Jeru The Damaja e a batalha entre o amor e o dinheiro

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Arte do primeiro álbum de Jeru The Damaja

Fiel a seus princípios como MC, Jeru The Damaja tem uma carreira contundente na cultura hip hop*

Nos meados dos anos 90, o bairro do Brooklyn, em Nova York, entregou ao mundo uma legião de bons MCs ao hip hop. De cada canto da cidade, com todo o tipo de estilo, nomes como Notorious B.I.G, Busta Rhymes, GZA, Busckshot, Jay-Z, M.O.P, Foxy Brown, Non-Phixion, AZ, East Flatbush Project e tantos outros entravam na cena.

Do leste da cidade de Nova York, surgiu Jeru The Damaja, um dos ilustres MCs do período. Em 1992, o ‘Dirty Rotten Scoundrels‘, como proclamava-se, fez sua primeira aparição, no álbum The Daily Operation, da dupla Gang Starr (DJ Premier e Guru), juntamente com Lil Dap, do Group Home. Em 1994, Jeru fazia outra aparição num som do Gang Starr. A música era Speak Ya Clout, do álbum Hard To Earn. Semanas depois ele lançaria o seu primeiro álbum solo, The Sun Rises In The East, com envolvimento direto de Guru e DJ Premier, que produziu todo o álbum.

Dois anos depois do lançamento de seu primeiro disco, muita coisa mudou na indústria do rap, em especial no mundo do rádio norte-americano. Na época, a mídia passou a dar grande atenção a briga East Coast x West Coast, que tomava conta da cena. Neste mesmo período, álbuns como The Score, do The Fugees, e All Eyez On Me, de 2 Pac, levaram o hip hop ao topo e as grandes gravadoras mudaram drasticamente suas prioridades, buscando sua inserção no jogo do rap a qualquer custo.

Um artista como Jeru poderia se sentir tentado a mudar seu estilo em meio a este processo, mas o MC manteve suas origens de luta contra o sistema. Em seu segundo álbum, Wrath Of The Math, o artista fez críticas pesadas sobre várias coisas que não gostava na cena e abordou de forma contundente a luta entre a arte e o comércio. “Este álbum foi criado para salvar o hip hop e as mentes das pessoas que o escutam“, escreveu o artista.

Além do provocativo vídeo da música Ya Playin’ Yaself, Me Or The Papes foi outro exemplo da luta de Jeru contra o materialismo. Mantendo a linha da música Da Bitches, o rapper aborda a batalha entre o amor e o dinheiro no contexto de um relacionamento interpessoal, ilustrando seus princípios sobre o tema.

Já no single de 12 polegadas, Me, Not The Paper, lançado em 1997, juntamente com seu parceiro de produções, DJ Premier, Jeru muda sua narrativa para falar diretamente do hip hop e não de um romance.

Jeru The Damaja correu riscos em sua carreira por causa daquilo em que acredita. Mais de 20 anos depois, este artista definitivamente jamais abandonou seus princípios. Foi sempre tudo sobre ele, e nunca a respeito dos ‘papéis’.

ENTREVISTA EXCLUSIVA AO BF

O Bocada Forte trocou ideias exclusivas com Jeru em duas oportunidades, durante sua história de 20 anos. A primeira entrevista foi em 5 de março de 2004, por Gil Souza, e a segunda foi em 10 de janeiro de 2007, pouco antes do MC vir ao Brasil para apresentações. Confira!

