Rap, beats e ideias com DJ Caique

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DJ CAIQUE é um dos produtores mais requisitados da cena rap brasileira. Já produziu para artistas como MV Bill, Rashid, Projota, Terceira Safra, Ogi, Coruja BC1, dentre muitos outros, e participou de vários trampos junto com MC Sombra (SNJ), Xis, Pentágono, Shawlin, Sam The Kid (Portugal),  Dealema (Portugal), Valete (Portugal), Xará, 3030, Cartel MCs, Kamau e outros. Fundador do selo 360 Graus Records, Caique iniciou sua trajetória no rap lá pelo ano 2000 e começou a produzir em 2003. Extra-oficialmente, o DJ já lançou dezenas de trabalhos, com destaque para a série de coletâneas “Coligações Expressivas“.

Acompanhe o bate-papo de DJ Caique com o Bocada Forte!

Bocada Forte: Quando decidiu produzir beats? Quais eram seus primeiros equipamentos? Você fez algum curso de produção musical?
DJ Caique: Eu já tinha uma grande vontade de fazer batidas quando comecei como DJ, mas foi em 2002, na casa do Lum, que o Hurakán me apresentou o Fruity Loops, a partir daí comecei a fazer beats. Eu só tinha um PC com 512 de memoria, uma placa de som interna da MAudio, uma mesinha de 4 canais, 2 caixas montadas de 1992, e um microfone da Samson. Ainda continuo com as mesmas caixas e o mesmo mic (risos).

Não fiz curso, mas eu li muito na época (e leio até hoje). Eu era maluco por saber o que cada plugin fazia, o que era um compressor, reverb… Nessa época, meu irmão IDE, de Nova York, me deu alguns toques, aí acabei desenvolvendo a minha própria “cara” de mixagem e masterização, muito mais ouvido e coração.

Bocada Forte: Sabemos que hoje você possui mais recursos, mas o que você traz da época que começou que ainda influencia seus trabalhos?
DJ Caique: O amor pelo rap e o comprometimento com a cultura que me ajudou muito a ser uma pessoa melhor. Até hoje sigo a ideologia que eu tinha no início, mas sempre com ideias novas e evoluindo no que faço.

IMG2Bocada Forte: Como era o lance de divulgar seus beats no início de carreira? Desacreditavam do seu trabalho? Quais foram as primeiras pessoas a botarem fé na sua correria?
DJ Caique: No início era difícil, fazia alguns CDs, deixava consignado nas lojas da galeria em São Paulo, tinha o MySpace, onde divulgava os sons. E desacreditavam sim. Até os próprios amigos na época. O primeiro a pegar uma batida minha pra sair em um CD foi o Ogi, em 2004. O Hurakán também foi um dos primeiros.

Bocada Forte: É impossível não ligar seu trabalho ao começo da caminhada de muitos rappers que despontaram entre 2008 e 2010. Projota e Rashid são grandes exemplos. A projeção do trabalho deles alavancou seus projetos?
DJ Caique: Sim, sem dúvidas, fez o meu trabalho chegar em mais pessoas, tanto as batidas, quanto as mixagens e masterizações. Sei que meu trabalho alavancou os projetos deles também.

Bocada Forte: De produtor da cena alternativa a parceria com rappers veteranos como MV Bill. Como faz para não ficar repetitivo em suas produções e se tornar um cover de si mesmo?
DJ Caique: Eu pesquiso muito músicas dos anos 60, 70 e começo de 80. Isso  desde 2002, quem me conhece sabe que tenho um acervo monstruoso de trilha sonora, funk, jazz, mpb, salsa. Gostaria de ter tudo em vinil, mas infelizmente não dá (risos) mas é isso, todo dia escuto coisas diferentes, para fazer batidas diferentes.

MV Bill é monstro sagrado. Agradeço muito a oportunidade e a confiança que ele me deu, gosto muito de trabalhar com ele, é uma pessoa que admiro muito, fico feliz em ser seu amigo.

Bocada Forte: O que acredita que é seu maior diferencial na cena?
DJ Caique: Putz, nessa cena de hoje, o diferencial é o rap ainda na sua raiz,  mas sempre evoluindo, é claro.

