Entrevista | DJ Glazer revela um pouco da cena Hip Hop em Floripa

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DJ Glazer. Foto: Narciso Tenório (clique para ampliar)

Ele é de São Paulo, mas mora em Florianópolis, Santa Catarina, desde os 6 anos de idade; atua como DJ e produtor. Tem um trampo paralelo com o selo Excuse Records e já passou por cidades como Nova York (EUA), Toronto (Canadá), Bali (Indonésia) e Gold Coast (Austrária). Me refiro a um dos agitadores culturais da cena Hip Hop da ilha, DJ Glazer.

No set, sempre abrangente, ele costuma passear pelo Rap dos anos 80 até o da atualidade, mas também conhece e prestigia ritmos como o reggae, dance hall, groove, soul e brasilidades.

Atualmente, DJ Glazer desenvolve um importante trampo na cena Hip Hop catarinense, como idealizador e DJ residente da festa Hip Hop de Raiz, que ocorre no DeRaiz Dunas da Joaquina, na capital. Aliás, nesta quinta-feira, dia 20 de fevereiro, a casa recebe um dos grandes nomes do Rap nacional, MC Marechal (confira abaixo). A festa promete.

Hip Hop de Raiz recebe MC Marechal em Floripa

Aproveitando a oportunidade, trocamos uma ideia com Glazer. Dentre os tópicos, um pouco da sua história, influências, cena do Rap de Santa Catarina e nacional e mais. Confira!

Bocada Forte (BF): Conte para os nossos leitores um pouco da história do DJ Glazer. Como você conheceu a a cultura Hip Hop, influências, da onde surgiu o nome artístico, etc.

DJ Glazer: Bom desde de criança eu já escutava Rap, mas tudo se deu início quando eu tinha 17 anos e trabalhava na loja da minha mãe. Ela fez um desfile na loja e contratou um DJ (nome dele era Zeca). Então, antes de começar, eu pedi pra ele me mostrar como ele fazia, pra brincar enquanto não começava o evento da loja. Depois desse dia eu simplesmente queria e precisava de um equipamento daqueles. Na época, foi um CDJ da Pioneer, para aprender e colocar minhas ideias em prática. Eu ficava treinando quase todos os dias enquanto a galera ficava na piscina, churrasco, etc. Então, um dia me chamaram para tocar numa balada e aceitei o convite. Me identifiquei na hora, porque eu tava vendo que aquilo poderia ir muito mais alám do que ficar no meu quarto tocando. A partir dali, comecei a ir mais a fundo, estudar sobre o Hip Hop, porque é uma cultura que sempre me chamou atenção. A energia, a conexão dos DJs, MCs, B-Boys & B-Girls, Graffiteiros, mudou minha vida, minha forma de pensar e de agir. Sabia que era aquilo que queria ser, passar aquela energia para as pessoas, tentar mudar a vida delas  e unir todos através do Hip Hop.

DJ Glazer. Foto: Narciso Tenório (clique para ampliar)

Em  2008 eu comecei a tocar em baladas de Hip Hop e comecei conhecer melhor a cultura. Participei de projetos culturais e sociais voltados para cultura Hip Hop em escolas públicas, praças e comunidades que até hoje são realizados. Inclusive hoje sou DJ residente e faço parte da equipe que organiza a festa Hip Hop de Raiz, junto com Miguel Santos e Mih. A festa ocorre todas as quintas-feiras, no Bar DeRaiz, em Florianópolis. Uma festa que inclui os quatro elementos e tem como foco passar informação. Através desta festa damos o suporte e ajuda para realizar diversos eventos sociais, como Festa de Natal do Morro Do Horácio, que aconteceu no ano passado.

O Hip Hop fez eu rodar o mundo. Fez eu ir em lugares que eu nunca imaginei e conhecer pessoas muito importantes pra minha vida.

Eu sempre me inspirei em 2Pac, Rael LDC, Dr. Dre, Racionais, só que fui me aprofundando na cultura e descobrindo mais influências para meu trabalho e vida, como: Sabotage, RZO, Marvin Gaye, Al Green, Aretha Franklin, Queen Latifah e por aí vai… Busco muitas influências em diversos gêneros musicas, que me ajudam a expandir as ideias. Hoje em dia, muito das minhas influências acabam nem sendo do Hip Hop.

BF: Como você encara a cena Hip Hop catarinense atualmente?

DJ Glazer: Atualmente eu vejo a cena do Hip Hop catarinense se unindo cada vez mais. Eu vejo que, pelo menos em Floripa, a maioria se comunica e se respeita. Já ouvi de muitas pessoas de fora, que o Hip Hop de Floripa é bem unido. Acho que é um processo, mas que existe muito talento em Santa Catarina, existe. Acho que só falta a galera sair um pouco e expandir a informação, não só ficar na Internet. Eu vejo que tá muito melhor do já foi e crescendo cada vez mais.

BF: Rap nacional x Rap Internacional. Como você equilibra isto nos teus sets como DJ? Existe uma preocupação de sempre prestigiar a cena local e nacional ou isto depende do evento em que você irá se apresentar?

