GOG: ‘Histórias não são só histórias, são vivências’. Poeta do Rap lança clipe ‘Anfitriã’

O Poeta do DF fala sobre seu novo videoclipe, amadurecimento e sua atual fase no Rap

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GOG durante a gravação do clipe. Foto: Claudinho Silva

É rimando sobre pertencimento, ancestralidade e vivência nos dias atuais que o rapper GOG celebra seus 55 anos de vida e 30 anos de carreira no hip hop. O single/clipe Anfitriã traz a voz que marcou uma geração no rap dos anos 1990 e continua a contar suas histórias, que também são nossas.

Além de preparar uma série de shows para este ano, o ‘Poeta do Rap‘, como é conhecido na cena, vai relançar seus clássicos e juntar com sons inéditos em discos de vinil, uma parceria entre a Só Balanço e Beat Records.

GOG é um dos principais artistas do rap brasileiro, o artista ajudou a moldar o pensamento político em diferentes épocas. O Bocada Forte conversou com o rapper enquanto ele estava em estúdio, trabalhando nos últimos detalhes do clipe de “Anfitriã”.

“A nossa luta é constante, pois as batalhas são renovadas pelo opressor, que está sempre buscando um novo nocaute, uma nova estratégia para desestabilizar seus oponentes. É por isso que, aos 55 anos de idade, eu não posso parar de fazer música. Para isso eu tenho que ler mais, tenho que cuidar da minha parte física, mental. E aí vem Marighela, vem aquele Manual do Guerrilheiro Urbano, que fala exatamente disso”, diz o rapper.

GOG durante a gravação do clipe. Foto: Claudinho Silva

Para GOG, hoje é um dia especial. O militante do rap não fala apenas sobre a necessidade das pessoas ouvirem suas ideias, também destaca suas razões. “Eu faço música preta brasileira, música revolucionária transformadora. Não é questão de vaidade, é de necessidade de ser ouvido.”

Enquanto presta atenção na finalização do clipe “Anfitriã”, o Poeta lembra que, para gravar esse trabalho, passou por várias comunidades: Quilombo de Caçandoca, na região de Ubatuba (SP), Favela do Monte Azul, na zona sul de São Paulo, foi até Embu das Artes no Teatro Popular Solano Trindade. Correu as ruas de Brasília, passou por mesquitas, pela resistência negra do DF e o Instituto e Comunidade Praia Verde.

“O clipe é muito emocionante quando você vê a história, a gramatura e tudo que está envolvido, tem a certeza disso. ‘Anfitri㔑 retrata histórias, mas histórias não são só histórias, são vivências.”

Quando é instigado a olhar no retrovisor para rever o início de sua carreira, GOG é direto:

“Eu não tenho mais essa prática de olhar pelo retrovisor. Eu vou pra frente, ando sempre olhando pra frente, percebendo as coisas. Penso no passado, mas o passado é algo rápido, há muito o que fazer no presente.”

Segundo o rapper, a música de luta, como é a do hip hop, muitas vezes nasce desacreditada pelos próprios artistas, mas, ao mesmo tempo, na caminhada, essa música vai trazendo uma visão de mundo onde percebem tudo que passou. GOG chama esse fenômeno de processo de desintoxicação mental. “Quando você está fora desse plano, chega a necessidade de abordar mais pessoas, de trazer mais pessoas”.

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Ao invés de olhar pelo retrovisor, o Poeta pense em quem ele é hoje. “Por outro lado, eu sou um quadro que não está na parede do movimento negro, do movimento político transformador brasileiro… e planetário também, por que não? Sei que um quadro desse não se pinta da noite pro dia”, afirma.

“Eu sou um fruto de investimentos. O hip hop investiu em mim, as pessoas investiram em mim, lideranças investiram em mim. Então eu tenho que dar vida a esse corpo para que esse corpo possa levar o mais adiante possível as mensagens, as vivências, os traumas e as experiências da caminhada”, diz GOG ao reafirmar a ancestralidade, continuidade e respeito pelos que estão ao seu redor.

Ao falar de seu atual momento, o rapper inverte a função do retrovisor:

“O retrovisor pra mim é uma lembrança. À frente, eu vejo Gerson King Kombo, Carlos Dafé, Chuck D, Chico Buarque, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Nelson Triunfo, essa geração da Black Rio que está aí na ativa, não só os artistas, mas toda uma geração. A nossa geração, que pra muita gente já está velha, na realidade está numa fase em que seus integrantes são baobás, novos baobás. Se a geração atual soubesse disso, ela poderia colher melhor os frutos desse movimento chamado hip hop.”

Assista ao videoclipe da música “Anfitriã”

Confira a galeria de fotos do making of do videoclipe (Fotos por Claudinho Silva)

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