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OPINIÃO | 6 lições que José “Pepe” Mujica deixa ao Hip-Hop, por Camilla Cidade

OPINIÃO | 6 lições que José “Pepe” Mujica deixa ao Hip-Hop, por Camilla Cidade

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“Pobres não são os que têm pouco. Pobres são os que querem infinitamente mais e nunca estão satisfeitos.”

O mundo perdeu uma voz rara. Faleceu José “Pepe” Mujica, ex-presidente do Uruguai, camponês, guerrilheiro, homem público e símbolo vivo de uma ética que desafia o poder. Mujica partiu, mas sua postura permanece como farol. Para nós, que somos da cultura do Hip-Hop, da luta e da rua, ele deixa não só memória, deixa ensinamento:

1 – Coerência é o primeiro ato político
Mujica ficou conhecido por viver de forma extremamente simples, mesmo sendo presidente. Ele doava cerca de 90% de seu salário para causas sociais e vivia em sua chácara, dirigindo um Fusca.

→ O Hip-Hop, nascido da marginalidade e do enfrentamento ao sistema, pode se inspirar nisto para fortalecer a coerência entre fala e vivência. Ou seja, viver o que se rima, praticar a revolução no cotidiano e não apenas no palco.

2 – Combate ao ego e o estrelismo
Mujica sempre recusou o culto à personalidade. Era um político que buscava horizontalidade e diálogo, mesmo em espaços de poder. Pepe rejeitou o estrelismo. Nunca quis ser símbolo, mas acabou sendo — exatamente por ser verdadeiro.

→ Em tempos de vaidade turbinada pelas redes sociais, o Hip-Hop pode aprender com Mujica a colocar o coletivo no centro. O protagonismo pode ser múltiplo. Brilhar junto é mais difícil, mas mais justo.

3 – A simplicidade é radical
A forma direta e simples como Mujica se comunica com o povo, o tornou uma figura acessível e respeitada.

→ O Hip-Hop pode se relembrar de que a linguagem simples e verdadeira é sua origem — e que ela tem poder revolucionário. Falar como o povo, para o povo, sem rebuscamentos desnecessários.

4 – Ética anticapitalista

“Pobres são os que precisam de muito.”

Mujica sempre criticou o consumismo e a lógica capitalista desenfreada, chamando atenção para a destruição do planeta e da convivência humana.

→ O Hip-Hop, especialmente em suas vertentes mais conscientes, pode se alimentar disso para resgatar a crítica antissistêmica, indo além da ostentação, para propor outros modelos de vida.

5 – A escuta como ferramenta política
Mujica não falava por cima. Escutava, dialogava, aprendia. Mesmo vindo da guerrilha, foi um pacificador.

→ O Hip-Hop pode aprender que escutar as bases, as quebradas, os territórios é também fazer política. DJs, MCs, B-Boys/B-Girls e Grafiteiros (as/es) têm um papel central nessa escuta ativa.

06 – Revolução através de ternura

“Se você não tiver uma causa, a sociedade vai te enquadrar e você vai passar a vida pagando contas”

Apesar de sua trajetória na luta armada (como guerrilheiro Tupamaro), Mujica sempre defendeu a paz, a conciliação e a ternura como estratégia política.

→ O Hip-Hop, que muitas vezes expressa revolta, pode também refletir sobre a ternura como força radical — principalmente no cuidado com os seus, com ações educativas, nos projetos comunitários e ao por em voga as pautas filiadas; o combate ao racismo, ao machismo, ao capacitismo e ao preconceito e violência contra pessoas lgbtqiapn+ e combate a gordofobia. No objetivo de que a rua seja mesmo um local mais inclusivo. E o Hip-Hop é a essência da rua, chão de todos os pés.

Mujica se foi, mas sua postura permanece.

Para o Hip-Hop se fortalecer como cultura e pilar de inclusão, que nós saibamos valorizar a sabedoria deste velho uruguaio; viver é mais do que vencer.

Pepe vive — em cada freestyle consciente, na consciência de classe, em cada roda cultural que transforma os jovens ao entorno, em cada linha que se escreve com alma e compromisso. É isso. ❤️

Sugestão para conhecer um pouco da vida simples de Pepe

Camilla Cidade
13/05/2025