Memória BF | O retorno do Boom Bap aconteceu há 30 anos e nunca mais sumiu

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Quando KRS-One decidiu lançar seu primeiro álbum solo e decretar o fim do Boogie Down Productions (BDP) como um grupo de Rap (se manteve apenas o coletivo de artistas), ele tinha como questão de honra mostrar para a indústria que ele ainda era relevante. O álbum ‘Sex & Violence’, último do BDP, mesmo sendo muito bom, com faixas clássicas, não teve um bom retorno em vendas e pra indústria é só isso que importa. KRS-One e o BDP tem uma história repleta de polêmicas e contradições, algumas até acabaram influenciando negativamente na aceitação por parte do público, mas quando o assunto é o seu talento para fazer Rap, ele é quase uma unanimidade. ‘Return of the Boom Bap’, mesmo sendo um álbum solo, ainda tem muito do BDP. Para mostrar o que queria dizer com esse retorno ele chamou para somar no projeto DJ Premier, o parceiro perfeito.

Assista ao vídeo do primeiro single do álbum

Existem aqui no Brasil algumas interpretações totalmente distorcidas e equivocadas sobre a estética ou textura do Rap no estilo “boom bap”. Há até os que dizem que o Rap feito assim é “mais consciente”, minha nossa senhora do boom bap, dizem até o absurdo redundante do “rap de mensagem”. Por aqui, há pouco tempo, um grupo de Rap lançou uma música inspirada no título desse álbum e cometeu um “sacrilégio”. Além do beat não ter nada de boom bap, convidaram para a música e o vídeo um dos melhores DJs do mundo (DJ RM), mas sequer citaram o nome dele na música e nem colocaram na descrição do vídeo.

Ouçam o álbum do KRS-One e vejam como o DJ é tratado, a abertura é feita por um DJ, tem DJ em quase todas as faixas, seja na produção ou com scratches e colagens, sem contar as vezes em que os DJs são reverenciados nas letras e ainda tem voz em algumas faixas.

Assista ao vídeo do clássico “Sound of da police”

O álbum foi lançado em 28 de setembro de 1993, pela Jive e foi gravado no templo do boom bap, o D&D Studios. São 14 faixas e as produções estão distribuídas entre o próprio KRS, DJ Premier, Showbiz, DJ Kid Capri e DJ Norty Cotto. Foram lançados apenas dois singles que estão nesse álbum, o da faixa “Outta here” foi o primeiro e o outro foi um dos maiores sucessos da carreira do MC do Bronx, a música “Sound of da police”. O lado B desse single, a música “Hip Hop vs Rap” acabou não entrando no disco.

Em 2016 foi lançada uma reedição desse álbum em vinil duplo azul, com a inclusão da faixa “Hip Hop vs Rap”, o instrumental da faixa título, junto com um compacto, também azul, que trazia as faixas “Sound of da police remix” e “Mortal thought (I must rock the mic, Kenny Parker remix)”.

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Quando essa fórmula de fazer Rap começou a ser feita, valorizando a participação dos DJs, utilizando samples, com a presença forte e marcante do bumbo e da caixa ela jamais ficou ausente. Esse Rap pode ter sumido dos “top qualquer coisa” que a indústria cria, o que não quer dizer nada, pois ele se mantém até hoje. Quando KRS diz na abertura “nós estaremos aqui para sempre” não é à toa e não é apenas sobre esse estilo de Rap, mas sobre toda uma Cultura que vai existir e resistir independente do mercado, da indústria e seus artistas artificiais.

Ouça o álbum completo

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