco denso e afirmativo. Em parceria de lucasbin, Antes Que o Mundo Acabe em Mel é mais um trampo calcado na perseverança com palavra precisa e, em alguns momentos,  entoada como mantra por quem sabe que a realidade tem pressa. (conheça mais trabalhos do artista)

O título do EP já indica o tom de contraste que percorre as faixas. Entre otimismo e angústia, Kyke costura frases curtas que funcionam como bússolas em meio ao caos da vida nas ruas e nas redes.  A palavra “acredita”, não é um pedido, é ordem de marcha. Os aficionados em termos do marketing, copywriting e storytelling, diriam que é call to action. Mas o papo aqui é outro, Antes Que o Mundo Acabe em Mel não está vendendo essas paradas.

Na crueza do bumbo e caixa, em tom de recusa e afirmação, o rapper dispara: “Não me diga jamais” e “Nós vai fazer acontecer”, falas de uma juventude que luta por autonomia sem abrir mão de seus princípios e caminhadas em construção.

“Seja você sua própria propriedade, sua própria arte, sua própria fonte”. Em meio à pasteurização do mercado musical, Kyke valoriza a autenticidade como princípio e prática, uma forma de mostrar o valor de sua existência para si próprio, para seus parceiros e para seus críticos em meio ao pertubador cenário tecnologico que promete, mas oprime.

Vícios, ciclos tóxicos e medos na cadência do beat condensam a batalha interna que atravessa todo o disco. Em vez de romantizar a superação, ele a encara com sobriedade e cuidado.

Antes Que o Mundo Acabe em Mel é um EP que marca posição.  Kyke Fortes é mais um que tenta resistir (verbo sempre presente na cena) e mostrar o rap que está por vir. Isso não depende apenas dele. Ele sabe. Aperte o play. Ah, esqueci de citar as participações do disco: Meno Npr, DJ Noé, Cassol, 808 Luke, Pete Mcee, Teaga, e Riff. Agora pode apertar o play!

Jair dos Santos (Cortecertu) passou a fazer parte da Equipe do Bocada Forte em 2001 como colaborador e rapidamente se tornou um dos editores e principal criador de conteúdo. É pesquisador, DJ, compositor, beatmaker e ex-instrutor da Associação Amigos da Molecada da Vila Santa Catarina (bairro da zona sul de São Paulo). Trabalhou na pesquisa de imagem e de texto no DVD "1000 trutas, 1000 tretas", do grupo Racionais MC. Foi colunista do jornal Brasil de Fato e pesquisador iconográfico para a revista Caros Amigos, no livro Hip Hop Brasil. Colaborador da Revista 451. Foi coordenador da digitalização do acervo do Banco de Dados da Folha de Paulo.