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Conheça o projeto Jazz Rap, de Gilmar Andrade

Conheça o projeto Jazz Rap, de Gilmar Andrade

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DJ Gilmar – Foto, Erica Bastos

A fusão Rap+Jazz sempre foi um casamento perfeito, nos anos 90 artistas como A Tribe Called Quest, Digable Planets e os grandes Guru e DJ Premier fizeram essa mistura com muita excelência. Aqui no Brasil essa  intersecção entre o Rap e o jazz também rendeu frutos

Um desses frutos é um projeto que se formou nos porões culturais de São Paulo. À frente dessa iniciativa está Gilmar, DJ, MC e produtor que moldou sua trajetória a partir da vivência nas ruas do Rio de Janeiro até se tornar figura central nas jam sessions da Matilha Cultural, aqui em São Paulo

“Bom, eu sempre gostei de música instrumental, sempre gostei do instrumento orgânico, né?”, conta Gilmar, relembrando suas raízes. “Cresci no Rio de Janeiro, então eu tinha muito acesso à galera tocando samba. Eu achava da hora, mas eu sempre me encantei muito pela guitarra, violão, baixo.”

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Marcos Fischer Trio – Foto, Erica Bastos

A transição do rock para o Rap foi marcada por inquietações estéticas. O estilo quadrado das batidas não o satisfazia. “Eu achava que faltava alguma coisa, né? E aí eu falei: ‘Pô, vou montar um grupo’.” Assim nasceu o Impacto Verbal, seu primeiro grupo, no qual assumiu os vocais e as pickups.

O músico então, passou a circular entre diferentes cenas musicais, incluindo os festivais de hardcore como a tradicional Verdurada, em São Paulo. “No começo a galera me olhava meio torto, né? Pô, esse maluco aí do hardcore do Rap aí”, lembra. O desejo de fusão o levou a criar a banda Afroindígena, em 1998, um projeto que unia rock, Rap e referências culturais latino-americanas. “Fizemos um festival chamado A Casa Caiu. Era 10 bandas de hardcore e 10 grupos de Rap. Um se apresentava no intervalo do outro.”

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Negra Pan – Foto, Erica Bastos

A virada definitiva, no entanto, veio em 2012, quando saiu de Guarulhos, após passar um ano estudando Cinema, em Florianópolis, o músico veio morar no centro de São Paulo, e se deparou com um cenário efervescente da Matilha Cultural. Ali conheceu músicos da banda Mantiqueira, como o trompetista Walmir Gil, o guitarrista Jarbas Barbosa e o baixista Milton Leonardes: “O Valmir me falou: ‘O dia que você quiser vir, microfone tá aí. Você nem precisa falar nada, só chegar cantando’. Eu falei: ‘Não fala isso não, porque eu gosto muito de jazz. Se você falar isso, eu vou morar aqui’”.

A ideia era simples: improvisações jazzísticas com o lirismo do Rap. “Falei: ‘Vou fazer um jazz Rap no final do seu show. Me dá 10 minutos e eu faço uma apresentação rápida’.”

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Núbio (Carlos Avonts) – Foto, Erica Bastos

O sucesso foi imediato. De dez pessoas, a plateia pulou para cinquenta, cem, até que um dia o evento recebeu uma multa por fechar a rua. “Foi foda. E eu tava tocando com os caras que eu sampleava”, diz Gilmar. “O que eu estava vivendo ali era muito mágico.”

Após algumas temporadas no Matilha Cultural com bastante público, inclusive, o Nota Reais teve que parar  e Gilmar voltou para seus projetos

“Comecei a fazer meu projeto solo de novo, discotecar. Na época, eu era DJ do grupo SNJ, então eu voltei a tocar com a SNJ e fazer meus trabalhos solos, mas não por muito tempo, logo depois numa visita ao Matilha Cultural, o projeto Notas Reais volta, entretanto com novo nome e outros músicos”.

Hoje, o Jazz Rap segue, com algumas mudanças: “Eu pus meu projeto para caminhar, fui chamando os amigos, e estamos tocando direto. Tem o Lucas Gomes no trompete, o Vinícius Chagas no sax… Um é monstro, o outro é um animal”, brinca.

O projeto percorreu vários espaços: além da Matilha, passou pelo Jazz nos Fundos, Estúdio Lâmina, Serralheria, e também pelo Criabar 011, na Bela Vista. “A galera colava mesmo quando era pouca gente. E teve gente que me dizia: ‘Não desiste não, sua festa é muito louca.’”

 Sobre o futuro Gilmar pretende expandir ainda mais o Jazz Rap, e levar música de qualidade, orgânica e democrática para todos, o centro de São Paulo é um lugar de início, mas a quebrada e o Sesc estão na mira de Gilmar. 

“A proposta também é  mirar os meios institucionais.  Eu quero tocar esse projeto muito no SESC e nos centros culturais. Seria ótimo poder também chegar nas quebradas”.

Segundo Gilmar, o projeto continua com muita resistência: “A gente não toca toda semana, mas quando rola é com alma. Porque jazz é isso, né? É sentimento. E o Rap é a rua. Quando junta os dois, é minha história. É o que eu sou.”

Erica Bastos é jornalista e fotógrafa. Filha de nordestinos, do sertão da Bahia, ama suas raízes e procura sempre trazer o olhar de quem está dentro da periferia para o mundo, sem estereótipos.