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O rap deve ser contra a PEC da Blindagem

O rap deve ser contra a PEC da Blindagem

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Papo reto: o Bocada Forte se posiciona contra a chamada PEC da Blindagem (também apelidada de PEC da Impunidade) aprovada em segundo turno na Câmara dos Deputados, com 344 votos a favor e 133 contra. A proposta exige autorização da Câmara ou do Senado para que o Supremo Tribunal Federal (STF) possa processar deputados ou senadores, ampliando privilégios e dificultando a responsabilização de parlamentares. Para nós, trata-se de um retrocesso grave para a democracia e para a luta contra a corrupção no Brasil.

A recente aprovação desta PEC no Congresso Nacional expôs mais uma vez a distância entre representantes e representados no Brasil. Enquanto trabalhadores e trabalhadoras aguardam medidas que possam melhorar o cotidiano, como a correção da tabela do Imposto de Renda, o Legislativo correu com velocidade recorde para aprovar um projeto que garante autoproteção a parlamentares contra investigações, processos e prisões,  transformando o Congresso em um bunker de privilégios. E ainda avançaram na pauta da anistia para os golpistas.

Essa realidade não ficou restrita às análises políticas ou jurídicas. Nas redes sociais, o debate chegou ao rap, escancarando tensões antigas e atuais sobre o papel da cultura frente ao sistema. Qual deve ser a postura do rap diante da política?

De um lado, o que propaga ideias de direita e flerta com a extrema direita, há quem sustente que o rap de hoje se transformou em palanque, servindo a determinadas correntes políticas e deixando de lado o caráter de contestação ampla que marcou sua origem. Para essa visão, a música teria perdido a função de despertar reflexão crítica, tornando-se ferramenta de manutenção de governos e ideologias. Está claro que essa corrente é contra os avanços das políticas públicas guiadas por ideias progressistas.

Segundo essa perspectiva, o rap deveria voltar a ser “contra todos” (tipo o discurso de um político condenado que conhecemos bem), atacando tanto os governantes do presente quanto os do passado e futuro, sem se alinhar a nenhum campo específico. O risco, dizem, é transformar uma ferramenta de denúncia em mera reprodução de discursos de ódio e manipulação.

Do outro lado, cresce a defesa de que o rap nunca foi neutro, tampouco “contra tudo e todos” de maneira indistinta.

Pokas: O BF, ao contrário da grande parte da mídia do rap e das páginas que apenas seguem o fluxo, sempre reafirma que o rap nasceu como voz da periferia contra o sistema de exploração, racismo estrutural e violência do Estado. Sabemos que assumir um posicionamento combativo diante das contradições políticas e sociais é  a continuidade de sua essência. Não esperamos declarações de artistas. Se eles não falam, a gente fala.

A neutralidade é um engano perigoso. Falar “contra o sistema” de forma genérica, sem nomear os verdadeiros esquemas construídos pelos inimigos, equivale a suavizar a luta. Afinal, é o capitalismo que concentra riquezas, naturaliza a desigualdade e se protege através de leis como a PEC da Blindagem. Negar estes fatos é reforçar a ordem dominante.

Velha e nova escola

Enquanto parte do público mais antigo insiste em uma visão nostálgica de um rap “puro”, que criticava todos igualmente, parcelas das gerações mais jovens reconhecem a necessidade de direcionar a luta, apontar responsabilidades concretas e se alinhar a projetos de transformação social.

Esse embate mostra que o rap permanece vivo como espaço de conflito, mas também de construção política. Não existe espaço para neutralidade em um país marcado pelo racismo e pela desigualdade.

Dizer que o rap “se perdeu” porque hoje dialoga diretamente com pautas de esquerda e movimentos sociais é esquecer que sempre esteve nos protestos, nas ruas, nas lutas comunitárias. O que muda é o alcance, que hoje incomoda ainda mais porque a crítica se tornou visível, registrada e amplificada.

A recusa em reconhecer essa tradição de luta revela, muitas vezes, a influência do discurso hegemônico que tenta domesticar a cultura. O capitalismo e o racismo buscam neutralizar o rap, transformando-o em entretenimento inofensivo. A crítica ao suposto “palanque” serve, em última instância, para tentar silenciar a voz das periferias.

Quando o rap toma posição contra medidas como a PEC da Blindagem, não está servindo a governos, mas sim reafirmando sua vocação histórica em denunciar privilégios, dar nome às estruturas de opressão e alinhar-se com quem luta pela igualdade real.

É importante destacar que esse embate não é apenas musical. Ele reflete a própria disputa política do Brasil, onde setores tentam se blindar das consequências de seus atos, enquanto a maioria segue sem direitos básicos assegurados. 

Ou o rap se coloca como aliado da luta popular, apontando as engrenagens do sistema capitalista e racista, ou se rende ao discurso da neutralidade, que serve apenas para manter tudo como está. 

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