FSP: Don L troca ideia sobre sua trajetória e seu novo trabalho
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Em entrevista recente, Don L compartilhou sua visão sobre os desafios do gênero musical e as transformações culturais que ele busca imprimir em sua obra. Seu trabalho mais recente propõe um retorno à utopia em meio à distopia, explorando a ideia de imaginar uma vida coletiva voltada para o viver, e não apenas para o sobreviver.
“Hoje em dia, tudo é sobre escapismo, sobre fugir da situação individual. As pessoas se agarram à ideia de serem escolhidas por algo maior, enquanto o coletivo é deixado de lado”, reflete o rapper. Don L critica a busca incessante pelo sucesso individual e os valores consumistas que permeiam a sociedade, questionando a ostentação promovida por artistas em um país onde a desigualdade social é abissal.
Para Don L, o conceito de malandro também foi capturado por valores neoliberais. O rapper lamenta a perda de uma postura que resistia ao sistema, sendo agora substituída por um modelo que glorifica a riqueza a qualquer custo. “O malandro de hoje quer ser bilionário no meio da miséria. O rap virou mais sobre marcas de luxo e menos sobre a realidade das ruas”, critica.
Inspirado por artistas como Kendrick Lamar e Kanye West, Don L reconhece as contradições no cenário internacional do rap. Ele aponta que, enquanto Kendrick busca abordar temas críticos dentro do mainstream, Kanye representa uma postura ideológica oposta, com tendências de extrema direita. “Ambos, de certa forma, atuam de maneira imperialista, impondo a cultura americana sobre outras”, observa.
Don L narra sua trajetória de Fortaleza até São Paulo, passando por momentos de dificuldade, como a venda de CDs piratas nas ruas. Foi nessa fase que ele teve contato com influências musicais que marcaram sua produção, como o samba e a música popular brasileira. Essa vivência resultou em uma abordagem única, que rejeita batidas norte-americanas em favor de sonoridades brasileiras.
“No começo, ninguém acreditava que um grupo de rap de Fortaleza pudesse ser relevante no Brasil. A gente teve que criar algo totalmente nosso, com sotaque e influências brasileiras, para abrir caminho”, recorda.
Outro ponto destacado por Don L é a falta de criticidade no cenário atual do rap e da música em geral. Ele lamenta que a ausência de uma crítica sólida favorece a banalização do gênero, onde obras de qualidade e produções medíocres são tratadas de forma semelhante. “Hoje, o hype define tudo. Não há mais quem diga: ‘Isso aqui é melhor por causa disso, disso e disso'”, desabafa.
NO SPOTIFY: Don L reflete sobre tecnologia, subjetividade e liberdade | A Entrevista
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