Opinião: Carnaval, um colorido em preto e branco

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O Brasil é mesmo um país de contrastes e contradições. E todo ano parece uma repetição do anterior, em muitos aspectos. Isso se não fossem alguns novos acréscimos de falta de vergonha, abusos de toda ordem e excessos.

Por Diego ‘Noise D’.

Cada um de nós tem sua escala de valores. Isso é fato. Também verdade, todos nós proviemos de “escolas de educação” diferentes. E não falo da escola onde passamos boa parte da vida estudando. Ou pelo menos muitos de nós… Falo da educação que ganhamos de nossos pais. Aquela, na minha opinião, mais importante e decisiva, pois é capaz de nos diferenciar mais nitidamente das demais pessoas, em nosso dia-a-dia e nas relações interpessoais. Digo tudo isso para que você compreenda que meu juízo de valor pode ser – e, muito provavelmente, é – totalmente diferente do seu. Em suma, o que para você pode ser algo comum e corriqueiro, para mim pode ser algo escabroso e inadmissível – e vice-versa. Dito isso, prossigo…
O que vemos na época de Carnaval? A festa do povo. A beleza de carros alegóricos e fantasias coloridas. O batuque bem conduzido pelo mestre da bateria. Sim, tudo isso. Tudo isso e muito mais: (…) O pai de família, bêbado, cambaleante, assediando outras mulheres, desrespeitando a si mesmo e a sua companheira. A rapaziada mijando pelas esquinas. Homens e mulheres oferecendo seu corpo em nome do prazer transitório e da falsa IMG3sensação de poder. A falta de educação dos turistas. O lixo pelas ruas e o descaso com a natureza… É, você pode estar pensando, “pode parar por aí!” Eu paro, mas não sem antes falar do despreparo e da violência policial. Da violência moral. Da baderna proporcionada pelo próprio folião. E aí penso: será que eu e você, leitor, concordamos em alguma coisa? Sim, porque daqui a pouco você pode dizer “caramba, esse cara só vê os aspectos negativos da coisa! As pessoas não podem mais se divertir?“. Compreendo seu ponto de vista, se assim o for. No entanto, também faço a você uma pergunta: existiriam limites? Tem gente que gosta de dizer: “minha liberdade termina onde começa a sua“. Taí uma frase que chega bem perto daquilo que considero uma boa escala de valores.

Já não é a primeira vez que discorro sobre esse assunto (Leia “Vivendo num abismo“, escrito em 2006). E, temo, não será a última. Afinal, o Carnaval é uma festa do povo, para o povo. É um dos fenômenos culturais mais conhecidos no mundo. É marca registrada do “país das trapalhadas” chamado Brasil. Mas o fato é: nosso Carnaval já não é mais o mesmo. Não mesmo! Foram-se os tempos em que os enredos carnavalescos tratavam de assuntos sérios. Foram-se os tempos em que tínhamos os bailes nos clubes, com todo seu charme e organização. É, os tempos são outros. As gerações se sucedem e o caldo parece engrossar cada vez mais e mais.

Não sei. Não sei se é pelo fato de que essas novas gerações – dizem por aí – estão cada vez mais precoces. Não sei se é em virtude da era da informática e da internet, que, sem controle, dissemina todo tipo de informação e burrices… Não me entenda mal, leitor. Quando falo “burrices”, me refiro a todo tipo de informações que não carregam consigo aspectos positivos e/ou construtivos. E como é fácil acessar pela web todo tipo de bobagem. Como é fácil perder o foco e distrair-se com coisas fúteis hoje em dia. Agora, imagine nossas crianças crescendo em meio a tudo isso e sem contar com uma educação familiar verdadeiramente presente, formadora de um caráter reto e de valores morais equilibrados…IMG2

É Carnaval no Brasil. E, em outras partes do mundo, também. Das formas mais diferentes… E aqui estou, escrevendo essas linhas. Divagando sobre
uma realidade que não posso, sozinho, mudar. Fica a tristeza de ver nossa juventude – e boa parte de nossos adultos – se perderem em meio ao frenesi e ao desregramento.

Não sou puritano. Não sou santo. Mas senti-me movido a escrever essas palavras. Cada um com seu juízo. Cada qual com suas conclusões. Vivemos em fevereiro um colorido em preto e branco…

Para finalizar, proponho que leiam esse trecho de uma citação, retirada do texto “Rap: arte ou materialismo?“, publicado no dia 5 de março de 2004:

“(…) A decadência da arte, neste século, é o resultado inevitável da CONCENTRAÇÃO DAS IDEIAS SOBRE AS COISAS MATERIAIS (isto é, o materialismo, a ostentação, a busca pelo poder), e essa concentração, a seu turno, é o resultado da ausência de toda a crença na espiritualidade do ser (ausência de espiritualidade, ausência de um ideal, ausência da fé no ideal que acreditamos). O século não colhe senão o que semeou. Quem semeia pedras não pode colher frutas. AS ARTES NÃO SAIRÃO DE SEU TORPOR SENÃO POR UMA REAÇÃO PARA AS IDEIAS ESPIRITUALISTAS. (…) Como o (…) músico poderia ligar seu nome a obras duráveis, quando ele mesmo não crê no futuro de seu trabalho; quando não percebem que a lei do progresso, essa força invencível (…) lhe pede mais que pálidas cópias de criações magistrais de artistas do tempo passado?” (Allan Kardec, Obras Póstumas).

*O texto ‘Um colorido em preto e branco’ foi originalmente publicado no dia 17 de fevereiro de 2010.

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