Confira a entrevista com La Dame Blanche, que se apresenta em São Paulo
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Enquanto nas redes sociais o atraso e a várzea de conteúdo relacionado ao Hip-Hop predomina, sigo em frente. Afinal, pra frente é que se anda! São tantas coisas boas acontecendo na prática da Cultura Hip-Hop no dia a dia, que não tenho tempo pra assuntos rasos e totalmente desnecessários pro progresso da cena.
Uma dessas coisas boas foi a ponte feita pelo meu parceiro Lucas do Sol Y Sombra pra trocar uma ideia com Yaité Ramos Rodriguez, hoje conhecida mundialmente como La Dame Blanche. No ano passado, já era pra esse papo ter acontecido de forma presencial, numa ponte feita pela Amanda Negrasim e DJ Llobato, mas acabou não rolando.
Ela desembarca na próxima semana em São Paulo para a sua quarta visita ao Brasil e uma apresentação inédita no Sol Y Sombra, no dia 11 de setembro. A artista cubana, que vive na Europa desde 1998, lançou seu primeiro álbum como La Dame Blanche em 2014, o disco ‘Piratas’. De lá pra cá, foram lançados mais 4 álbuns de estúdio, diversos singles, um EP e inúmeras colaborações com uma grande diversidade de artistas e estilos musicais. Sua conexão com o Brasil é muito forte, em suas passagens por aqui ela já esteve em Recife, Salvador, Brasília e São Paulo.
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No álbum ‘Bajo Del Mesmo Cielo’, lançado em 2018, Rincon Sapiência participa da faixa “El sumo sacerdote”. Seu último álbum, ‘Atómica’, lançado em 2023, traz mais uma colaboração brasileira, dessa vez com a artista Amanda Magalhães na faixa “Mata sede”.
Talvez sua maior conexão por aqui seja com a MC brasileira Amanda Negrasim, com quem ela gravou uma faixa em 2017, a música “Despertar” produzida pelo DJ Tony Di, que saiu no EP da Amanda ‘Poder da Chama, que Xana’. Além da colaboração, Amanda também fez participações em shows com La Dame Blanche e, em 2024, foi lançado o vídeo dessa música, gravado na zona sul de São Paulo, sob a direção e produção de Anna Julia Bitelli e Vras77.
Yaité canta, rima, compõe e toca flauta transversal, sua origem e formação é muito ligada à música clássica, além da herança familiar e regional que abrange as músicas tradicionais cubanas – ela é filha do trombonista e diretor musical Jesus Aguaje Ramos (Buena Vista Social Club e Afro-Cuban All Stars) e sobrinha de Mayito Rivera, que foi integrante da tradicional banda cubana Los Van Van.
Em entrevista ao Bocada Forte ela falou um pouco sobre o uso de tantas referências em seu trabalho, a admiração pelo Brasil, trabalhos futuros e avisou ao público – “Darei a vocês toda a minha energia, na esperança de receber a de vocês.”

Bocada Forte: Você tem uma formação musical clássica, mas também vem de uma família da música tradicional cubana e ao mesmo tempo você mistura diversos estilos com muita naturalidade. Como você constrói toda essa mistura?
La Dame Blanche: Consegui essa mistura graças a esse interesse em buscar minha própria identidade musical, um terreno muito pessoal onde meu DNA, o que aprendi e o que vivi se misturam.
BF: O álbum Atómica, é de 2023, mas ele ainda te impulsiona em turnês pelo mundo. O que ele representa na sua trajetória?
LDB: Atómica, assim como meus álbuns anteriores, é de fato minha expressão mais direta e completa, meus segredos gritados ao mundo. Eles interferem na minha vida e na minha carreira, como uma clave de sol em uma partitura. Como sempre digo, compor músicas é a terapia que equilibra minha loucura.
BF: Todas as letras das suas músicas são composições próprias ou você já gravou letras de outras pessoas ou já fez regravações?
LDB: Não gravei letras de outros artistas, sempre faço a minha parte. O que é verdade é que já dei alguns versos para outros artistas.

