Entrevista | O Rap que vai além dos palcos, conheça o Rapper GerMano

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Não é novidade para ninguém nos dias de hoje que os números de seguidores, visualizações, inscritos e compartilhamentos são a régua usada pela grande maioria para colocar um artista em suas pautas. Recebo centenas de e-mails e contatos através das redes sociais com o envio de material para divulgação, a maioria são de assessorias sem nenhuma relação com a Cultura Hip Hop. A grande maioria delas ostenta em seus releases os números dos artistas, algo que me recuso a usar como régua. Meus critérios são variados e os números em redes sociais e plataformas não é um deles, muitas vezes existem questões que vão além da música, da arte.

Durante a pandemia conheci o GerMano, através de outra pessoa que também conheci durante esse período de isolamento, o Pig (Doc Sujo Podcast), ambos são de São José dos Campos. GerMano tá no corre desde 1999, é arte educador, rapper, assistente social, está sempre em contato com pessoas em situação de vulnerabilidade. Seu trabalho é desses que vai além dos palcos, ele canta o que vive e vice-versa.

Com o prolongamento da pandemia e a potencialização de problemas que sempre foram graves para os mais pobres, como moradia e alimentação, ele começou a ajudar famílias por conta própria arrecadando e distribuindo alimentos. Criou um Projeto independente chamado Hip Hop Contra a Fome SJC e através dos perfis nas redes sociais ele pede ajuda. A arrecadação que era apenas de alimentos, no inverno também precisou se ampliar para arrecadar roupas de frio e cobertores.

Comecei falando sobre os números e é impossível pra mim não traçar um paralelo entre o corre do GerMano, que não tem números absurdos de seguidores, e o corre de artistas que tem números que passam dos milhões de seguidores. Lembrando que ninguém é obrigado a nada, mas quando o conteúdo da sua música é a realidade periférica, quando você viveu as dificuldades e em um momento como o atual você não utiliza essa sua rede de seguidores em prol do coletivo, algo errado não está certo. Eu particularmente, já há muito tempo, me recuso a ser cúmplice de artistas que não refletem o tempo em que vivem, que vivem um mundo paralelo.

Vivemos um momento difícil em todos os sentidos, além dos problemas de sempre que atingem pretos e pobres, vivemos a mercê de um desgoverno e tudo isso no meio de uma pandemia! Estamos no mesmo barco, tudo o que temos é um ao outro, o trampo do GerMano é daqueles que não viraliza, não tem dancinha, não tem meme, mas tem verdade, tem luta pra ter menos luto. Hoje, mais do que nunca, precisamos disso na prática, e mesmo que você não possa ajudar financeiramente, você pode através de alguns cliques ou toques na tela do celular, curtir, seguir e principalmente compartilhar.

Conheça mais sobre o GerMano, ouça alguns trabalhos, assista aos vídeos e espalhe as redes do Projeto Hip Hop Contra a Fome SJC. Ele não é o único artista nessa função que vai além dos palcos, Japão (Viela 17) também merece ser citado, confira suas redes pois esse mês ele fará uma live no dia 21 para potencializar ainda mais as doações lá em Brasília.

Bocada Forte: Antes de qualquer coisa se apresente resumidamente, quem é você, de onde, quando começou e trabalhos oficiais lançados (álbuns, eps, mixtapes, etc.)

GerMano: Sou GerMano, natural da zona leste de São José dos Campos, Vale do Paraíba, interior de São Paulo, rapper e ativista do Hip Hop desde 1999. Associado do Instituto Gueto – Associação de Arte Educadores, Agentes Sociais e Similares do Estado de São Paulo e membro do coletivo Studio Criativo – Ateliê de Artes Urbanas e Populares do Vale do Paraíba, colaborador Criativo e produtor da FAASC – Frente de Ação e Arte Santa Cruz.

Trabalhei como Arte Educador em um abrigo para adolescentes em situação de risco e realizei palestras e oficinas de musicalização em escolas, unidades da Fundação CASA, presídios e eventos. Além de desenvolver trabalhos em projetos e instituições culturais, artísticas, sociais e educacionais em toda RMVPL – Região Metropolitana do Vale do Paraíba e Litoral Norte. Atualmente curso Serviço Social e trabalho como Educador Social no abrigo para pessoas em situação de rua.

BF: Hoje em dia, em meio a tantos lançamentos, qual você acha que é o diferencial do seu trabalho?

GerMano: Acredito que o diferencial do meu trabalho é fazer o Rap além dos palcos, seja na minha profissão como educador social, nos abrigos em que trabalho, seja como arte educador em escolas, instituições, fundação CASA, presídios e nos trabalhos sociais que são feitos nas comunidades.

BF: Qual a função das redes sociais no seu trabalho e qual você mais usa para interagir com o público?

