A essência musical de DJ Zonattão

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FABIO ZONATTO
 é DJ, percussionista, pesquisador e amante da música. Residente de Bento Gonçalves, região metropolitana da Serra Gaúcha/RS é DJ das bandas Vitrola Funk e Billi Buldog. Zonattão é também apresentador e produtor do programa Black Beat, além de fazer parte da Universal Zulu Nation. Discotecário de casas noturnas nos estilos de Black Music, Hip-Hop e Samba Rock, iniciou suas atividades por volta de 1994 como percussionista, influenciado por ritmos como Rap, Reggae e Samba de Raiz. A partir daí, se interessou pela cultura de rua envolvido pela arte dos toca discos, passando assim a se dedicar a mesma. Nesta troca de idéias com o BF, Zonattão nos fala sobre seu trabalho o “Sampleado & Percussivo” que acaba de ser lançado em Vinil, suas participações musicais e seus projetos.

Bocada Forte – Você iniciou sua correria na música por volta de 1994, influênciado por diversos gêneros, porém iniciou como percussionista. O que te levou a cair pro lado dos toca discos e seguir como Dee Jay?
DJ Zonattão: Eu ouço rap desde o final dos anos 80 início dos anos 90. Mas até então o papel do DJ não tinha me chamado tanta atenção, mas lá por 96 quando vi o Planet Hemp num programa de TV, com o Zé Gonzales como mais um instrumentista da banda com a mistura de Rock e Rap, foi aí que tudo mudou e eu resolvi ser DJ, mais especificamente de banda. Foi aí que um pouco depois inseri os toca discos na minha primeira banda, a Metamorfos e depois fui  convidado pra ser DJ na Banda Vitrola Funk. Um tempo depois ingressei também na banda Billi Buldog.

Bocada Forte – Você se lembra qual foi o seu primeiro LP, e como foi adquirido?
DJ Zonattão:
Meu primeiro LP foi um que ganhei de presente de aniversário quando criança, foi o LP do Balão Mágico, (abafa o caso! hahahahah) mas o primeiro que eu adquiri mesmo foi o “Triller” do Michael Jackson.

Bocada Forte – O lançamento de um registro fonográfico é sempre algo valioso para o artista, se tratando dos amantes de Vinil o lançamento neste formato é algo inestimável. O ‘Sampleado & Percussivo’ em disco é a relização de um sonho?
DJ Zonattão: Sem dúvida. Como comentei com amigos mais próximos, pelo fato de ser o primeiro álbum de Turntablism do Sul do Brasil ou quem sabe até do Brasil mesmo, (os demais DJs que por favor me ajudem) era praticamente obrigatório ele um dia ser lançado em LP. E ainda por cima o fato de manter a cultura do vinil viva e a essência do elemento DJ do Hip-Hop.

1Vinil Sampleado & Percussivo

Bocada Forte – Após o lançamento em CD do “Sampleado & Percussivo” que foi em 2009, no mesmo ano você se apresentou no festival Expressões OI Porto Alegre, foi destaque no Trama Virtual e em 2012 destaque de uma revista Espanhola Hip-Hop Life. Nos fale sobre essas experiências.
DJ Zonattão: Simplesmente mudou a minha vida! Posso garantir que de tudo que já fiz na vida, o álbum foi o que mais deu certo. Imagine, o álbum foi gravado a partir de algumas produções criadas e espaçadas entre 2007 e 2009, tem uma faixa inclusive que foi um experimento lá de 2004. E a idéia do álbum foi sem pretensão alguma, simplesmente a parada era provar pra mim mesmo que eu era capaz de ter gravado um disco e por ser um trabalho experimental independente e muito diferente do que é feito na região onde vivo, saber que isso acabou atravessando o oceano atlântico. Isso foi  impagável, ao mesmo tempo provou que não foi à toa e é um caminho que devo seguir.

Bocada Forte – A percussão continua a lhe agregar como Dee Jay? Os 2 tipos de artes podem-se aliar?
DJ Zonattão: Sem duvida. Afinal os toca discos em uma banda não deixam de ser uma percussão analógica. Comparando com os instrumentos tradicionais de percussão eu comparo com uma cuíca, mas que vai até mais além. O fato de ter estudado um pouco de teoria musical, no caso partitura rítmica de percussão,  isso agregou muito musicalmente principalmente com a banda e também na produção de beats.

Bocada Forte – Este ano novamente foi colocado em votação uma proposta que regulamentaria a profissão de Dee Jay. Na sua opinião, isso seria algo bom ou ruim?
DJ Zonattão: Sem dúvida seria bom. Porque já se percebe que a profissão DJ é muito banalizada, seja pelo oportunismo de iniciantes, ex-Big Brothers e outras “Celebridades” ou pela tecnologia que fez com que qualquer mané sem o mínimo de conhecimento musical e técnico se torne “dj”, DJ P.V.P. “Play, Volume e Pause”. Na época quando só tinha vinil não tinha essa comédia toda!

