No Case #03 | Álbuns, EPs, vídeos e singles. 11 nomes que você precisa conhecer

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Entre os centenas de e-mails diários muita coisa acaba se perdendo, a cena alternativa ferve e todos querem um espaço. Cumprir a nossa missão de abrir espaço para todos não é fácil, é muita gente lançado algum vídeo, álbum, EP, mixtape, single, etc. Agora, ao som de Camorra, faço essa introdução refletindo o quanto o Rap do final dos anos 90 e início dos 2000 foi de qualidade acima da média. Fico pensando –  “Será que tanto público quanto artistas lembram do que era feito nessas épocas? Já ouviram o disco ‘Vírus’ do Camorra?” E olha que o Camorra era muito melhor do que o que está no disco! Mas eles são apenas um exemplo, poderia citar vários outros trabalhos bem feitos que se perderam no tempo e acabaram não servindo de referência.

Abaixo seguem nomes de grupos e artistas que enviaram material para ser divulgado no Bocada Forte, alguns talvez você até já tenha ouvido e lido sobre em outros endereços. Aqui tento usar o minimo possível dos releases prontos que circulam por ai, é necessário opinar sobre os trabalhos, sem julgar, pois cada um sabe das suas dificuldades, que não são poucas. As criticas são construtivas, vindas de alguém que há mais de 20 anos escreve sobre Rap e há quase 30 ouve Rap todos os dias. A mesma crítica que faço hoje, um dia fiz a nomes como Rael e todos do grupo Pentágono, Slim, Don L, Kamau, Parteum, Aori e o Inumanos, MV Bill, Racionais, Emicida, Rappin’ Hood, O Quadro e tantos outros espalhados pelos país e que até hoje estão em atividade.

Precisamos estar mais próximos, eu e qualquer outro formador de opinião podemos levar uma música bem feita para além das plataformas e redes sociais. Músicas boas e bem feitas estarão em nossos telefones, no computador, no pen drive ou cartão de memória, será tocada naquela festa de quebrada, indicada a um DJ influente, entregue a um produtor de eventos e por ai vai. Muitos dos que citei acima, foram ganhando visibilidade dessa forma e hoje a história está aí para mostrar no que deu. Boa sorte à todos e estamos aqui para somar, sempre!

Na curiosidade ou na saudade, ouça o disco ‘Vírus’ do grupo Camorra

AfroGANG – EP ‘De Vila Pra Vila’

Coletivo do sul do país, mais precisamente da cidade de Rio Grande (RS). Lançaram esse EP, com 10 faixas, em outubro desse ano. A produção foi toda de Duckbeatz (D.U.C.K), que também rima, no total são 7 manos rimando no coletivo, os outros seis são: BlowMQv, PJ, Igão, Orum, Pett e Joee. Mais um bom trabalho totalmente independente que merece uma atenção, assim podemos entender que o Rap feito nos extremos tem muito mais pontos em comum entre si, do que diferenças.

Ouça o EP

Yannick Hara – ‘O Caçador de Androides’

Álbum com 12 faixas e traz uma certeza, é diferente de tudo que você ouviu e ainda vai ouvir esse ano. Yannick é um rapper cyber punk de São Paulo e já está há bastante tempo fazendo um corre na cena. A produção do disco ficou por conta dos beatmakers Everton Beatmaker, BLAKBONE e Paulo Júnior. As participações são de Rodrigo Lima (Dead Fish), Clemente (Inocentes), Moah (Lumiére), Rike (NDK), KEOPS & RAONY, Sara Não Tem Nome, do poeta Rafael Carnevalli e do rapper paraense Cronixta. A inspiração para o disco foram os clássicos da ficção científica ‘Blade Runner’ e ‘Blade Runner 2049’.

Ouça o álbum

https://www.bocadaforte.com.br/wp-content/uploads/2019/11/RevistaBF_Edicao01.pdf
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Luana Flores – “Guerreira de lança”

Já imaginou um cangaço feminino? Então, foi isso que Luana Flores, paraibana, DJ, percussionista, beatmaker e uma das fundadoras do grupo Coco das Manas, fez nesse vídeo. No refrão ela deixa bem claro – “Qualquer um é meu lugar / Eu não vou mais recuar”. Para o vídeo reuniu apenas mulheres, participam da música Saskia, Luísa Nascim, Jéssica Caitano e Negrita MC. A produção também foi feita só por mulheres, o vídeo foi lançado em 25 de novembro, “Dia Internacional da Não-Violência Contra a Mulher”. A música foi criada em sua participação no REDBULL MUSIC PULSO 2019, no mês de abril, em São Paulo e estará presente no EP “Nordesde Futurista”, com previsão de lançamento para o início de 2020.