BF: Por que a escolha do nome La Dame Blanche?
LDB: Este nome carrega consigo uma rebeldia particular, como pessoa negra. É um debate aberto ao qual sempre posso responder com um caloroso “Eu sinto vontade” ou “Sou livre para me chamar do que eu quiser”. E principalmente por sua profunda espiritualidade como uma homenagem aos meus ancestrais e aos que partiram.
BF: Com a mistura de tantos estilos musicais e culturas diferentes, como você classificaria a música que faz?
LDB: Fiz o meu melhor para evitar ter que categorizar minha música, mas deixo o trabalho duro para você. Eu diria Hip-Hop urbano cubano, e para o mundo, aleluia.
BF: Há 23 anos atrás eu fiz uma entrevista com Edgaro do grupo Doble Filo, um dos pioneiros do Rap cubano, e a nossa comunicação era muito difícil, poucas pessoas no Brasil tinham informação sobre o Rap em Cuba. Você saiu de Cuba no final dos anos 90, você acha que se tivesse ficado em Cuba seu trabalho teria a mesma projeção internacional?
LDB: Claro que não, não teria o mesmo reconhecimento, muito menos o reconhecimento internacional. Em Cuba, confesso, talvez La Dame Blanche não existisse.
BF: Cada vez mais vemos no mundo o avanço de governantes e ideais de extrema direita e Cuba é historicamente colocada por essas pessoas como um lugar ruim, um inimigo. Como foi pra você, mulher negra, cubana, uma artista que fala sobre suas lutas, ancestralidade e espiritualidade, viver na Europa no começo dos anos 2000 e como é hoje?
LDB: Para mim, foi uma grande oportunidade em todos os sentidos e, por mais difícil que tenha sido, foi minha rota de fuga e um golpe de sorte, um golpe de sorte que meu povo cubano infelizmente ainda busca.
BF: Quantas vezes você já esteve no Brasil, quais cidades visitou e o que te tocou mais profundamente na cultura brasileira?
LDB: Esta é a minha quarta vez no Brasil. Já estive em Recife, Salvador, Brasília e São Paulo. Quero conhecer o Rio, voltar para o norte e adoraria viajar bastante pelo Brasil. O que me comove no Brasil é a sua beleza natural, a semelhança com a minha terra natal, os seus ritmos e culturas, a sua bela negritude e força, os nossos santos, a quem ambos chamamos pelos mesmos nomes.

BF: Eu particularmente não utilizo as plataformas de streaming de áudio mais conhecidas. Conheci o seu trabalho no bandcamp, que é a plataforma que mais utilizo. O que você pensa sobre a forma que as grandes plataformas trabalham?
LDB: As diversas plataformas nos abriram uma porta para o mundo. Hoje, elas se tornaram um elemento essencial.
BF: Você tem algumas músicas com a participação de brasileiros, como Rincon, Amanda Magalhães e Amanda Negrasim. Você já conhecia esse e essas artistas antes de vir ao Brasil, como foram feitas essas conexões?
LDB: Conheci Rincon e Amanda Negrasim no Brasil. Foram dois encontros óbvios, como se nos conhecêssemos desde sempre. Amanda Magalhães e eu unimos nossas vozes em um abraço fraterno, mesmo sem nos conhecermos pessoalmente ainda. Tenho muito orgulho dessas colaborações e espero ter a alegria de me juntar a muitos outros artistas brasileiros.
BF: Quais são seus próximos projetos? Podemos esperar um álbum novo ou novas colaborações em breve?
LDB: Estou finalizando um projeto familiar maravilhoso que lançarei em breve e, ao mesmo tempo, compartilharei músicas e canções dos meus encontros ao redor do mundo.
BF: O que o público brasileiro pode esperar dessa sua próxima passagem por São Paulo?
LDB: Espero de todo o coração um público que aceite, compreenda e aprecie cada nota. Darei a vocês toda a minha energia, na esperança de receber a de vocês.
Com amor, La Dame Blanche.





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