#Contextos: Jéssica Balbino, hip hop que milita

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“Quero este hip hop que diverte, mas que milita. Que não foge do debate”

A convite do Bocada Forte, Jéssica Balbino, jornalista, escritora e colaboradora do site, participa da série #Contextos e dá sua contribuição a respeito da cena hip hop.

Na última semana, a Casa Branca aprovou o casamento entre pessoas do mesmo sexo em todo território dos Estados Unidos. A mesma lei já existe há – anos no Brasil. Diante da notícia, quando 90% do Facebook ficou colorido, entre os meus amigos, o silêncio do rap imperou. E incomodou. Adeptos do hip hop, esse ‘tiozinho’ de 40 anos, cuja proposta subversiva sempre foi promover paz, amor, diversão e união, se calaram – e pior ainda, criticaram – a aprovação da lei estadunidense e a ‘febre’ virtual de apoiar, mesmo que com um clique, a união entre duas pessoas que se amam.

E aí fica a questão: o hip hop, tão conservador para pôr o dedo na ferida, se esquiva de temas que vão além do que ele está acostumado e fecha-se em brigar com o mundo para definir e dar carteirinha para quem é mais rua, quem é mais pop. E, neste caldeirão, fica difícil saber ou definir qualquer coisa.

O que eu não quero é me aproximar desse abismo social – e principalmente virtual – que milita sentado em uma cadeira. Que critica com base em uma única leitura. Que aborta a poesia e as mudanças em nome de um conservadorismo pelos 40 anos da raiz, podada pela ignorância mudança de temas e causas a se lutar.

Não quero fazer parte de um hip hop que se cala – ou tira o sarro, sarcasticamente – diante do amor. Mesmo que este amor seja entre duas pessoas do mesmo sexo. Não quero fazer parte de um hip hop que usa um certo “Cristo” pré-fabricado em evangelhos molhados de dinheiro e lágrimas de fieis para justificar seu preconceito.

Quero estar ao lado do hip hop que milita com Ritmo Amor e Poesia e talvez ele esteja mais presente, atualmente, na literatura marginal/periférica. Esta, que não é alheia ao que ocorre no mundo e cruza a ponte para ambos os lados. Que frequenta um universo colorido, assim como as fotos do Facebook ficaram na última semana.

E as rimas e poesias: duras e cruas, apoiam o amor a união entre pessoas do mesmo sexo, apoiam a literatura apoia o feminismo. Discutem o aborto, o feminicídio, a redução da maioridade penal, a política. Critica a misoginia. Tem o cuidado, de, na última década, permitir – e incluir – mesmo que aos poucos, mulheres no centro dos debates e de, caminhar lado a lado com os iguais.

Portanto, quero este hip hop que diverte, mas que milita. Que não foge do debate. Que é rua, sem ser preconceituoso. Que abre-se ao novo. Quero o hip hop que julga menos, e faz mais. Que promova uma festa de quarteirão. Quero a block-party. Quero paz, amor, diversão e união.

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