Assista ao vídeo

Militância Poética – ‘Reconstrução’

O grupo baiano, de Salvador, existe desde 2015 e é formado por Deise Maria, Igi Emi, Omin Onawale e DJ Abalsanga. Esse já é o terceiro disco do grupo, ele fecha uma trilogia que foi precedida pelos álbuns ‘Revolução Além do Plano Matéria’ (2016) e ‘Reação’ (2018). Todos eles foram lançados no mês de novembro, os dois primeiros no dia 02 de cada ano e o ‘Reconstrução’ foi publicado no YouTube em 20 de novembro, Dia da Consciência Negra. São 8 faixas de pura militância poética, com músicas que flertam com os mais variados ritmos da música negra.

Ouça o álbum

SDJ – “Cognição”

O grupo é de Taubaté, são bem religiosos e fizeram o vídeo de uma música que fala de um assunto atual e muito grave, a depressão. Não me apeguei a qualidade do vídeo ou da música, mas sim a mensagem que quiseram passar. É mais uma da extensa lista de músicas que não conseguem um grande alcance nas redes e plataformas. Com participações de Vitor D’oliveira, Negro Vando, Pamela Ribeiro e a produção de Bruno Mokado, eles conseguiram esse pequeno, mas sincero espaço aqui no BF.

Assista ao vídeo

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Dactes & Sico – ’24 EP’

A dupla é de Salvador (BA), lançaram no final de novembro o EP com cinco faixas. Apesar de não ser muito o meu gosto, é um som agradável, com boas letras, muito positivas, abordando assuntos simples e que fazem parte do dia-a-dia de todos nós. A produção, mixagem, masterização, composição e gravação é tudo no nome deles, pela produtora Bonke Music. Espero que chegue logo o momento em que essa nova geração entenda que o auto tune pode ser totalmente descartado, ele é desnecessário em muitas músicas. Ainda não perceberam que o uso desse recurso faz com que todas as músicas fiquem muito parecidas. Esse exagero no auto tune é o único porém, não apenas desse trabalho, mas da maioria dos que justificam o seu uso alegando “evolução”. O uso pode ser atual, tendência, moda, o que quiserem que seja, mas passa longe de ser uma evolução.

Ouça o trabalho dos meninos, vale o play

Ras – “Paz entre nós”

Esse mano é de Piracicaba, interior de São Paulo, a música faz parte do disco ‘Paz Entre Nós, Guerra aos Senhores’. A letra e as imagens do vídeo retratam a guerra que está presente em todas as periferias, favelas e morros. A polícia contra bandidos, vice-versa, e o povo no meio de tudo isso, todos são vítimas do mesmo sistema, por isso precisamos de “paz entre nós”. Batida lenta, sinistra, produzida por Raul Ronde combinando muito bem o timbre grave da voz de Ras. Um trecho da letra diz – “Meu bom, guarde o brinquedo de furar moletom / porque enquanto nóis se mata eles estoura o chandon / e para o povo preto que estale os tambor / viva Mumia Abul Jamal, Dandara, negô.”

Ouça a música e assista ao vídeo

Fähim – ‘Novos Tempos’

Ele é MC, poeta, beatmaker, compositor e lançou no início de novembro esse álbum, com 14 faixas e algumas participações. Participaram Sadiki, Dee, DCazz, Nando Vianna e Timm Arif. Já na produção e arranjos ele contou com o trabalho de DJ Will, Pé Beat, Timm Arif, Derick Cabrera, Saile Beats, Ricardo Mock, Triick e Grou. O conteúdo das letras representam exatamente o sentido do título e para isso ele se baseou nas estações do ano. O disco começa no verão, passa pelo outono, inverno e termina na primavera com um “Arco-iris”. Uma pena não ter tempo pra escrever muito mais sobre esse álbum, vai ficar no play por alguns dias. Essa rapaziada que tá no corre, atrás de visibilidade, precisa deixar os álbuns pra download em algum link, com uma qualidade legal, para DJs, rádios comunitárias e formadores de opinião em geral.

