Acervo BF | Final do DMC 2003 + Entrevista com DJ Irie (Brasileiro que vive na Holanda)

Matéria do nosso acervo, publicada pela 1ª vez em 10.03.2003. Última edição em 08.04.2021

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Texto e fotos por Elio Stolz, correspondente internacional do Bocada Forte

Era começo de 1982, mas somente em fevereiro de 1983 o DMC veio a se tornar o primeiro clube de mixagem do mundo. Mais um ano se passou para a primeira convenção de DJ, no clube Hippodrome em Londres. O primeiro vencedor foi um londrino chamado Roger Johnson. No ano seguinte criaram-se DMCs em outros países. Seus representantes, como o americano DJ Cheese, roubou o show naquele ano.

Foi nessa competição que Cheese apresentou o scratch em uma competição, algo novo para a época e que deixou muitos dos competidores indignados com a novidade. Em 87 o DMC ganharia um grande aliado, a Technics, fabricante dos melhores toca-discos do mundo, a marca se tornaria o parceiro e patrocinador oficial do evento, o que possibilitou a confecção das desejadas pick-ups de ouro. Muitos foram os DJs que realizaram esse sonho – Cash Money, Cutmaster Swift, Q-Bert, DJ David, Roc Raida, DJ Noise e mais recentemente o tricampeão DJ Craze.

Confira a performance campeã do DMC 1986

Nesse ano de 2003, a competição não empolgou muita gente. O vencedor do ano passado, o japonês DJ Kentaro, desistiu de defender o título, deixando a tarefa para o segundo colocado, DJ Skully da Inglaterra. Ao total foram representantes de 18 países. O vencedor desse ano foi o DJ Dopey do Canadá, seguido pelo americano DJ Enferno e em terceiro, com muitas controvérsias, o inglês DJ Quest. Na competição por times a França, representada pelo Copu 2 Cross, ficou em primeiro. Na batalha pela supremacia o inglês DJ Tigerstyles saiu campeão.

Algumas atrações ainda marcaram presença, como as apresentações de TY e Killa Kela. Na segunda noite de competição, a plateia foi surpreendida por uma homenagem ao DJ do Run DMC, Jam Master Jay, morto ano passado. A festa acabou e muitos não gostaram dos resultados. Na opinião de muitos, os DJs estavam muito repetitivos o que tornou a competição em certos momentos um pouco chata.

Assista às performances solo do DMC 2003


À partir daqui mesclamos duas entrevistas que Élio fez com o DJ Irie, uma foi publicada no Bocada junto com essa matéria sobre o DMC e a outra foi publicada no Manuscrito, site que a Equipe do Bocada Forte fazia dentro do UOL com matérias especiais sobre a Cultura Hip Hop.


O DJ Irie bateu um papo com o Bocada e contribuiu com alguns comentários sobre as performances dos DJs.

BF: O que você achou do DMC esse ano? Como foi a sua participação?
DJ Irie: Ontem eu competi na Batalha da Supremacia. Me sai bem…já na segunda rodada. Mas não tem jeito, quando o juri não gosta do seu trabalho eles te mandam pra casa. É assim que é a vida aqui. Falando dos outros… Acho que tem muito Dj que faz muito barulho, ao invés de tirarem um som legal, usam muita técnica e pouca música. Acho que tem ter um balanço, não só técnica mas não só música.

BF: O que você anda aprontando de novo?
DJ Irie: Acabei de gravar um cd com uns amigos angolanos (grupo Black Bulls) com produtor holandês e tá indo. Também acabei de entrar numa academia de música popular. É um tipo de universidade, é um experimento que estão fazendo na Holanda, e eles me deixaram entrar. Tô aprendendo a cantar, tocar teclados, trabalhar em estúdio. Todas as coisas que um artista precisa saber.

BF: Tem algum plano de voltar ao Brasil?
DJ Irie:
Eu estive lá esse ano. Fiquei seis semanas. Adorei, fiz um show lá no Mood Club em SP. Não sabia que o hip hop no Brasil era tão grande. Eu toquei muita coisa underground e eles curtiram tanto que eu fiquei admirado. Não sabia que essa história estava tão grande. Quero voltar, gosto muito dos brasileiros o do jeito de ser deles.

BF: Quer deixar uma mensagem?
DJ Irie:
Gostaria de falar aos Djs e Mcs e todo mundo que tá trabalhando com o hip hop, tem que continuar cultivar essa cultura. Porque essa cultura já não tá mais acontecendo nos EUA, a forma que tem que ser o hip hop agora tá toda na Europa e na America do Sul. Acho que São Paulo tá virando a capital do hip hop no mundo. Então tem que continuar nessa. Obrigado galera!!!

Comentários sobre os DJs

DJ Quest – Inglaterra – “Os scratchs e o começo foram muito bons, depois disso as batidas com muita falha, pô! Muita falha, não gostei muito. Gostei do fim, ele pegou o mixer e colocou do lado, que ainda não entendi.”