DJ Glazer: Nos meus sets eu sempre procuro um equilíbrio de tudo. Tento passar por todos os gêneros que englobam o Hip Hop e suas vertentes, tanto pro gringo e tanto pro nacional. Sempre procuro saber se existe MCs locais da cidade que vou tocar ou quando estou em Floripa, nas festas, tento sempre colocar a galera local. Acho que isto é super importante pra cena local e se temos a oportunidade, porque não? Assim você também pode medir a febre da galera e trazer músicas diferentes.

DJ Glazer em ação na festa Hip Hop de Raiz. Foto: Narciso Tenório (clique para ampliar)

BF: Boom bap Rap x trap. Muitos amam, outros odeiam. Em especial quando o assunto é música trap. Alguns dizem que o trap não representa a essência do Hip Hop. Qual a tua visão sobre os dois estilos?

DJ Glazer: Na minha visão, claro, Hip Hop é uma coisa, trap é outra. O trap vem do eletrônico, do miami bass. Trap representa o trap, o eletrônico. Os artistas de Rap começaram a cantar em cima e criaram este novo gênero, digamos, mas trap não é essência do Hip Hop. Tenho muito respeito por quem canta e quem faz, inclusive curto várias músicas e coloco no meu set.  A ideologia é outra.

BF: Muitas vezes a gente sente falta de um DJ realmente atuante nos grupos de Rap nacional. O mesmo acontece lá fora. Você acha importante que um grupo de Rap tenha um DJ em sua formação?

DJ Glazer: Acho super importante, pois aí sim é um grupo de Rap completo. Sei que muitas vezes não rola por falta de opção mesmo, mas se tem a oportunidade de colocar alguém, acho muito importante. Aliás, quem vai soltar as bases? (risos)

BF: A festa Hip Hop de Raiz, que ocorre no DeRaiz Dunas da Joaquina, e onde você é DJ residente, tem demonstrado que as festas não precisam ter só o Rap como destaque, mas também os outros elementos. Qual a importância de eventos como este na cena nacional?

DJ Glazer: Quanto mais evento deste tipo acontecer, mais oportunidades vão aparecer. A festa Hip Hop de Raiz (vídeo abaixo) está abrindo portas para muitos artistas que a galera não conhecia e dando a liberdade de se apresentar. Muitos eventos, antigamente, não faziam isto. É muito importante isto existir em todos os lugares e cidades possíveis, para que tenha mercado e oportunidade a todos.

BF: Além dos eventos que você toca, você tem projetos paralelos? Conte para os nossos leitores.

DJ Glazer: Eu tenho projeto chamado Filhos Do Groove, com meu irmão Beal. O projeto é dedicado 100% à cultura do vinil original. Também estou pra lançar em março o EP da minha irmã Pikena Ketty , intitulado “F.I.R.E.”, que tá pesado. A produção é toda minha e o coletivo chamado Disconéctar, 100% vinil original, junto com Bolachada Vinil, Komblack e Filhos do Groove.

BF: Que artistas e/ou grupos você destacaria na cena Hip Hop catarinense?

DJ Glazer: Eu sou suspeito! (risos) Curto bastante a cena e tem muita gente. Mas, hoje, entre os quatro elementos, eu destacaria o rapper Nado, Rael LDC, DJ Brum, Gritto, Vando Mdc, Janaína Palavra Feminina, Pikena Ketty, Versa, Negro Rudhy, Beal, Mih, DJ Koke, DJ MaryJane, Wagz, B-Boy David Botelho, B-Boy Dezin, B-Boy Hulk , B-Girl Luana Tompson, dentre muitos outros artistas.

BF: Estamos vivendo um período difícil no país, com um momento extremamente conturbado politicamente e com a proliferação de ideias que vão contra a liberdade de expressão, tentando diminuir a importância da cultura de da educação. Como você acha que a cultura Hip Hop pode ajudar no combate a estas ideias retrógradas e a manter a mente da rapaziada alerta e aberta?

DJ Glazer: Através de posicionamento firme, defendendo sempre o que você acredita, com muito respeito e sem dúvidas o poder da informação. Passando o exemplo adiante, para que mais pessoas consigam chegar nessa informação para combater qualquer opressão!

BF: O trampo de um DJ existe muito investimento financeiro, dedicação, pesquisa e uma boa dose de energia. Como você vê o mercado para DJs do Hip Hop hoje? É possível se sobreviver da parada? Fala pros nossos leitores sobre a tua experiência e visão.

DJ Glazer: O mercado hoje está muito competitivo. E tem muitos (as) DJs talentosos (as). Vejo que hoje, com a chegada de softwares e controladoras, qualquer um pode ser DJ, mas nem todos sobrevivem. A maior parte tem um trabalho paralelo pra poder se manter. Sobrevivem aqueles que realmente acreditam na profissão e não levam como hobby e investem todo tempo e dinheiro nisto! Possível é, mas tem que querer muito!

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