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Bocada Forte – Neste trabalho a arte do Turntablism foi aliada a diversos instrumentos orgânicos, entre eles a percussão a guitarra além da utilização de samplers. O disco tem uma pegada inovadora, como foi a recepção deste trabalho por Dee Jays e amantes da música?
DJ Zonattão: Posso dizer que foi muito boa, pelo menos pra quem musicalmente não vive no “automático” ou no comodismo e tem conhecimento musical ou referências de música de qualidade técnica e conceitual. Foi surpreendente no sentido, de onde eu esperava uma boa recepção não teve tanto, e onde eu esperava rejeição teve boa aceitação. Por isso a questão da  Europa ter aceito bem no primeiro momento foi muito natural, e por aqui no Brasil em algumas matérias sobre o álbum fui mencionado como o DJ Vanguarda da Cena. Provavelmente o mais bacana de tudo, na minha visão, foi ter ganho respeito perante aos demais músicos que até então (e com uma certa razão, tendo base a onda e aparição de DJs e produtores da noite pro dia) ignoravam totalmente as produções e opiniões vindas de um DJ. Fiquei surpreso e até lisonjeado com um pessoal que comparou posteriormente este meu álbum com o conceituadíssimo “Nó na Orelha” do Criolo, como o Criolo é um MC, o “Sampleado & Percussivo” foi citado como o Nó na Orelha na versão DJ, por transitar praticamente nos mesmos estilos musicais. Mas como já foi mencionado acima, foi lançado em 2009 bem antes do Criolo que veio em 2011, então não fica a brecha de parecer que eu fui na onda do estouro do Nó na Orelha.

Bocada Forte – Você é idealizador da Liquid Souza Band. Nos fale sobre este projeto.
DJ Zonattão: Este projeto nasceu praticamente por acaso. Na edição de 2010 da II Semana da Música de Bento Gonçalves, foi aberto um edital com uma data da programação de shows apenas de bandas e músicos autorais da cidade e o trabalho deste álbum foi selecionado. A questão foi que no edital não era permitido utilizar nenhuma forma de acompanhamento, ( base instrumental em vinil, ou sampler, back in track, sequenciador etc..) então fui obrigado a montar uma banda especificamente para esta apresentação. O nome da banda veio na data da inscrição do edital mesmo, já que na época eu tinha descoberto uma sensacional banda de Acid Jazz de Chicago, que mistura Jazz, Soul, Funk, Rap e música latina e que possui DJ na formação, a “Liquid SOUL”. Aí foi óbvio! Uma versão abrasileirada, “DJ Zonattão & Liquid SOUZA Band”. O fato dos músicos convidados já terem tocado junto em outros projetos e no caso Felipe Taborda (Tabordex), ter gravado duas faixas no álbum e do Diegão Perin ter gravado uma, fez com que o resultado fosse sensacional. Na sequência fomos selecionados para  outros festivais e convidados para alguns shows, onde todos nós gostamos muito da vibe e da idéia até chegar a gravação do primeiro single. Inicialmente foi uma espécie de banda de apoio tá ligado, mas é uma banda de Jam Session, praticamente um parque de diversão sem pressão, sem compromisso, onde não chega a ter uma formação fixa e já passaram uns 9 ou 10 músicos diferentes. Certamente terão outros, é também um pouco daquela idéia de família, aquela turma do George Clinton e quem sabe um dia possa chegar a ter 30 ou 40 integrantes como foi o Funkadelic.

Bocada Forte – Tem algum novo projeto em andamento?
DJ Zonattão: Sim, em princípio o meu segundo álbum solo, onde já tenho algumas faixas praticamente prontas (Clique aqui para assistir) e provavelmente serão remixadas e remasterizadas pro próximo álbum. Mas como eu fiz toda a mão da produção do “Sampleado & Percussivo” foi desgastante, porque na realidade não se finaliza um disco e sim se desiste dele. A idéia do próximo é ter uma infra melhor e mais gente envolvida, pelo menos na finalização. Tenho a idéia do primeiro álbum da Liquid Souza Band em mente, que também vai depender da disponibilidade dos demais músicos e de muitos outros recursos de produção. E tem também aparecido vários convites pra outros projetos. Mas agora, no momento, meu foco está sendo na turnê de lançamento do LP, já que em 2009  quando foi lançado em CD por “n” questões, me faltaram oportunidades.

Pra fechar, quero agradecer mais uma vez o espaço do Bocada Forte, de vários amigos, os que contribuem, os que torcem e acreditam no meu trampo. Ao DJ Anderson da Ultramen que incentivou e abriu espaço pra que o álbum fosse lançado no seu selo Nego Preto, meu irmão Samuel que formatou o projeto de LIC pra prensagem do LP, do meu amigo de longa data e Apoiador / Patrocinador Thiago Guedes da Fenix Street Wear e a minha namorada a Carla que cruzou meu caminho há pouco tempo, mas já chegou somando.

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