ACERVO BF | Cinema Nacional – Parte II (Tropa de Elite)

Publicado pelo 1ª vez em 11.01.2008, última edição em 05.11.2022

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Por: Fernando Baldraia

https://www.bocadaforte.com.br/produto/publicidadebanner01Desde o mês de agosto de 2007, quando as primeiras cópias pirateadas chegaram às mãos dos camelôs, instaurou-se uma intensa polêmica em torno de ‘Tropa de Elite’, dirigido por José Padilha, a ponto do filme já dispensar apresentações. Nesses dois meses de debate, o filme já foi tachado de tudo, de niilista à fascista, e serviu bem ao discurso de um imenso arco de posições ideológicas.

Com uma ou outra mudança na formulação, a questão central a que todos tentaram responder foi: “Tropa” legitima o BOPE e seus métodos? Houve quem dissesse que sim, é uma apologia da violência policial, mas tenta se eximir desta responsabilidade dizendo adotar apenas “um ponto de vista possível”, ademais bastante matizado, e em todo caso não condizente com o discurso integral da obra e menos ainda com as posições defendidas pelo diretor.

Independentemente, prosseguem aqueles, o discurso de quem se coloca na função de “entrar pela favela e deixar corpo no chão”, em qualquer circunstância, é absolutamente inaceitável e indefensável, e quando vem do Estado, por razões óbvias, tanto mais. Pôr os recursos da linguagem cinematográfica a serviço da construção de um “vilão-herói” portador de voz como essa, não pode ser encarado como mero exercício artístico, pleno de liberdades e isento de sanções. Nem – ou sobretudo – à arte pode se conceder este tipo de salvaguarda.

Ficou Padilha precisado de defensores, e eles vieram. Argumentaram que embora o filme adote a visão do policial, o faz precisamente para condená-la, soterrá-la sob suas própria inviabilidade. Se a missão do BOPE é salvar o Rio de Janeiro, livrá-lo do tráfico, nem que seja pela execução sumária dos traficantes, fica evidente que o caminho é de todo equivocado. Em nenhum momento o filme sequer sugere que as ideias e ações do BOPE poderão resolver ou minorar o problema. Muito pelo contrário, aliás, se o Capitão Nascimento é nossa tábua de salvação, estamos todos perdidos, porque ele não quer proteger o Papa, não quer subir morro, não quer ser um outro redentor, sua verdadeira missão é apenas manter sua família unida, e isto implica precisamente em deixar de ser o capitão Nascimento.

Os recursos do cinema, arrematam, são colocados justamente em favor desta implosão do discurso autoritário do BOPE, não é à toa que o filme começa com um policial assassinando um traficante e termina com outro policial assassinando outro traficante: mas na primeira cena nós somos testemunhas, na última o alvo.

O segundo ponto amplamente debatido diz respeito à febre em que se transformou o capitão Nascimento. Se ele tivesse agradado apenas às almas partidárias da “bancada da bala”, aos que põem bolsonaros, afanázios e contes lopes no parlamento, vá lá, estava explicado, mas ele parece ter conquistado simpatia de todos os lados.  Foi a “densidade” do personagem, a humanização do carrasco? Foi a atuação de Wagner Moura somada ao seu recente sucesso na novela das 8? Foi nossa sede de soluções e de violência, unidas no mesmo pacote? Foi nossa identificação com os “fortes”, os que “ganham no final” e, afinal, permanecem? Provavelmente tudo isso, colocado de uma maneira bastante palatável, não preocupada em oferecer dificuldades à fruição, ou melhor, pelo contrário, preocupada em obnubilar as complexidades em nome dela. Pra que todos as possam captar, diria Padilha. Concorde quem quiser.

As posições que delineadas aqui, de modo propositadamente dualista e esquemático, conforme se desenvolveram, deram origem a discursos muito mais perigosos do que os perigos que cada uma das partes apontou na visão alheia.

Um deles diz respeito à generalização do problema do tráfico de drogas. Num instante, o modo como ele se apresenta no Rio de Janeiro parece ter se estendido ao Brasil inteiro, e os modelos de segurança pública para resolvê-lo (BOPEs inclusos, naturalmente) entraram na pauta de discussão. Pergunto-me se o controle do espaço, faceta fundamental do tráfico carioca, se repete da mesma maneira ou com a igual intensidade em outras cidades brasileiras.

Se não, ou se isso não é relevante, boa parte do que foi dito tendo o quadro exposto em “Tropa” como pano de fundo, precisa de reavaliação. Não fazê-la tem levado a um segundo problema, ainda mais perverso, que consiste em, como Padilha, não olhar para trás, e muito menos para adiante: nem questionamento de como foi, nem projeção do que será. Mal ou bem intencionados, não importa, ignorantes do espaço e reféns do tempo, corre-se o risco de propor soluções certas para problemas errados.

Quem poderia, a partir do espaço correto, alcançar os corretos tempos e as mais eficazes soluções, é a população das favelas não envolvida com o tráfico, obviamente a imensa maioria. Mas ela permanece afastada do debate político e midiático, e no filme de Padilha, coadjuvante e sintomaticamente, não passa de um moleque cegueta.

[+] Leia a primeira parte

Por: Fernando Baldraia


Comentários sem nenhuma edição


ola pessoal,sou novato no site mais não posso deixar de opinar sobre o filme. otimo filme,otima atuação dos personagens que envolvem a trama,otimo roteiro. achei interessante a esposição da relação policia-bandido carioca,que reflete identicamente o que acontece no brasil todo,ou pelo menos os lugares que eu conheço. todos são iguais perante a lei,mais em relação a maneira de agir do bope,adoraria ver uma policia igual a essa em são paulo,lugar em que é moda ser “bandido”. pra mim bandido deve estar preso,e se ele se arma para trocar com os homi,ou mesmo intimidar um morador,pensando que aquela arma lhe da respeito, deveria sentir o calor do proprio projetil que ele porta. …….. a melhor parte do filme na minha opnião é aquela em que eles debatem na faculdade sobre o caos da segurança. ja apanhei da policia,mais hoje eu vejo que nem certo nem errado,é uma opçao,do mesmo modo no qual eu escolhi a opção de naquela hora estar co o beck na mão.

Por: frederico pereiracruz – Em: 24/01/2008 19:41:56


Eu gostei do filme… Achei mto boa a parte em que eles dismistificam aquela imagem do “playboy santinho”, que posa de vítima. Afinal, todo aquele que “fuma o seu” contribue para o tráfico e a violência. É isso que a sociedade precisa compreender! Se vc é usuário de drogas, pense nisso… (isso depois de pensar no mal que você faz a vc mesmo primeiro, né?).

Por: Noise D – Em: 22/01/2008 18:23:42


Uma de minhas crises com o filme é pq ninguém questionou a covardia do André Matias diante do playboy que o caguetou. Será o retrato da realidade do BOPE que mata o favelado mais tem medo das consquências diante a burguesia… falou pra caralho que o viciado sustentava o tráfico, mais só deu uns tapas no boy… o baiano, este sim se fudeu

Por: Rangell Santana – Em: 15/01/2008 15:03:45

1 comentário

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