Common abre as portas para o amor em seu 12º álbum

Última edição realizada em 18 de setembro de 2019

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Capa do álbum

Depois de tantos lançamentos, um dia antes do mês de agosto acabar, Common lançou seu décimo segundo álbum, ‘Let Love’. A ideia de um novo disco surgiu a partir do seu livro de memórias,“Let Love Have the Last Word: A Memoir”.

Assim como KRS One, Common é o Hip Hop na sua essência. Para ter um parâmetro da sua grandiosidade como MC, eu só consigo ter como referência o KRS One. Seu Rap sempre foi acima da média, ele é poeta, compositor, MC, ator, ativista e agora oficialmente escritor. Não li o livro, mas li muitas matérias e entrevistas sobre. O disco não é uma adaptação do livro, como ele mesmo diz, é apenas outra forma de expressar algumas coisas que ele não conseguiu passar no livro.

Se você não sabe inglês, faça um favor para você mesmo, procure um tradutor online, existem vários, traduza as letras. É a essência da afirmação “o Rap salva”, a abertura do disco é como um prefácio, Common deixa muito claro a que veio e aproveita para apresentar os responsáveis pela produção do disco. O título da música é “Good Morning Love”, tem a participação de Samora Pinderhughes, um dos produtores, que simplesmente canta muito! Em um trecho da letra, Common diz:

“O jubileu de um novo eu / Dando aos meus inimigos algo novo para ver / Minha comunidade, eles estão me alimentando / Na nossa luta, há uma unidade… / …Esse rap aqui é elogio do medo / Fuga de quartos com taças de vinho / Só mais uma muleta pelo meu quebrantamento / Um termo que recebi do meu terapeuta / Como negro, sinto que deveria estar falando isso / Na quebrada eles dizem que somos loucos e abandonamos / Mas precisamos de nossos filhos e casamentos / velhos amigos dizem que não fazemos isso / Mas cuidar de si é o novo preto” (Assista Samora e Common no NPR Music Tiny Desk Concert com seu projeto paralelo, August Greene)

Assista a audição do disco com Common comentando faixa a faixa

O MC dá bom dia ao amor e segue fechando uma trilogia de músicas dedicadas ao seu amor ao Hip Hop, que começou com I used to love H.E.R, passou por The Next Chapter (I Still Love H.E.R) e aqui termina com o single “HER love”. O instrumental é de J Dilla, tem participação de Dwele e Daniel Caesar. Ele resgatou a raíz da construção de um Rap, o instrumental não foi feito para essa música e Common não queria usar, mas Karriem Riggins, grande parceiro de Jay Dee e um dos produtores desse álbum, lembrou que Dilla fez o instrumental para o próprio Common, então ele resolveu usar. Logo após a faixa, há um interlúdio com a participação de Dwele, que antecede o single “Hercules” com a participação de Swizz Beatz e que teve dois vídeos lançados, ambos já comentados aqui no BF.

Assista ao vídeo de “HER love”

O disco também tem uma história fictícia de amor, ciúmes, traição e violência, a track “Fifth Story” com a participação essencial de Leikeli47. Em “Forever Your Love”, com participação de BJ The Chicago Kid, o artista deixa registrado o amor, respeito e reconhecimento para a sua mãe, Mahalia Ann Hines. Na faixa “Leaders (Crib Love)” Common relembra e homenageia os líderes da sua cidade, Chicago. É a única música com participação de um DJ, os scratches ficaram por conta do multicampeão e mais jovem campeão do DMC, DJ A-Trak – em 1997 ele foi campeão do DMC com apenas 15 anos.

Assista ao segundo vídeo da música “Hercules” e leia o post sobre a faixa

Em “Memories Of Home”, com mais uma participação de BJ The Chicago Kid e Samora Pinderhughes, o rapper fala de suas lembranças quando criança, passando pela separação de seus pais, lembra também de amigos e parentes presos e assim como no livro, o artista toca no assunto do abuso que sofreu por parte de um primo, quando tinha 9 ou 10 anos. Common faz Ritmo e poesia como ninguém, ele rima:

“Há um velho ditado: ‘Não chore, sobreviva’ / Enquanto eu continuava construindo, havia guindastes no céu / Certas memórias que meu cérebro negaria / Uma lágrima jorrou nos meus olhos, eu tive medo de responder / À dor que estava chamando, veio do céu / Um primo mais velho, é claro que confio nele / Mas ele estava tocando onde ele não deveria estar tocando / O que uma criança deveria fazer?”

A próxima é “Show Me That You Love”, outro single que já comentamos aqui no BF quando o vídeo foi lançado. Tem a participação de Jill Scott e novamente Samora, é ideia de pai pra filha, pode até ser interpretada como um pedido de desculpas. Depois de tanto amor rimado de várias formas, ele precisava deixar uma música dedicada ao seu amor por sua parceira, mesmo que imaginária, ele fez isso na penúltima música “My fancy free future love”. Não me ligo muito nas fofocas, mas, até onde sei, ele não tem esposa, estava há um tempo atrás namorando com Angela Rye. Sua fé cristã e a religiosidade está em praticamente todas as músicas, sem fanatismo, com o sentido real da mensagem que um profeta deixou. Sendo assim, ficou para o final do disco a música “God Is Love”, o refrão ficou por conta dos cantores gospel Leon Bridges e Jonathan McReynolds. Na letra, Common fala de Deus em outras religiões e crenças, demonstrando o respeito e a unidade que citou em outras músicas.

Assista o vídeo de “Show Me That You Love”

É muito amor, muita mensagem positiva e é talvez um dos discos mais revolucionários do rapper. Afinal, vivemos tempos em que falar de amor é ser revolucionário ou, para alguns, é até ser comunista! O álbum é arrependimento, reconhecimento de erros, fé, responsabilidade, compromisso, é se olhar no espelho e falar verdades pra si mesmo, mas com uma plateia escutando, sem se preocupar com julgamentos, há apenas preocupação em ficar bem consigo mesmo e com os seus. Common entrega para o público não apenas boas letras e poesia, o disco é uma obra prima de Rap, Jazz, Soul e R&B, musicalmente é completo. Como ele diz na faixa de abertura, o álbum foi arquitetado por ele, Karriem, Samora e Boom (Burniss Earl Travis II), com uma pequena, mas significativa participação de J Dilla.

Ouça o disco

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