Meire D’Origem conversa com Preta Ary no SindCT na Cultura
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Circuito Brincante Negrita Arteira: arte, ancestralidade e pertencimento para infâncias negras
No episódio 242 do programa SindCT na Cultura, a artista e educadora Preta Ary compartilhou com Meire D’Origem os caminhos, encontros e aprendizados do projeto Circuito Brincante Negrita Arteira, que percorreu três cidades paulistas — São José dos Campos, Monteiro Lobato e Caraguatatuba — levando oficinas, vivências e arte para crianças e jovens negras e negros.
Mais do que uma atividade cultural pontual, o Circuito se firmou como uma potente ação de afirmação identitária e de empoderamento, nascida do compromisso com a infância preta e com os territórios periféricos e populares onde essas crianças vivem. Financiado pelo edital do ProAC, o projeto promoveu ações gratuitas voltadas a faixas etárias de zero a 16 anos, com foco em temas como autoestima, pertencimento, ancestralidade africana e afro-brasileira.
Brincar é coisa séria
Com 11 anos de existência, a marca Negrita Arteira, criada por Preta Ary, é mais do que uma iniciativa de produção de bonecas negras e brinquedos sensoriais. Transformou-se em um empreendimento sociocultural. “As bonecas são instrumentos de diálogo com as crianças sobre empoderamento e autoestima”, explicou Ary. “O brincar é uma ferramenta para entender como essas crianças vivem, o que sentem, o que pensam, o que querem dizer.”
Durante o circuito, cada oficina e atividade foi pensada com atenção às faixas etárias. Crianças de zero a dois anos foram acolhidas no Espaço Baby; dos dois aos cinco participaram de contação de histórias e construção de instrumentos afro-brasileiros; as mais velhas puderam se engajar em oficinas de fanzines, bonecas Abayomi, afroempreendedorismo e até construção de currículo e apresentação pessoal.
Corpos políticos e saberes ancestrais
As atividades foram conduzidas majoritariamente por mulheres negras, o que, por si só, já era um gesto político e pedagógico. “Mesmo sem precisar verbalizar tudo, nossos corpos, nossa presença e as histórias que contamos já dizem muito. É uma ancestralidade vivida na prática”, afirmou Preta Ary. Oficinas de instrumentos, contações de histórias com protagonismo preto, rodas de jongo e apresentações do grupo Shirê de Quintal — com brincadeiras de diferentes países africanos — reforçaram a proposta de formar vivências afetivas e educativas.
A articulação entre as oficineiras foi feita com curadoria da própria Ary, que reuniu mulheres de diferentes áreas e formações — da cultura popular ao RH. “A cultura é essa grande mãe que acolhe os saberes diversos e os transforma em ação coletiva”, disse.
Multiplicar e perpetuar
Ao final do projeto, uma questão se impõe: como garantir a continuidade e a ampliação dessa proposta? Segundo Preta Ary, a própria rede formada pelo circuito já é um motor multiplicador. “Cada pessoa que participou pode levar um pedacinho do circuito para seus próprios fazeres, seja numa escola, numa ONG, num outro projeto.”
Além disso, há registros visuais e escritos disponíveis nas redes da Negrita Arteira, e uma palestra da psicopedagoga Ana Balduíno sobre racismo e infância PCD, já publicada no YouTube. Uma pesquisa também está em andamento como contrapartida do projeto, ampliando ainda mais os desdobramentos do circuito.
Cultura que movimenta vidas e territórios
O impacto do projeto não se limita ao campo simbólico. Ao envolver artistas, oficineiras, produtoras e comunicadoras, o circuito também movimentou a economia local. “É preciso dizer que cultura gera emprego, movimenta recursos e transforma vidas”, afirmou Ary, ao agradecer os apoios institucionais recebidos nas três cidades e os nomes que colaboraram com indicações, articulações e acolhimento.
O Circuito Brincante Negrita Arteira é um exemplo concreto de como a cultura negra, quando pensada desde e para a infância, pode ser uma ferramenta de transformação radical, coletiva e cotidiana. Em um tempo marcado por retrocessos e isolamento, o projeto reacende o sentido do aquilombamento: o estar junto, o brincar em roda, o viver com afeto e identidade.
📲 Para saber mais e acompanhar os próximos passos, acesse @negritaarteira e @pretaaryoficial. As oficinas e ações podem ser contratadas para escolas, sindicatos, ONGs e outras instituições. Informações e contatos estão disponíveis nas redes sociais.




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