GerMano: Uso as redes sociais para interagir com o público, pesquisar novas tendências e divulgar meus trabalhos. Utilizo mais o Instagram e Facebook.

BF: A região onde você mora sempre teve uma presença muito forte da Cultura Hip Hop, você tem uma relação, interage com os outros artistas da cena na região, faz música junto? Quais?

GerMano: Sim, na primeira Mixtape lançada (‘GerMano e os Aliados’) das 14 faixas, 9 delas tem participações de artistas do Vale do Paraíba. Procuro sempre interagir com os artistas da região para angariar conhecimento.

BF: O que você sabe sobre o Bocada Forte, já conhecia o site ou acessava

GerMano: Pesquisava muito pra saber sobre as novidades do Rap, artistas de outros estados e o site que eu sempre encontrava essas informações era o Bocada Forte.

BF: Na pandemia você tem feito um trabalho muito importante, fale sobre esse seu lado voltado para o social e explique mais sobre esse trabalho.

GerMano: Sempre tentei levar o Rap além do habitual, que seria compor, gravar, fazer shows, etc… E desde o início, quando comecei a entender a importância do Rap na minha vida e na vida das pessoas, tentei fazer um trabalho social paralelo ao de rapper. Contudo, o trabalho social chegou a sobrepor o de rapper porque nem sempre havia espaço para fazer apresentações, mas todo dia tinha alguém passando necessidade. Essa pandemia agravou muito a situação das pessoas e muitos chefes de família perderam a sua renda. Observando isso vi a necessidade de fazer um movimento em prol dessas famílias.

A partir daí surgiu o Projeto Hip Hop Contra Fome, idealizado por mim e pela psicóloga Giulianna Alves com o intuito de arrecadar alimentos nos bairros da região de São José dos Campos, para auxiliar famílias em situação de vulnerabilidade social nas periferias da cidade. Junto com alguns parceiros estamos tentando atingir o maior número de famílias possíveis, enquanto durar a pandemia.

BF: Você está por dentro das questões relacionadas a direito autoral e como é a negociação com as plataformas? Você mesmo faz ou tem alguém que cuida disso

GerMano: Sou um pouco leigo neste assunto, tento colocar minhas músicas nas plataformas digitais pelo OneRPM que pra mim é o mais fácil e o mais viável no momento. A gente mesmo que se arrisca e tenta fazer da melhor maneira possível. Mas sempre estou buscando novas estratégias para a divulgação dos trabalhos e consequentemente aprender mais.

BF: Financeiramente, está valendo a pena trabalhar com música nas plataformas de streaming?

GerMano: Ainda não tive retorno financeiro nessas plataformas de streaming viu? rsrsr… Mas procuro utilizar esses meios por ser os que as pessoas mais acessam.

BF: Qual a sua perspectiva para o pós-pandemia? Tem pensado nisso?

GerMano: Penso muito nisso. Acredito que muita coisa vai mudar pra melhor. A forma de fazer e distribuir os trabalhos dos artistas, comportamentos, entre outros… Vamos precisar ter uma visão ampla de tudo que aconteceu e mudar nosso modo de viver e de encarar as coisas. Vejo as pessoas mais solidárias, mas preocupadas com o próximo e isso é muito bom. Temos que deixar de lado um pouco esse ego que muitas pessoas têm de achar que são únicas, que são as mais fodas… Tudo isso vai ser revisto!

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BF: Quais os próximos planos, lançamentos e tudo mais.

GerMano: Bom, lancei no último dia (28) o videoclipe da música “Não Vou Parar” que tive o prazer de gravar algumas partes nas ruas do Centro da Cidade com os “meninos” em situação de rua e pra mim foi uma experiência incrível. Continuo gravando novos trabalhos, talvez um novo álbum pro fim do segundo semestre. Tentando novas parcerias pra projetos mais elaborados para elevar o conhecimento e quem sabe atingir mais pessoas. Concluir minha graduação em Serviço Social e poder ajudar cada vez mais e melhor aqueles que precisam.

Deixa seus contatos, agradecimentos e quem quiser ajudar o projeto como faz?

GerMano: Gostaria de agradecer você Gil e o Bocada Forte. Agradecer a todos que fortalecem e acreditam no nosso trabalho. As pessoas que sempre somam nas loucuras, nos projetos e tudo que a gente inventa pra poder levar a informação e ajuda às pessoas que necessitam. O projeto HIP HOP CONTRA FOME continua pelo menos enquanto durar a pandemia. Quem quiser ajudar é só entrar em contato comigo: WhatsApp – (12) 981916731 | E-mail/PIX – hiphopcontrafomesjc@gmail.com | Instagram | FaceBook
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Juntos somos mais fortes!
Tem que ser muito mais que palco!
Muito obrigado e até qualquer hora.
Plowww!

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