Omnira, amor e compromisso no rap

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Foto: Adegadoaguinho. Evento ‘Cris SNJ Convida’ (Nov/2015).

Com conceitos e levadas africanas em suas músicas, OMNIRA trabalha para evidenciar sua luta por liberdade para todos, discursando contra o racismo, a favor do empoderamento de minorias, sobre a fé nos orixás e a liberdade de ser e agir.

Na companhia de diversas influências principalmente na parte do reggae, gangsta rap, samba e demais vertentes o grupo levou sua vibe positiva em todos os eventos que participou no decorrer do último ano e em 2016 trabalha seu álbum “GRITO DE LIBERDADE”, homônimo do single lançado em setembro de 2015, nas palavras do grupo: ”O intuito desse disco é que os ouvintes fiquem à vontade e viagem com as músicas, mas claro trazendo a responsabilidade abordando temas que os façam refletir.’’


Bocada Forte: Falem da formação do grupo, como ele surgiu e quem são integrantes?

Omnira: Surgimos a partir de uma conversa. Nós queríamos voltar pra cena, a Paty colou com uma letra muito loca e a gente desenvolveu essa música e criamos o grupo. Os integrantes são Paty Treze, Janaína D’Notria, Juliana Sete e DJ Neew. Temos entre 25 e 30 anos. A Janaína D’Notria e a Juliana Sete moram no Jaraguá, zona oeste de São Paulo. A Paty mora no bairro Pedreira, zona sul e DJ Neew no Embu, municipio bem próximo a zona sul.

Bocada Forte: Significado de Omnira e porque a escolha do nome com influência africana?
Omnira: Queríamos um nome africano, que expressasse o que queríamos dizer e como queríamos atuar.12031591_1510065339315688_6676484854181686037_o Aí ficou Omnira, que quer dizer Liberdade em yorubá. Somos descendentes de negros africanos, nada mais justo do que honrar nossa ancestralidade, como dar nome e voz ao nosso grupo.

Bocada Forte: Como funciona o processo de criação das músicas?
Omnira: Gostamos de escrever juntas. Processo de criação coletiva. Algumas ideias batem, outras nem tanto e outras em nada, mas acontece, quando nos falta tempo de nos reunir para criar, fazemos partes individuais e mandamos umas para outras: letras e áudios gravados. Nosso processo de criação é muito pessoal. Quando a gente se junta, a gente já tem uma pré do que vai desenvolver coletivamente. O bom é que mesmo cada uma com sua identidade musical , nossas ideias casam bem no produto final.


Bocada Forte: Qual a principal objetivo do grupo?

Omnira: Nosso principal objetivo é levar informação, empoderamento, poesia, entretenimento dentro de um conjunto, com tudo isso em proporções iguais. Nosso canto é um grito. Uma boca no trombone. A mulher ainda encontra muitas dificuldades dentro de qualquer setor da nossa sociedade. O hip hop não é diferente. A maioria esmagadora da cena é de homens. Mas as mulheres do hip hop são muito ativas. Tem mulher chegando de todo lado e isso só tende a aumentar a demanda de produto de mina na rua. O machismo existe, mas as mulheres resistem.

Bocada Forte: Qual a opinião do grupo com relação ao cenário atual da mulher no hip hop brasileiro?
Omnira: As mulheres estão a cada dia conquistando mais protagonismo e voz no rap. Sabemos que é um cenário machista, mas estamos condicionadas a lutar pelo nosso espaço, por direito e honra.

Bocada Forte: O movimento feminista no Brasil vem se organizando em diversas frentes para combater o machismo e violência contra a mulher. O Omnira se considera um grupo feminista?
Omnira: Sim! Com exclamação. Somos feministas, lutamos pelo direito das mulheres de serem livres de opressões (físicas, espirituais, materiais, seja o que for contra ser livre).

 

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Evento do dia das crianças no Grajaú-SP (Out/2015).

Bocada Forte: Muitos MCs dentro da música rap reproduzem machismo inclusive em videoclipes e declarações em shows e redes sociais. Como vocês lidam com essa situação, principalmente cantando muitas vezes em eventos onde a maioria dos grupos são formados por homens?
Omnira: Nosso discurso e postura permanecem os mesmos. Nos eventos não escondemos nossa militância. Alguns homens reagem mal e nos tratam como hora de entretenimento “Agora as minas vão cantar, vamos pro recreio.” Sai pra fumar, comer, saudar os manos, ir no banheiro… Não nos abalamos. Pisamos firme e fortes e continuamos nosso caminho. Nossa luta vem de anos, então sabemos lutar.

Nossa resposta vem nas nossas ações. Quando a gente sai de casa e a Juh deixa 4 filhos a Jana que também tem uma filha, a Paty e o DJ Neew (que é um homem que apoia muito nosso crescimento), que trampam e moram longe do nosso núcleo de maior atuação… Nosso amor e compromisso com o que fazemos. Nossas mensagens. Tudo isso responde pro machista que estamos vivas e dispostas a ocupar o espaço que também é nosso. Respostas vem com atos.

Bocada Forte: Quais grupos da cena atual do rap vocês indicam para ouvir?
Omnira: Gostamos de tudo. Escutamos muita coisa independente: Fora de Freqüência, Otah ideia, Preta Rara, Luana Hansen, Bia Doxum, Dory de Oliveira. É uma galera da cena independente, que o grande público as vezes nem busca acessar e são fodas com discurso.

Bocada Forte: Qual a principal meta do grupo e quais trabalhos estão por vir?
Omnira: Nossa meta é ser voz. Queremos falar das mazelas, das alegrias, das crenças, das diversas pautas da periferia, da nossa ancestralidade. Nosso nome não é liberdade em vão. Queremos ser, falar levar e agir conforme isso. Nosso trabalho não para. E estamos na articulação de um videoclipe, do nosso disco e buscando sempre sinceridade do nosso trabalho com nosso público.

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