#ElasNoBF | Menina Maria conta como o jiu-jitsu e o trançado mudaram sua vida

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Histórias reais de superação são construídas nas periferias brasileiras. Vivências, trocas e lutas que não são patrocinadas por grandes marcas e não viralizam nas redes sociais, mas estão ajudando a transformar a vida das pessoas e continuam moldando cada comunidade nos bairros distantes do centro das capitais.

Alice Maria  é mais um exemplo dessa conexão periférica. Em 2019, a trancista,  assistente social e carteira estava procurando projetos sociais para participar, ter apoio e direcionar sua energia por meio de trocas de experiências. Foi nessa época que Alice conheceu a rapper Amanda Negrasim e o projeto Trançado Periférico.

“Antes de tudo, eu passei por uma depressão e enfrentei diversos tipos de violência. Comecei no jiu-jitsu após terminar um relacionamento tóxico. Foi no jiu-jitsu que me fortaleci. O esporte me trouxe mais segurança”, diz Alice Maria.

Menina Maria reunida com as mulheres do Trançado Periférico no Centro Cultural Municipal Hip Hop Sul

MAS ONDE ENTRAM AS TRANÇAS NESSA HISTÓRIA?

“Eu comecei a trançar com quinze anos, dentro de um projeto social, mas fiquei muitos anos sem trançar . Quando entrei para o jiu-jitsu, percebi que as tranças estavam presentes em eventos como o MMA, lutas de boxe, mas não estavam tão presentes no jiu-jitsu. Então eu pensei em trazer as tranças para essa luta. Isso não quer dizer que eu fui a pioneira, mas eu desenvolvi um maior engajamento e conexão entre o jiu-jitsu e as tranças”, afirma Alice, que hoje é conhecida como Menina Maria Tranças. Menina Maria é apelido de tatame.

LUTA E TRANÇA, DUAS HISTÓRIAS UNIDAS QUE TRANSFORMAM

Atualmente, Alice trança o cabelo das estrelas do jiu-jitsu. A trancista pesquisou sobre a história das tranças, ligou sua ancestralidade aos desafios atuais na luta e em outras áreas de sua vida e chegou a conclusão que  tudo é carregado de sentido,  é batalha diária e superação.

“Dentro do tatame, a gente sabe que todos os dias tem uma lesão diferente, todos os dias a gente entra e sai de lá transformada. Todos os dias eu tenho que lidar com um adversário maior, pois só treino com homens. A partir do momento em que eu coloco a trança e boto meu quimono, sinto que estou preparada pra guerra”, diz.

O projeto Trançado Periférico forneceu elementos de sustentação para as ideias e ações de Menina Maria, que acredita na responsabilidade e missão de divulgar a história ancestral das tranças para as mulheres negras e brancas. A trancista conhece todo o debate sobre apropriação cultural, mas afirma não restringir seu trabalho, pois também atende mulheres não-negras.

NÃO PARO DE SONHAR

Além de toda correria cotidiana entre os  trabalhos nos Correios, as  tranças, e o  jiu-jitsu Menina Maria – que, por amor à cultura negra, confessa ter dificuldade para cobrar pela sua arte ancestral – tem como meta aumentar a ligação entre o trançado e a transformação individual e social.

“Eu sei que eu posso transformar a vida de alguém por meio de um pente, uma pomada e minhas mãos. Meu sonho é trabalhar com mulheres egressas do sistema penitenciário. Eu quero que as tranças possibilitem uma diferença na vida delas. Quando você é egressa, você já pagou sua dívida com a Justiça, mas a sociedade vai te julgar pelo resto da vida.”

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