DJ Tourkman Souljah – Dinamarca “Muito bom.. os scratchs dele são muito bons! Ele usou muita música clássica, a técnica com o Vivaldi foi muito boa. Eu não o conhecia, conversei com ele um pouquinho. Me surpreendeu”.


Essa abaixo foi a matéria publicada no Manuscrito, a entrevista foi feita em 2002 e publicada em 2003, mas não sabemos a data exata de publicação. O Manuscrito era uma Revista Virtual, que foi inspirada na Revista Hip Hop na Veia, a primeira Revista Digital do Hip Hop Brasileiro. Criada pelo Tio Duda, a Revista foi a grande parceira de conteúdo nos primeiros anos do Bocada Forte.


UM BRAZUCA NO DMC – Por, Elio Stolz

Às vezes temos surpresas em encontrar pessoas em certos lugares. Nunca pensei em encontrar um DJ brasileiro competindo no DMC (acho uma injustiça o Brasil não participar desse campeonato). Estava fazendo a cobertura do DMC para o Manuscrito, quando um cara que estava um pouco acima de mim perguntou – Você é brasileiro? (ele fez a pergunta porque no meu flash tenho um adesivo da bandeira brasileira). Resumindo, o cara que me fez a pergunta era o DJ Irie, meio brasileiro, meio holandês.

Já alguns anos longe do Brasil, DJ Irie vive na Holanda. Na conversa que tivemos via e-mail, ele contou um pouco de sua trajetória nas pickups e seu envolvimento com o Hip Hop. Confira aqui um pouco dessa conversa.

Retrato falado

Meu nome é Irie Weergang Bove, tenho 23 anos. Eu nasci em São José dos Campos (com um pai Brasileiro e a mãe Holandesa) e passei os meus primeiros anos em São Paulo (onde a minha família mora). Mudei para Holanda com 9 anos, depois que meus pais se divorciaram. No momento eu estou morando numa cidade bem pequena chamada Heerenveen (duas horas de Amsterdã) e eu trabalho em uma fábrica.

O princípio

Comecei a me meter com Hip Hop com 15 anos. Um amigo meu me ensinou a fazer Beatbox e junto com ele e um MC formamos o grupo 8MM. Só fazer beatbox não era suficiente, então comecei a mexer com os pratos (usava equipamento da minha mãe ou qualquer porcaria de segunda mão, mas na verdade nada prestava).

Influências

A minha maior influência na época (garoto) era Funkmaster Flex. Eu também aprendi muito vendo vídeos do DMC 97 e ITF 97, Total Eclipse, Roli Rho, Babu, Static, Beatjunkies, etc… Com o grupo 8MM fizemos muito sucesso na Holanda e também na Bélgica. Não fazíamos shows em outros países porque o MC só rimava em holandês.

DMC

Estou competindo no DMC desde 99. Cheguei em terceiro lugar em 2001 (solo). Finalmente ganhei esse ano na Batalha da Supremacia. Para falar a verdade, aqui na Holanda não é tão difícil ganhar, porque não tem muita gente que compete. Eu gostei muito do campeonato deste ano, o japonês Kentaro mostrou um estilo completamente novo e isto eu adorei. Também fiquei bem feliz com o terceiro lugar do Dopey (Canadá). Eu só não entendo que o Skully (Inglaterra) chegou no terceiro lugar, eu não gostei nada do estilo dele, era muito atrasado. Eu também não curti muito a batalha dos grupos, saiu muito barulho e pouca música.

Hip Hop na Holanda

A cena aqui na Holanda está crescendo muito. Hoje em dia já dá para escutar Hip Hop na rádio e televisão diariamente. Aqui existe dois tipos: o Hip Hop Holandês e o Hip Hop inglês. Graças a Deus os dois tipos estão se misturando bem. Já tem até MCs rimando em inglês e holandês ao mesmo tempo. O que não falta aqui são Grafiteiros e B.Boys.

Futuro

Eu ainda não trabalhei com um nome grande internacional, mass eu sei que esse dia vai chegar. Acabei de gravar um CD com um amigo meu da Angola (tudo em português), e vou entrar no estúdio para gravar um mini-disc com um MC chamado Trase (Inglês). No momento estou me preparando para uma batalha bem famosa e de grande prestígio na Holanda, chama-se Turntablized e vai ser realizada em Amsterdã. Também já estou me preparando para a batalha do DMC ano que vem. De resto estou procurando um grupo fixo onde eu poderia tocar. Se eu não achar nada por aqui, talvez eu procure por algo nos Estados Unidos ou Inglaterra.

Hip Hop no Brasil

Eu conheço um pouco de Hip Hop Brasileiro: DJ Hum, Racionais, Marcelo D2, Verbo Pesado. Eu nunca entrei em contato com eles, mas quem sabe o que o futuro vai trazer…

Despedida

No fim gostaria de dizer que eu gostei do website e também estou muito feliz com o fato do Hip Hop estar estourando no Brasil!!! Meu e-mail para contato é irietunes@hotmail.com. Meu site está sendo construído, portanto fiquem no aguardo.

Um grande abraço, keep in touch PEACE!!!
www.centralhh.com.br

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