Phantom DK lança novo álbum e fala sobre sua parceria com DJ Samu
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Capa produzida por Ramon T.H.L.
Phantom DK atravessa décadas no Rap brasileiro, com uma trajetória iniciada nos anos 1990, marcada pela resistência cultural e pela construção de uma identidade própria dentro do movimento Hip-Hop. Seu novo trabalho, Alquimia Rústica, surge como mais um capítulo dessa caminhada, reafirmando uma estética que não abre mão do boombap e da pesquisa de timbres, mas que também dialoga com as tretas contemporâneas.
Produzido em parceria com DJ Samu, o álbum se ancora na força da MPC e na técnica dos scratches. Essa escolha não é saudosista, mas uma decisão consciente de trabalhar com ferramentas que carregam memória e textura.
Entre feats, colagens e participações nacionais e internacionais, o disco costura narrativas que transitam entre crítica social, cotidiano e espiritualidade. Ouça Alquimia Rústica e confira a entrevista que Phantom DK concedeu ao Bocada Forte:
BF: O título Alquimia Rústica sugere uma mistura de delicadeza com força crua. Qual foi a inspiração por trás desse nome? Ele reflete algum contraste específico que você quis explorar no álbum?
Phantom DK: O disco tem este nome e faz menção a uma tradução do trabalho artístico realizado de forma rude, pois o produtor DJ Samu produziu todos os beats em sua MPC usando disquetes com timbres antigos. A abordagem dos scratches também condimenta essa estética sonora. As 11 faixas são boombaps, todas com scratches e colagens de rap nacional. As letras abordam diversos temas sociais, mas com ênfase em nosso cotidiano vivido dentro das metrópoles esmagadoras.
BF: Você escreveu esse álbum de uma só vez ou foi sendo construído ao longo de um período? Houve um momento ou faixa que desencadeou o restante do processo criativo?
Phantom DK: A fita foi a seguinte: já tínhamos a vontade de trabalhar juntos, Phantom e DJ Samu. Então estreitamos esse laço, e ele me enviou de 7 a 8 instrumentais para construção de um single em parceria. Na época estava de férias e escrevi em todos os beats. A partir daí surgiu a ideia de fazer um EP juntos. Com o tempo adicionamos mais algumas tracks e consolidamos o nome Alquimia Rústica, para que fosse lançado como um álbum em parceria.
BF: Como você definiria a estética sonora do disco? Como foi a parceria com o produtor?
Phantom DK: Defino a estética sonora como algo rústico, com timbres diferenciados para os dias de hoje e scratches afiados que contribuem em cada rima desta obra. Quando você escuta minuciosamente, por exemplo nos fones, percebe que a timbragem e a construção remetem ao rap dos anos 90, algo que poucos fazem hoje. A parceria foi fortalecedora. Samu me procurou para produzir uma faixa para o álbum póstumo do nosso irmão Melk, que sempre dizia querer uma música comigo. Infelizmente não aconteceu em vida, mas espiritualmente estamos conectados. A humildade e o talento de DJ Samu solidificaram ainda mais essa parceria, que resultou neste álbum.
BF: Quais são os principais temas abordados nas letras? Há alguma mensagem central ou narrativa que atravessa o álbum como fio condutor?
Phantom DK: O álbum não tem uma ideia principal. São vários temas, na maioria relacionados à vivência social e às adversidades cotidianas. Sempre fui um MC atento às causas do movimento, e muito do que produzi em termos de rimas adentra universos e ambientes que também não são casuais.

BF: Os feats foram escolhidos por quais critérios? Quanto tempo demorou para retornarem com suas rimas?
Phantom DK: Procuro sempre fazer feat com quem ainda não trabalhei, embora às vezes repita. Neste CD, as parcerias aconteceram assim, com exceção de Fler e Pateta 43, que trabalham com DJ Samu e, em um dia de estúdio no QG dele, ouviram algumas tracks e resolveram participar voluntariamente. Isso foi o máximo, pois são irmãos do rap que respeito muito. As participações aconteceram de forma natural e contribuíram positivamente. Grande parte das vozes foi gravada no Estúdio Buero Beats, do DJ Rodzilla, e outra parte no Ibotirama Records, do João Bazilio. Vale salientar que a parceria entre mim e Samu foi feita à distância, já que ele mora em Londrina e eu em São Paulo, mas o resultado superou as expectativas.
BF: Tem alguma faixa do Alquimia Rústica que você considera mais importante ou pessoal?
Phantom DK: As faixas são como filhos, o amor por cada track é imenso. Mas destaco a faixa Algoritmo, em parceria com Mano Fler. Ela aborda temas atuais da internet, como exploração sexual na deep web, casas de apostas, ódio gratuito entre internautas, inteligência artificial, entre outros.
BF: Como as colaborações ajudaram a moldar o disco?
Phantom DK: As colaborações foram muito importantes. São artistas que, de alguma forma, têm ou tiveram vivência comigo ao longo dos anos. Poder dividir uma faixa com eles foi grandioso. Há participações de artistas de vários estados do Brasil e também a internacional de GusUmo, do México. Dividir conhecimento com esses artistas foi incrível. A palavra é gratidão.
BF: Como foi concebida a capa ou a identidade visual do álbum? Ela dialoga com alguma inspiração literária, visual ou cultural específica?
Phantom DK: Em minhas andanças pelo Brasil, conheci Ramon THL, do grupo Sem Meia Verdade, de Minas Gerais. Conversamos sobre o disco e, além de firmarmos parceria sonora, ele sugeriu desenvolver a capa. A partir de um compilado de ideias, chegamos a algo que remete à alquimia, uma transformação musical prestes a ser lançada no universo. O resultado transmite a essência da obra Alquimia Rústica.
BF: Quantos discos, EPs e mixtapes você já lançou durante toda sua carreira?
Phantom DK: Fica difícil lembrar todos, já que comecei nos anos 90, mas cito alguns importantes:
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8 álbuns solos
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2 discos com Dragões de Komodo
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2 com Norowest Niggaz
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1 com KL Jay (Rotação 33)
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1 com Sandrao e Dom Pachino (Villa Mixtape)
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1 com Kuniva D12 (Digital Dinasty)
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1 com Killa Priest (PriestHood)
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Cypher Rua 7, com quase 4 milhões de views no YouTube
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2 coletâneas de vinil pela Ibotirama Records
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3 livros: As Ruas Diluídas em Ritmo e Poesia Vol. 1 e 2, e PhantomDK em Mozambique (livro de fotos)
Além de inúmeras parcerias nacionais e internacionais.
BF: Poesia Rústica representa uma ruptura ou uma continuidade das suas ideias e estéticas?
Phantom DK: Alquimia Rústica representa a continuidade de um trabalho árduo ao longo dos anos, colocando o rap dentro do hip hop no topo deste plano universal. Essa parada salvou nossas vidas e continua influenciando pessoas no mundo inteiro. Não é o fim, tenho disposição para produzir muito mais arte. Isso está na minha alma e é combustível para a vida. Agradeço a todos que contribuem para que isso aconteça. Um som não é só um som, um som muda uma vida.





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