Ouça o álbum completo (a playlist tem algumas outras faixas dele)

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Samora N’zinga – ‘D.A.A.T (Do Afro ao Trap)’

Mano de Belo Horizonte (MG), disponibilizou o disco no dia 20 de novembro para a streaming e o show de lançamento foi no Duelo de MCs Nacional, no aniversário de 122 anos da sua cidade, BH. São 12 faixas e participações de artistas brasileiros, artistas da Guiné Bissau e de Moçambique. Participam Djonga, DJ Spider, Paige, Das Quebradas, Stadu Maior, Azizi MC, Pedro DDG e Ana Roberto. Eu tiraria o T da sigla que dá título ao álbum e deixaria um R, cairia muito melhor, mas entendo o lado mais atual, inclusive de mercado. O disco foi fruto de uma turnê que o artista fez pelo sudeste da África em 2018 e vem acompanhado de um documentário chamado ‘Ponte Brasil Moçambique’ e de uma coleção de roupas com uma marca belo-horizontina. A faixa “Fulou”, com participação de Stadu Maior, que rima demais, é muito boa.

Ouça o álbum completo

JOCA – ‘A Salvação é Pelo Risco’

Lançado em novembro, tem 1 interlúdio e 7 músicas, todas elas com alguma participação. JOCA nasceu em Minas Gerais, atualmente vive em Niterói, é compositor, artista de rua, instrumentista e MC. Baterista da banda Almoço Nu, produtor e MC no coletivo UjimaGang, atua desde 2014 em diversas cenas da cultura independente, como as rodas culturais e festas de rua Canta Teresa, Ginga Rainha SS e Baile da UG. Trabalho bem produzido, com a ideia de “recriar memórias à partir de samples”. Confesso que quando vi o título imaginei que teria participação de DJs em todas as faixas, sei lá, “risco” me remete a scratches. Mesmo não tendo a participação de nenhum DJ, pra minha decepção, não desmereço a qualidade, pois foi muito bem feito, com rimas e letras bem ricas, pena que no total são menos de 25 minutos pra ouvir o álbum todo.

Ouça o álbum completo

Bundep – ‘Assinamos com o Demo EP’

Formado por nSANo e MotoTreta (pseudônimos de Zap-san e UnderSon Leitty/Anderson Leite), são músicas que usam a sátira para criticar algumas situações, principalmente em assuntos ligados ao Rap. Os dois são rimadores talentosos, ambos moram em cidades do interior de São Paulo e tem muitas músicas lançadas em trabalhos solo. A ideia de fazer esse tipo de sátira não é nova no Rapbr, outros grupos já fizeram e por aqui é algo que não tem muita aceitação – até integrantes do Pentágono, antes de ter esse nome, fizeram música nessa pegada. O trampo dessa dupla já vinha sendo anunciado em 2018, na época das eleições, quando lançaram o vídeo da faixa “The-bate”, onde satirizavam dois candidatos participando de um debate. O disco é bom, a produção é bem feita, o vídeo da faixa título também é ótimo. Talvez pra que tivesse mais visibilidade, seria legal sair das plataformas de streaming e ter um show montado, uma produção baseada nessa ideia principal, inclusive com a participação do “demo”. Sei que não é fácil pra um trampo independente, mas acredito que seria um caminho a seguir e algo a se pensar.

Assista ao vídeo que da música que dá título ao disco

É uma ideia que vale para todos que tem enfrentado dificuldades. Hoje a maioria lança os trampos na net, mas não fazem shows, não acontece uma festa de lançamento, o material não chega na mão dos DJs, tudo fica no virtual. É difícil hoje? Sim, mas já foi muito mais difícil no passado e mesmo assim acontecia, muitos grupos se juntavam e faziam juntos os seus shows, gravavam vinis, coletâneas, se uniam e faziam acontecer. Se quiserem ideias, tenho várias, parafraseando meu mano LF “se for pra somar, ei mano chega aí”.

Ouça o EP completo

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