Acervo BF | Entrevista com o grupo gaúcho Da Guedes

Essa entrevista faz parte do nosso acervo e foi feita por Ana Carolina, uma antiga colaboradora do Bocada Forte, que na época estava cursando a Faculdade de Jornalismo. Última edição em 20/01/2021.

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Com uma rápida passagem pela cidade de São Paulo, onde fizeram vários shows, os manos gaúchos do grupo Da Guedes deram uma entrevista ao Bocada Forte.

Bocada Forte: Quem são os integrantes do grupo?
Da Guedes:
Baze, Nitro Di e Negro X no vocal, DJ Deeley e César “O Padeiro” na percussão.

Em pé da esquerda pra direita -Jacksom, Negro X, DJ Zé Gonzales, Nitro Di e DJ Deeley. Agachados – DJ Hum, Baze e Marcelo D2

B.F.: Quando e como começaram?
D.G.(Baze):
Começamos em agosto de 93. Guedes é o nome de uma rua que tem no Rio Grande do Sul, no bairro do Partenon e era onde nos encontrávamos para trocar ideia, bater uma bola e onde no começo andávamos de skate. Lá era o lugar onde toda a rapaziada da área se encontrava, na Rua Guedes da Luz. Começamos a fazer umas rimas, a escrever algumas paradas. Iniciamos desde o primeiro degrau, quando não se tem nada, só a ideia para falar.

B.F.: Qual a importância do Hip Hop para vocês?
D.G.(Baze):
Isso é uma pergunta meio individual, mas eu acho que a importância do Hip Hop em primeiro lugar é você poder expressar os seus problemas e usar para isso uma cultura. O Rap é uma música, um estilo musical que você pode utilizar para expressar esses problemas, para informar as pessoas e para passar todos os conhecimentos que você aprende. A partir de uma cultura, desse estilo musical que é o Rap, você poder informar as pessoas e divertir ao mesmo tempo.

D.G.(Nitro Di):
Eu acho que a função mais importante do Hip Hop hoje em dia é o resgate que ele faz do povo da periferia, a tentativa de resgatar o orgulho do negro e tirar, pelo menos aparentemente, da exclusão social, dando a ele um outro caminho e ajudando na auto estima. O Hip Hop está conseguindo se comunicar com pessoas que antes era difícil, como por exemplo o pessoal da FEBEM, em escolas, levando o  Hip Hop para dentro desses locais, tornando-se um movimento que tem um comprometimento com a juventude.

B.F.: Como anda o Hip Hop no sul do nosso país?
D.G.(Baze):
O Sul está cada vez crescendo mais. Desde que começou o Hip Hop aqui no Brasil, o Rio Grande do Sul já passou a fazer parte, os bailes em Porto Alegre aconteciam como em São Paulo, mas claro que em proporções menores. A cidade de Porto Alegre não é tão grande, então fica mais fácil a comunicação entre as pessoas e é essa união que está fazendo com que o movimento Hip Hop de lá cresça. A mais ou menos três anos, duas rádios passaram a tocar Rap, aumentando o número de eventos ligados ao Hip Hop e o números de grupos. Na televisão tem um programa que se chama “Hip Hop Sul”, feito todos os sábados, dando oportunidade a quem está chegando.

B.F.: Qual a opinião de vocês sobre a mídia?
D.G.(Baze):
A mídia tem que ser usada para o lado do Hip Hop. Se você souber usar a mídia assim, mostrando a dificuldade das pessoas que vivem na periferia em conseguir estudo, hospital, medicamento, trabalho e que o Rap está ali dentro como porta-voz dessas pessoas, ela vai ser bem vinda.
D.G.(Negro X): Eu acho que a política e a mídia tem que ser encaradas do mesmo jeito, ou seja, se eles querem alguma coisa, eles tem que dar alguma coisa.

www.twitch.tv/bocadaforte
B.F.: Vocês do Da Guedes, fazem alguma coisa no lado social?

