Opinião: Coisa de doido

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Por Fábio Emecê.

Diante dos fatos acontecidos no carnaval, nossos apontamentos enquanto coletivo para se ter alguma sensibilidade diante de nossas construções enquanto sujeito histórico e consequente reprodução ou reconstrução daquilo que somos e podemos ser parece teoria da conspiração.

Porque apontar uma construção simbólica que precisa de questionamento e ressignificação é um ato violento que fere a liberdade individual do outro e limita conceitos tão amplos e essências como o amor, por exemplo.

E não adianta tentar ficar explicando que existia um mundo antes da gente chegar, que existiu e existem construções simbólicas que ainda se perpetuam. Valores, imagens, intenções que funcionam ou não de acordo com o lugar de sua fala, da sua importância, de como isso é difundido e de como isso chega, parece bobagem vindo de nossa boca.

Difícil aceitar que somos sujeitos históricos influenciados por tudo em nossa volta e, a partir desse entendimento, perceber que o conceito sem a imagem fica sem sentido. E se a gente não se dispor a perceber o conceito, a imagem e o que representa de fato, os elementos de escolha ficam escassos.

Então amigas e amigos, quando falamos sobre o racismo e suas operações, o que tá em jogo é o processo histórico, onde grupos de pessoas são hierarquizadas. O que um grupo faz, fala e produz é válido em detrimento de outro que o que faz, fala e produz.

Quando apontamos a opressão ao nosso corpo, nossa alma e nosso intelecto, não estamos apenas expondo nosso ponto de vista, estamos pautados naquilo que sofremos primeiramente, depois nos pautamos nos relatos inúmeros de preta e pretos que são contemporâneos a nós e os que vieram antes de nós e também nos inúmeros livros, artigos, textos, monografias, dissertações e teses.

E sendo o processo histórico implacável, somos tachados de arbitrários, incisivos e ainda recebemos dicas de como devemos fazer as coisas de fato, justamente questionando a nossa fala, feitura e produção diante da opressão. Um tutorial de como se livrar da corrente, se esquivar do chicote, se esconder da bala de forma ordeira e pacífica.

Quando não aceitamos as ideias, somos tachados de fanáticos, porque o que importa é a coerência das ideias, não importa quem fala e qual o lugar de fala. Não importa seus interesses e o que eles representam, o que importa é a coerência.

Sempre pensei que a coerência tem a ver com analisar a fala dos sujeitos nos quais você problematiza, antes de mais nada. Por exemplo, se eu for falar de feminismo sem antes levar em consideração a fala e experiência de mulheres feministas, meu discurso fica incoerente porque simplesmente omito aqueles que fazem o feminismo ser um movimento.

Pois bem, diante dessa afronta de sempre querer dizer como devemos fazer as coisas e como devemos lutar, sem ao menos nos ouvir e compartilhar conosco nossas experiências, que não são de hoje, tem no mínimo uns 500 anos, gostaria de dizer que:

Liberdade individual implica capacidade plena de exercer seus direitos pautado na nossa mobilidade espacial e social. A história – se for estudada de fato – mostra quem tem essa capacidade plena garantida e como somos sujeitos históricos que se relacionam, trocam experiências e sensações. Por que não acreditar que nossos sentimentos estão isentos disso? Inclusive o amor, por que não?

Por favor, parem de dizer o que devemos fazer, coisa de doido isso. Ainda mais quando negam aquilo que sentimos, pensamos ou fazemos. Apenas parem!

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