Bocada Forte: Você também é MC, mas não segue muito as tendências que estão em evidência e saturam o cenário rap. Acha que conseguiu imprimir uma identidade em seu rap num mundo onde noitadas, baladas e maconha são os temas preferidos de muitos rappers?
DJ Caique: Eu acompanhei a “evolução” do rap. Muita coisa mudou, em relação ao conteúdo das letras, as batidas. As pessoas seguem tendência, né mano? É a parada da fórmula do que está dando certo pra fazer “sucesso”. A minha ideia sempre foi levar para as pessoas o que o rap me trouxe: sabedoria e muita luta. Tentar levar algo bom e quem sabe mudar a vida das pessoas, não somente a minha, saca? Eu continuo nessa luta.

Bocada Forte: Você fez um trabalho que reuniu artistas de diferentes estilos e épocas do rap brasileiro. Fale um pouco sobre esse trampo, ele continua forte e atual, você mudaria algo hoje?
DJ Caique: A ideia da ‘Coligações Expressivas’, que surgiu em 2005, foi de juntar MCs de diversos lugares, MCs que já têm uma caminhada, e MCs que estão no começo, assim levando para o público diversos estilos de líricas, de flows, vivências, e também mostrando os meus beats variados. Isso fazendo as pessoas que conhecem determinados MCs escutar os outros que ainda não conhecem, abrindo um leque maior de informação.

A única coisa que eu mudaria era a forma de lançar, pois lancei 44 sons inéditos de uma vez só, em uma época de singles (risos). Mas, por outro lado, foi bom o registro assim, pois foi algo inédito, juntar cerca de 70 MCs em 44 sons inéditos.

Bocada Forte: Na época, você chegou a reclamar da mídia alternativa, disse que os blogueiros não deram a devida atenção ao seu disco e ninguém fez uma entrevista contigo. Como vê o trabalho dos blogs de rap e hip hop hoje em dia?
DJ Caique: Sim, falei. Um trabalho como esse, de 3 anos, com muitos artistas do cenário atual aqui do Brasil, de Portugal, de Angola… Eu não tenho uma assessoria de imprensa. Isso estava caro pra mim. Não tive como investir nisso, mas mandei para diversos blogs e sites. Como não tenho aquela certa “amizade” acaba que as pessoas não dão muita importância.

IMG3Se eu te falar que a Coligações saiu mais na imprensa de Angola e de Portugal do que do Brasil? Então, é disso que estou falando (risos). Mas agradeço aos poucos e bons sites de rap, ao público por ter me ajudado a espalhar esse trabalho. Pra falar a real, teve MCs que participaram da ‘Coligações Expressivas 3’ que divulgaram uma vez. Teve gente que nenhuma vez divulgou o seu próprio som. Aí eu me pergunto: luto tanto por um trabalho coletivo, por que as pessoas são individuais demais? “Ah… Eu não vou divulgar o disco porque tem um monte de MC e vou perder meu espaço. Os meus fãs podem gostar de outro e tal” (risos).

O sucesso de outra pessoa não te faz cair, eu penso assim, e o Coligações é isso mesmo, espaço para quem é conhecido e quem não é! Seria fácil eu fazer um disco só com MCs conhecidos, mas e os que têm talento e não são conhecidos? Não merecem uma oportunidade? Por isso sempre busco novos nomes, isso desde 2005.

Bocada Forte: Já comercializou um beat que gostaria que fosse usado para uma rima sua?
DJ Caique: Não.

Bocada Forte: Já vendeu um beat e se arrependeu pelas rimas que colocaram nele?
DJ Caique: Não. Eu vendo poucas batidas, man. E sempre vejo os trabalhos antes, pra saber se me identifico.

Bocada Forte: Você acha que temas mais sérios serão mais abordados no rap daqui pra frente? Como analisa o poder lírico da cena como um todo?
DJ Caique: Temos grandes liricistas no rap, isso é fato, mas acho que o rap perdeu muito do que realmente era. Muito daquela parada de passar a ideia mesmo e da postura. Em questão de 3 anos a cena se transformou, ficou diferente. O público deu uma mudada. Antigamente as músicas de mensagem estavam sendo mais consumidas pela molecada. Hoje grande parte se importa mais com o estilo do MC do que com suas rimas, entende? Não sei se temas mais sérios vão ser abordados daqui pra frente, mas cada um faz aquilo que acha que tem que fazer.

Bocada Forte: Qual conselho daria aos beatmakers e MCs que estão começando hoje no mundo do rap?
DJ Caique: Falo uma parada: vocês podem ter referências, mas têm que tentar encontrar o seu estilo dentre o que você está fazendo. Conhecer a história do hip hop, entender o movimento e estudar bastante. Obrigado Bocada Forte, site que acompanho faz muito tempo! (risos)

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Edição e diagramação: Noise D.

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