Group Home, Jeru e Guru

Bocada Forte (BF): Faça um resumo de sua trajetória no Hip-Hop, quando você começou e o que fez até hoje.
Jeru The Damaja: Bem, eu comecei no Rap quando eu tinha, mais ou menos, 7 anos de idade nas ruas do Brooklyn, em Nova Iorque. Foi o minha tia – irmã de minha mãe – que abriu meus olhos para o Hip-Hop. Eu queria ser como os garotos mais velhos da vizinhança, basicamente foi assim que tudo começou. Mas se você me perguntar sobre alguns excelentes MCs, irei citar Kool Moe Dee, Melly Mel, Big Daddy Kane, Rakim, Kool G Rap… Em especial o G Rap. Todos eles me ensinaram muito. Mas quando eu ouvi “Rappers Delight” (Sugar Hill Gang), aí eu fiquei louco! Eu queria fazer a mesma coisa! Eu conheci o Guru (Gang Starr) quando eu tinha 17 anos e nós começamos a trabalhar juntos. Então quando o disco “Daily Operation” do Gangstarr ficou pronto eu cantei no single “I am the man” e o resto é história. Eu lancei meu single “Come Clean”, produzido pelo DJ Premier (Gangstarr) do meu álbum “Sun Rises In the East” em 1993, o álbum “Wrath of the Math” em 97, o “Heroz 4 Hire” em 2000 e o “Divine Design” em 2003.

BF: Você ainda faz parte da Gang Starr Foundation? Porque no seu último álbum não tem nenhuma produção do DJ Premier?
Jeru: Neste momento eu estou tentando fazer minhas próprias coisas e é por isso que não existe nenhuma faixa feita pelo Premier no Divine Design.

BF: Qual o seu envolvimento com a Cultura Rastafari?
Jeru: Meu pai e alguns amigos dele foram os primeiros Rastafaris de Nova Iorque, há uns 30 anos atrás. Então eu nasci dentro do movimento e cresci nesse ambiente, por isso a influência. Atualmente eu penso, que estou espiritualmente elevado (através do Rastafarianismo, Taoísmo e Budismo). Sou apenas um filho do Pai maior.

Se não fosse o Hip-Hop nós não estaríamos fazendo essa entrevista. Então o Hip-Hop é grande, algumas coisas precisam mudar, mas precisamos mudar o mundo no geral

BF: Qual sua opinião sobre a Cultura Hip-Hop atualmente?
Jeru: Eu acho que o Hip-Hop, como todas as coisas, tem evoluído. Hoje é mais um caminho para ganhar dinheiro do que uma cultura, mas em geral ele é um grande meio para pessoas de várias partes do mundo se unirem e falarem a mesma língua. Se não fosse o Hip-Hop nós não estaríamos fazendo essa entrevista. Então o Hip-Hop é grande, algumas coisas precisam mudar, mas precisamos mudar o mundo no geral.

Jeru The Damaja. Foto: 5th Yang

BF: Jeru, nós sabemos que a cultura Hip-Hop, em especial a música Rap, vem passando por um momento difícil, onde encontramos o ego e valores materiais cresecendo cada vez mais e dominando o jogo. Perguntamos: o que você acha disso tudo e como podemos lutar contra isso?
Jeru: Todas as coisas irão se modificar em algum tempo. Uma hora pra ruim, outra hora pro bem. Porém, se você é verdadeiro você somente precisa manter-se fazendo o que faz e pensa ser certo. Assim tudo de ruim que existe nunca irá te afetar.

BF: Fale-nos sobre o seu trabalho com a Gang Starr Fundation e a parceria musical com Guru e DJ Premier, Jeru.
Jeru: Guru e DJ Premier são realmente meus irmãos. Acredito que, por mais que o tempo passe para o Hip-Hop, as músicas que fizemos juntos, e também com Lil Dap (Group Home), serão sempre as melhores músicas já produzidas. Tudo porque ali havia verdadeira irmandade, afinidade. Foram momentos em que dividimos o amor pelo Hip-Hop e pela música.

BF: Deixe uma mensagem para o público brasileiro, agradecimentos e contatos.
Jeru: Para todas as pessoas do Brasil: sejam vocês mesmos e façam as coisas que te deixam felizes. Se você tem um sonho vá atrás, você pode ser o que você quiser. PAZ! Quem quiser entrar em contato, acesse o meu site www.jeruthedamaja.com

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*Adaptado do site Ambrosia For Heads

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