MC carioca faz trilogia de vídeos que retratam a realidade atual do país

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Montagem retirada das redes sociais do artista

O rapper Funkero acaba de lançar uma trilogia de vídeos com faixas extraídas do seu segundo álbum, ‘Poesia Marginal – Criminologia Pt. 2‘.

O menino de São Gonçalo sempre foi agressivo nas rimas. A primeira vez que ouvi seu nome foi na época que as batalhas de freestyle estavam no auge no Rio de Janeiro. O bairro da Lapa fervia com a Batalha do Real, que gerou a Liga dos MCs. Pouco tempo depois fiquei sabendo mais sobre sua história no documentário ‘L.A.P.A – Um filme sobre o Rap carioca’. MC Marechal andava com umas cópias na mochila e me deu uma na época. *Não demorou muito e na metade de 2008 ele lançou ‘Poesia Marginal Mixtape’, na festa de lançamento, no Cine Lapa em 10 de julho de 2008, rolou até a exibição do documentário ‘L.A.P.A’.

As faixas usadas nesta trilogia foram “Desordem & regresso” (Capítulo 01), “A burguesia fede” (Capítulo 02) e “Deus abençoe a morte” (Capítulo 03). Estes poderiam ser títulos de muitos Raps dos anos 90 ou até mesmo de músicas de bandas punk. Sei um pouco sobre a história do Rap no Rio de Janeiro, o suficiente para saber que existiram MCs e grupos de Rap muito mais combativos, conscientes e reais militantes de causas raciais e sociais do que o MC Funkero. Hoje tenho notícia de poucos em atividade e/ou em evidência na cena, mas eles estão lá, continuam de alguma forma na militância e na mesma luta.

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Com estas três faixas, os vídeos e até mesmo com o álbum, Funkero conseguiu retratar muito do que estamos vivendo desde antes do golpe. Tudo está resumido nos títulos das três músicas: a desordem, o regresso, a burguesia fétida e hipócrita e o “Deus” dos cidadãos de bem abençoando tudo, inclusive a morte. A sequência de imagens dos vídeos mostram ele sendo sequestrado, torturado, espancado, transportado para a “desova” e no final enterrado. No 1º Capítulo ele dá o tom e questiona ele próprio e toda uma geração: “o que que aconteceu com a nossa geração, com os filhos da revolução? / o que que deu errado com a gente? / não éramos nós que íamos fazer diferente?”. A letra é um resumo de toda desgraça política que estamos vivendo, a violência, exaltação da ditadura, o racismo, desmatamento, desrespeito aos indígenas, etc.

Assista ao vídeo de “Desordem & regresso”

Depois de rimar a criação da “esquerda caviar versus direita cocaína”, o 2º Capítulo é mais protesto e uma reação natural a toda atitude e comportamento hipócrita da elite burguesa: “O maior medo do rico é o pobre pensar sozinho / por isso que livros são caros demais e droga é tão baratinho”. Claro que existem livros muito baratos, mas não dá pra discordar do raciocínio em relação ao pensamento dos ricos – mais armas, mais drogas, menos livros, menos escolas. E aqui ele fala de ricos de verdade, milionários, e de pobres que passaram a acreditar que fazem parte da elite. Coloca na conta deles, os burgueses, as mortes e injustiças contra pretos e pobres, acho justo: “todo aristocrata é culpado de cada tiro dado / burguês, senhor de engenho, PM, capitão do mato / vocês se julgam elite, são cúmplices de assassinato”. Na letra ele inverte um lema antigo e muito falado atualmente para “político bom é político morto”. A música termina com a participação do DJ Erik Skratch que usou colagens do Criolo Doido, GOG e uma outra que ainda não consegui identificar.

Assista ao vídeo de “A burguesia fede”

O 3º Capítulo traz uma letra que aparentemente é desconectada das outras duas, isso por conta da falta de temas políticos, raciais e sociais. É uma música sobre as várias vidas, mortes e ressurreições diárias a que estamos sendo submetidos. Como está na trilogia, faz parte de uma história e não dá pra dissociar essa faixa das outras. Cabe interpretação. Assista todos os vídeos e faça a sua. Em todas as faixas ele faz referências a músicas dos anos 70, 80 e 90, principalmente do rock nacional, como Legião Urbana, Cazuza e Raul Seixas.

Assista ao último vídeo – “Deus abençoe a morte”

*Fonte: Acervo Bocada Forte

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