UGangue materializa um hino em audiovisual pesado, conheça!

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Por Danilo Cruz (Oganpazan)

Não nos parece por acaso que a família UGangue esteja agora em 2020 retomando seus trabalhos com lançamentos novos, eles são necessários unidos. Uma banca de rap quando reunida pela consciência do hip-hop se unem para se fortalecer mutuamente pela autoidentificação produzida nas ruas, mas visa o fortalecimento de uma cena e consequentemente das favelas. Não se juntam para desfilar, em verdade uma banca é uma junção de soldados que se unem para guerrear.

UGangue é cangaço moderno, guerrilha contra o sistema de coisas que seguem a séculos oprimindo nosso povo, através do racismo estrutural e dos aparelhos de repressão do estado. Em 2014 saia a mixtape Rádio UGangue vol. 1, reunindo um bonde e junto com ele levando a frente a rica história do rap baiano. Dois dos criadores da banca Kiko MC e DaGanja, estão desde cedo produzindo história e arte, em grupos como Afrogueto e Verbo de Malandro (respectivamente). A União do Gueto (UGANGUE) reunia nomes fundamentais para a cena como Mobbiu, Dimak, Vandal, Galf AC, Rap Nova Era, Coscarque, Kino MC, CDoze, Saca Só.

Cada um desses nomes, já naquela altura possuíam trabalhos de ponta, além de forte atuação dentro da cena. No entanto, historicamente relegada ao apagamento por conta de um sistema midiático e de uma indústria cultural que insiste até os dias de hoje a não olhar para uma das cenas mais inovadoras e fortes do rap nacional, poucas pessoas tiveram acesso a essa primeira mixtape fora da Bahia. Seguiu-se daí no ano seguinte o lançamento da segunda mixtape da Rádio UGangue e muitos shows dentro e fora da Bahia.

Nos dois trabalhos o que se pode ver é uma espécie de coletânea reunindo trabalhos de cada um dos artistas, e músicas produzidas coletivamente. Ao todo são 32 faixas dos diversos artistas, mas já na segunda track da primeira mixtape era dado ao público conhecer o que se tornou um hino: “Na Trama”. Com os últimos lançamentos ocorrendo em 2015, de lá pra cá a banca nunca parou de trampar a vera, produzindo shows, eventos de quebrada e fazendo conexões com a Fundão em SP.

Em 2020 diante de um contexto político e social que tem esmagado as poucas conquistas que nosso povo teve nos últimos anos, a UGangue decidiu se reunir novamente em estúdio. Preparando uma série de lançamentos que começam agora com a estréia de “Na Trama” em videoclipe, num audiovisual produzido por Iury Taillan e Ícaro Luan, que foram os responsáveis por materializar em imagens um dos maiores hinos do rap baiano. Reunindo planos aéreos da famosa “fronteira” entre a cidade baixa e a cidade alta, forma geográfica através da qual Salvador se configura, o clipe apresenta os MC’s na rua, nos corres, e no show.

A UGangue hoje é composta por DaGanja, Rap Nova Era, Pivete Nobre, Kiko MC, Vandal e Galf AC, que já estão em estúdio gravando novas faixas para um disco, ainda sem data de lançamento prevista. “Na Trama” é também um registro do pioneirismo do Trap na Bahia, ao contrário do que geralmente é vinculado, a Bahia faz trap desde 2010 e nessa faixa em específico a banca utilizou um remix do pioneiro americano T.I. da música Trap Back Jumpin (2013). Onde Galf AC, Vandal e Ravi Lobo (Rap Nova Era), demonstrando em 4K a atualidade de uma música produzida 6 anos atrás, um hino atemporal para todos aqueles que entendem o rap como luta, como enfrentamento.Em tempos onde a música rap é cada vez mais tomada por brincadeiras e fake rappers, onde a pose e o dinheiro falam mais alto do que a qualidade e a pertinência, atualidade das idéias, a UGangue resiste.

Chegando em um momento de crise extrema em nosso país, e reforçando a luta pelas favelas, pelo povo negro em nosso país, por uma vida digna, com a linguagem das ruas, sem maquiagem, sem arma de brinquedo. Você leitor do Bocada Forte, está diante de quem tem pra trocar e troca, faz tempo hein!

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