Foque no que te faz sorrir e aproveite o café

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Já passava das duas da manhã, o zumbido de um maldito mosquito impedia que o sono se embrenhasse nos seus pensamentos. Malditos mosquitos, pensava.

Uma hora mais tarde ele estava completamente cansado e sem sono. Cascata, como era conhecido, era um malandro à moda antiga, fazia seus trambiques, mas nunca machucou ninguém que não precisasse.

Apertou um beck, deu um pega e ficou observando o movimento no morro. Lá fora, o silêncio da noite lembrava Claudete, sua grande paixão. Apesar de toda a sua malandragem e sua fama de garanhão, Cascata nunca havia se apaixonado. Aquilo tudo era uma novidade, por isso andava na miúda, pianinho.

Foto ilustrativa. Reprodução/Google

Claudete era uma morena linda, trabalhava no armazém. Tinha um corpão; certa vez Cascata deu uma surra num cara que estava jogando cartas com ele. O idiota fez piada chamando ela de gorda. Cascata ganhou todo o dinheiro dele e ainda quebrou uma cadeira nos cornos do cretino. Era um recado pra ninguém esquecer o respeito pelas minas do morro. Ele pegou o celular. Conseguiu o telefone da Claudete com uma guria que vendia chip pro armazém. Precisava puxar assunto, apesar da hora, ele mandou uma mensagem:

“Foque no que te faz sorrir e aproveite o café”

Claudete nunca viu essa mensagem, seu celular havia sido roubado alguns dias antes.

No outro lado da cidade um celular vibrava no quarto. Miguel, um vendedor com problemas com bebida, comprou o celular por uma mixaria num bar próximo do centro. Chegou bebum em casa e largou na cômoda.

Regina, era sua esposa, uma mulher sonhadora, passava seus dias vendo novelas no SBT, desejando um amor verdadeiro, mas sabia que estava numa roubada. Casou muito nova, uma bela mulher, loira, com um corpo bem torneado, pernas grossas, seios pequenos, adorava azul e dourado, um sorriso encantador, mas o sono leve.

Ela acordou, seu marido. Não percebeu quando pegou o celular e abriu a mensagem. Pensou que se tratava de alguma vagabunda querendo roubar o que era seu. Como Miguel estava roncando, resolveu responder pra ver até onde iria aquele atrevimento:

“Meio tarde pra fazer contato, não?”

Cascata caiu da cadeira quando o seu celular vibrou, ele tinha acabado de pegar no sono. Pensou primeiro que era um sonho, não acreditava que Claudete estava realmente respondendo. Dançou, pulou, gritou pelo barraco. Estava feliz, estava acontecendo.
Era malandro, mas desta vez ele queria fazer diferente. Apostava que sua vida mudaria com aquela mulher. Com a energia de uma criança com um pote de doce, começou a responder:

“Oi lindona, sei que tu não sabe quem sou eu, mas quero te dizer que te acho muito foda!”

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Regina, ficou em choque, suas mãos tremeram. Ficou gelada. Nunca passou pela sua cabeça que o marido pudesse ser uma travesti! Não poderia ser. Sua sogra tinha feito um comentário maldoso numa janta de família, algo sobre primos…

Seu mundo girou. Ela até poderia ter desconfiado de um erro ortográfico, algo comum na digitação, mas algo dentro dela sabia que aquela mensagem tinha sido escrita por um homem. Ela sabia, mas mesmo assim fez questão de perguntar:

“Tu é um homem ou uma mulher?”

Regina levantou e foi pra sala, ansiosa esperava uma resposta que mudaria a sua vida.
No morro, feliz, Cascata respondeu:

“Não, sou mais que um homem… Sou ‘O’ homem que vai te fazer feliz”

Chocada, ela começou a chorar. Uma mistura de sentimentos. Cascata seguiu:

“A primeira vez que te vi naquele armazém, minha vida mudou. Não penso em outra coisa, teu corpo me deixa louco. Tuas pernas… Ah, mulher! Esse teu corpo…”

Ela estava confusa, mas aliviada. Percebeu que não era com seu marido que ele estava falando, ao mesmo tempo se sentiu atraída por tanto carinho. Miguel não era um bom marido, deixava ela sozinha quase todas as noite e vivia pelos bares.

Na manhã seguinte, Miguel perguntou se ela tinha visto um celular na comoda, ela disse que não. A partir desse dia as conversas com Cascata ficaram frequentes, uma atração muito forte nasceu, até o dia que Cascata foi ao armazém.

Claudete achou estranho a maneira que ele falou com ela, eram estranhos. Ela deu-lhe um tapa na cara. Houve um princípio de tumulto, apaziguado pelo pessoal. Foi assim que ele descobriu que o celular dela havia sido roubado.

Triste e magoado, voltou pro seu barraco.

Mas afinal de contas, com quem ele esteve falando na última semana, se não era a Claudete quem era? Mandou uma mensagem:

“Não sei o que aconteceu, sei que tu não é a Claudete. Sinceramente, tomei um tapão, mas isso me fez perceber que não é por ela que eu tô pirando. Espero que não seja um cara de sacanagem comigo. Quero saber com quem estou conversando, pois eu não sei o que pensar… Não sei como tu é, mas tuas palavras sempre foram tão tocantes que… Me diz só uma coisa: como é teu nome?”

Foto ilustrativa. Reprodução/Google

Regina leu a mensagem, estava apaixonada. Precisava decidir, Miguel que não passava de um bêbado ou Cascata uma grata e engraçada surpresa.

No outro lado da cidade Cascata passou mais de uma hora olhando pro celular, repassou todas as conversas que tiveram ao longo da semana. Ansioso aguardava uma respostas. Pelo silêncio ele acreditou que tudo fosse uma mentira. O malandro se sentiu enganado, triste. Foi pra cama, sozinho.

Já passavam das duas da manhã. O zumbido de um maldito mosquito impedia que o sono se embrenhasse nos seus pensamentos. Malditos mosquitos, pensou. O telefone tocou, de sobressalto levantou, pegou o celular. Na tela brilhante, leu:

“Regina”

Cascata sorriu, foi até a cozinha e preparou um café. O dia seria longo.

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