Bocada Forte – Desde 1999

Ainda Resistimos

Faz um tempo que venho compartilhando discos de Rap brasileiro nas minhas redes sociais. São trabalhos lançados em diferentes períodos, com artistas de diferentes partes do país e com estilos que vão do underground ao pop, passando pelas fusões com o rock.

Ao voltar meu olhar para o acervo do Bocada Forte, vem à minha mente todos os sonhos e lutas de uma geração que trabalhou no subsolo e ajudou a construir as bases da nossa cultura. Algo que, por uma série de motivos, foi desenvolvido longe dos olhos do mercado e suas regras.

Registrar essa história, falar sobre como o Rap foi crescendo em meio ao ambiente político de um país racista, violento e desigual não é nada fácil, principalmente neste momento de ascensão econômica de uma parcela dos representantes do gênero (dos seus sub-gêneros).

As plataformas digitais e as grandes corporações ditam as regras: Olhar para frente é preciso. Falar do início da cultura de rua é válido apenas se tivermos uma estratégia de marketing para dar legitimidade aos nossos projetos e ações. Um gancho, algo como os 50 anos do Hip Hop. Existe uma cena na base, mas ela não monetiza, não engaja, não tem números. Resumindo: é humana também, mas não interessa.

No Bocada Forte, sabemos bem. Não somos livres, escolhemos viver esta parte da cena, com uma série de compromissos ligados à Cultura Hip Hop. Não há como ignorar o vínculo que foi criado durante anos. Também não há como ignorar o quanto isso limita o nosso alcance.  Falar do que foi feito no passado não é saudosismo barato, não é ser guardinha. É valorizar todos os sonhos, trabalhos e lutas do início, do meio de tudo.

O tempo passa, novas formas e gêneros surgem, uma nova geração continua ou rompe com o que já foi feito. Sempre foi assim. Mas não podemos deixar tantos registros sociais, artísticos e culturais serem esquecidos.

Nossa história não pode estar guardada num museu em chamas. Isso é real, esse é o movimento. Num passado nem tão distante, o Hip Hop também foi chamado de movimento. Isso foi motivo de orgulho por muito tempo.

Se hoje os rumos, desejos, objetivos, necessidades e sonhos são outros, é porque houve uma base para essa atual realidade. Há algo muito errado em celebrar os 50 anos do Hip Hop apenas com os que são considerados vencedores, mas é isso que será feito em muitas reportagens e eventos promocionais patrocinados por grandes empresas e plataformas digitais.

Entretanto, a base continua existindo em meio ao cenário desigual e com poucas oportunidades.

Continuaremos contando outras histórias. Aos que não se importam, não atrapalhem nossa caminhada. Aos que se importam, valorizem, divulguem, colaborem e coloquem seu dinheiro no que vocês tanto dizem que é o real Hip Hop. Isso sim faz a diferença.

Apoiem a mídia alternativa, comprem os beats dos seus parceiros e parceiras, contratem os serviços dos manos e manas do Hip Hop. Adquiram roupas e outros acessórios de quem luta e acredita na cultura de rua. A ideia de a grana girar entre nós e não mandarmos tudo para as grandes plataformas e corporações ainda está longe de ser concretizada. Sabendo disso, o que faremos?

Bocada Forte 24 Anos. Desde 1999 e contando…

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