Memória BF | Common Sense, a ‘Ressurreição’ de um dos maiores MCs da Cultura Hip Hop

Publicado pela primeira vez em 08.10.2019 com o título 'Memoria BF | Common e os 25 anos de sua 'Ressurreição', última edição em 04.10.2022.

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Capa do álbum

Há poucos dias falamos sobre o lançamento do primeiro disco do Common, o MC responsável por colocar a cidade de Chicago no mapa do Rap. O fato é que em outubro de 1994, quase que na mesma data de lançamento do seu primeiro álbum em 1992, ele lançou o seu segundo disco, ‘Resurrection’. Lançado no dia 04 de outubro, esse eterno clássico do Rap, completa mais um ano hoje.

Como já dito no post sobre o primeiro disco, ‘Can I Borrow a Dollar?’ não foi um sucesso e nem chegou perto de ser um clássico. Durante algum tempo, para muita gente o ‘Resurrection’ foi considerado como o “primeiro álbum” de Common Sense. O próprio MC reconhece o fracasso comercial da sua estreia e por isso o título “ressurreição”, confira o que ele falou sobre o assunto:

“Quando comecei a trabalhar em ‘Resurrection’, pensei: ‘Cara, acabei de lançar um álbum e poucas pessoas sabiam que ele havia sido lançado. Quero que as pessoas saibam que estou aqui, sou um MC e sou novo’.”

Assista ao vídeo de ‘Resurrection’

A concorrência na Golden Era não era fácil, o nível era muito alto, por conta disso os nomes, as músicas e os discos que se destacaram naquela época, até hoje são lembrados e reverenciados. A fala do próprio Common prova o quanto era difícil superar ou se igualar a A Tribe, De La Soul, Nas, BIG ou Gang Starr, ainda mais sendo de uma cidade sem nenhuma tradição no Rap. Sobre isso ele ainda disse:

“Lembro-me de olhar para a capa do ‘Midnight Marauders’ do A Tribe Called Quest e tinha todos os caras jovens e novos como The Pharcyde, Souls of Mischief, Del The Funkee Homosapien, além de todos os rappers clássicos como Extra P e De La Soul. Não me pediram para estar naquela capa, então foi tipo, ‘Cara! Não fui convidado para o grande jogo’. Eu queria ser incluído como parte do próximo movimento de artistas. Eu senti como se tivessem esquecido de mim.”

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Para a produção do álbum, assim como no primeiro, ele trabalhou com NO I.D. e The Twilite Tone. Todos eles mudaram seus apelidos e ressurgiram. Common eliminou o ‘Sense’, NO I.D era Immenslope e Twilite Tone era Ynot. O fato de todos serem ilustres desconhecidos para grande parte dos artistas e também do público, prova que conseguiram vencer com trabalho, talento e perseverança. Até porque, esse álbum também não foi um grande sucesso comercial. A The Source, maior revista especializada do gênero, a principal na época, classificava os lançamentos com microfones, a nota máxima eram 5, Common recebeu 3 e meio. O tempo passou e em 1998 a mesma revista incluiu ‘Resurrection’ entre os 100 melhores álbuns de Rap.

Assista ao vídeo de “I Used to Love H.E.R.”

Mesmo não tendo sido um grande sucesso, foi ele que trouxe Common, a cidade de Chicago e os produtores para os holofotes. Foi por conta desse disco que o MC veio ao Brasil em 1999 se apresentar em São Paulo no Festival DuLôco. O título escolhido por ele funcionou, não só para ele, mas para todos os envolvidos. “Eu até chamei o álbum de Ressurreição, porque, de várias maneiras, senti como se estivesse morto para algumas pessoas. Algumas pessoas não sabiam sobre mim. Foi como, ‘Eu quero despertar as pessoas para quem eu sou e provavelmente estou vindo de um lugar que elas nem conheciam. Não apenas Chicago, mas Chicago e eu somos um artista que eles não conhecem’.” Disse Common, em 2011, quando o álbum completou 17 anos.

Contra capa do álbum

O disco traz 15 faixas e alguns interlúdios que vão criando um elo entre as músicas. Para quem tem o vinil, a divisão entre os dois lados fica mais clara – “East Side of Stony” é o lado A (faixas 1 a 7) e “West Side of Stony” é o lado B (faixas 8 a 15). Ele faz referência a  Avenida Stony Island, que cruza o lado sul de Chicago, onde ele cresceu. A única participação é do pai de Common, Lonnie “Pops” Lynn na última música, “Pop’s rap”. A partir daí, seu pai esteve presente por 7 discos consecutivos, até o ‘The Dreamer/The Believer’ (2011). O DJ responsável por todos os scratches e colagens foi o Mista Sinista (ex-The X-Ecutioners). Foram lançados apenas dois singles, ambos com vídeos, que se tornaram dois grandes clássicos. Um é a faixa título e o outro foi a declaração de amor ao Hip Hop “I Used to Love H.E.R.”, lançado alguns dias antes do lançamento do álbum.

Por conta da música “I used to love HER” e algumas declarações sobre o quão nocivo o gangsta Rap era, teve uma pequena treta com Ice Cube que respondeu na música “Westside Slaughterhouse”, do seu projeto West Side Connection. As músicas ficaram, mas a treta foi resolvida com a ajuda do líder da Nação do Islã, Louis Farrakhan, sem precisar que houvessem mais músicas em resposta. Common amadureceu, reviu seus conceitos, se espelhou no Rap que estava em evidência naquele momento e começou ai a sua desconstrução para chegar no MC, ator e escritor que conhecemos hoje. Para ressurgir, nada como um bom Rap misturado com muito Jazz.

Confira a Mix Tape Especial de 25 anos, com os samples usados no disco

Ouça o álbum completo

[+] Clique aqui e confira um review faixa a faixa nas palavras de Common e dos produtores

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