D.G.(Baze): Em primeiro lugar, nós fazemos e procuramos usar o que fazemos de melhor que é o Rap para ajudar as pessoas, participando de festas beneficentes, shows com arrecadação de alimentos, eventos contra a violência e além disso, temos um trabalho dentro da FEBEM e de escolas.

D.G.(Nitro Di):
O Hip Hop tem essa grande função e com o tempo a gente começou a descobrir qual era a melhor forma de ajudar as pessoas e beneficia-las. Com o Hip Hop, descobrimos dentro de nós um dom e tentamos enxergar isso em outras pessoas, então fazemos, junto com outros manos, um trabalho ao lado da Secretaria Municipal de Educação, que é desenvolver oficinas dentro das escolas municipais, dando uma perspectiva melhor aos jovens da periferia, levando cultura a eles. O DJ Deeley faz um trabalho dentro da FEBEM com a gurizada que já cometeu algum delito e que já são considerados delinquentes para a sociedade. Tentamos fazer uma prevenção e o Deeley já pega a rapaziada depois de ter cometido um delito, sendo um trabalho que exige uma dedicação bem maior, pois eles são muito carentes de tudo, não somente de informação. Estamos tentando montar lá na nossa área, no Partenon, junto com outros grupos, uma corrente, um projeto que se chama PH2 (Partenon Hip Hop) e tentar levar essas oficinas e criar uma parceria com centros comunitários.

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B.F.: O que vocês esperam para o futuro do Da Guedes?
D.G.(Baze):
O que nós queremos é manter o respeito dentro da nossa comunidade. Esperamos que com esse próximo disco, nós continuemos a ter o respeito que adquirimos durante esse tempo e que as pessoas entendam as nossas ideias e a levem para frente.

D.G.(Nitro Di):
A palavra-chave do Da Guedes sempre foi a união e espero que ela nunca se quebre. Passamos por vários problemas e às vezes achamos que as coisas não vão suportar, mas são apenas barreiras que o “cara lá de cima” coloca na nossa frente e esperamos superar tudo o que vier, como sempre fizemos e poder fazer nossa música tranquilamente, colocando a nossa ideia, falando a nossa realidade para as pessoas que estão fora dela e para as que moram dentro dela. Pode crê… Da Guedes não para!

B.F.: Queria pedir para vocês deixarem alguma mensagem.
D.G.(Baze):
Por experiência própria, eu queria dizer que todas as pedras que aparecem no seu caminho, todos os buracos, todos os enigmas que tem que ser desvendados para que você possa continuar o seu trabalho, todas as dificuldades que tu passa, são coisas que vão te dar alicerce, base para que o seu trabalho fique cada vez mais consistente. O Rap, o caminho do Hip Hop não é fácil, pelo contrário, é difícil, cheio de buracos, pedras, que você vai ter que passar de qualquer jeito e se não passar por isso, você não vai conseguir crescer. O principal caminho para quem quer fazer Rap é o estudo e a leitura, por que se não a sua letra e a sua ideia não vão ter consistência. Tem que ter informação para passar, e uma informação correta, verdadeira, com palavras bem elaboradas.

D.G.(Nitro Di):
Eu queria dizer para quem está começando no Rap, que tem que se dar conta de que a tua personalidade na realidade é informação. Escutem de tudo, comecem a se preocupar com os dois lados da coisa e não fiquem só falando, por que isso é muito fácil. Temos que reconhecer tudo e todos que fazem o bem. Não tentem assumir uma personalidade logo no começo, sem encarar a vida e ver que existem várias coisas que podem influenciar você na hora de tomar decisões. Então, quem está vindo agora, tem que chegar com respeito, com humildade e vê que tem um monte de gente que está batalhando por espaço e que tem espaço pra todo mundo, mas tem que ter a consciência de que não é só assumindo uma postura revoltada que você vai conseguir fazer alguma coisa diferente ou fazer diferença dentro do Hip Hop.

D.G.(Negro X):
É necessário que se tenha educação musical. Eu digo que não se vence só e que quando as pessoas se dão as mãos, é bem mais fácil chegar a um ponto comum.

Ouça ‘Cinco Elementos’, primeiro álbum do grupo

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