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Qual Hip Hop que estamos construindo?

Qual Hip Hop que estamos construindo?

ESPALHA --->

“Eu reparo a indústria comandada entre brancos, te dando impressão que tu merece estar reinando / Fast Food do rap, alimento mental que fede e não alimenta / Você vende, mas seu patrão sai lucrando”

A rima da rapper Monna Brutal lança uma série de questionamentos no vídeo “Onde está o Hip Hop”

O crescimento da desigualdade econômica e social é uma marca inequívoca do modelo neoliberal consolidado nas últimas décadas (saiba mais). Nos EUA, onde muitos artistas ditam as tendências que imprimem o que é e será o rap por aqui, a classe trabalhadora viu seus empregos industriais desaparecerem e foi empurrada para uma economia de serviços marcada pela precarização e pela instabilidade (saiba mais).

Esse cenário de desigualdade não se limita às economias centrais. No Brasil, a influência do neoliberalismo também moldou a realidade socioeconômica, exacerbando disparidades históricas. O hip hop e o rap refletem essas contradições de forma contundente. Embora o gênero tenha se destacado como uma ferramenta de denúncia e luta coletiva nos anos 90, sua atual comercialização frequentemente promove um discurso de ostentação e individualismo que contrasta com seus princípios fundadores e é defendido por muitos membros de diversas áreas do cenário.

As redes sociais registram grandes discussões e debates sobre o tema. O canto falado foi capturado por narrativas de consumo que exaltam o acúmulo de bens materiais como símbolo único de prosperidade e, muitas vezes, rappers jogam na banca o papo de  “o meu sucesso é o sucesso dos meus” para justificar tal postura . 

Os integrantes do Bocada Forte sempre abordam essas questões com membros de outros sites, principalmente do Oganpazan. Essa estetização da ostentação, amplificada pelas plataformas digitais e pelos algoritmos, reforça valores neoliberais que privilegiam o individualismo em detrimento da coletividade. 

A mídia feita na base do copia e cola já abdicou faz um bom tempo de refletir sobre a cena, apenas segue o fluxo. No entanto, a realidade das periferias brasileiras, onde o hip hop encontra seu público mais fiel, permanece marcada pela exclusão social e pela ausência de oportunidades.

A precarização do trabalho, a concentração de renda e a desindustrialização também impactam o mercado da música, onde artistas buscam sustentar suas carreiras em um ambiente dominado por grandes corporações de entretenimento. 

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O OUTRO LADO

Nos quatro cantos do país, apesar dessas contradições, o hip hop também se mantém como uma potência transformadora ao propor soluções baseadas em princípios  da coletividade. Iniciativas comunitárias inspiradas pelo movimento fortalecem redes de apoio e promovem a autonomia das periferias. Eventos como batalhas de rima, oficinas de graffiti e projetos educacionais utilizam a cultura hip hop para combater a exclusão social e construir alternativas ao modelo capitalista tradicional. 

A luta contra o neoliberalismo também está presente nas letras de rappers que questionam a gentrificação, a violência policial e a desigualdade de acesso à educação e à saúde. Esses artistas resgatam a essência do hip hop como uma ferramenta de resistência política e social, conectando sua arte às demandas das populações marginalizadas. 

Um dos grandes problemas é conseguir romper as barreiras criadas pelas big techs e combater o discurso excludente e violento da extrema direita, que caminha de mãos dadas com o neoliberalismo. Os debates e ensinamentos, a arte e a ação de uma enorme parcela da cena são silenciados pelos algoritmos. Do lado “vencedor”, trava-se a luta do cada um por si. O capitalismo destruiu nosso senso de coletividade.

Para que o hip hop continue sendo uma força de transformação social, é necessário resgatar seus princípios fundadores e rejeitar as armadilhas do discurso neoliberal. E isso não é papo de guardinha ou tiozão ressentido da cena.

Precisamos valorizar e reforçar o que muitos de nós estão fazendo, mas não conseguem apoio efetivo:

Educação e Conscientização: promover iniciativas que eduquem as novas gerações sobre a história do hip hop e sua relação com movimentos sociais. (leia também)

Fomento ao Coletivo: incentivar projetos colaborativos que fortaleçam a economia solidária nas periferias e reduzam a dependência de grandes corporações.

Inovação Independente: criar e apoiar plataformas alternativas para distribuição de música que valorizem artistas independentes e o trabalho coletivo.

Articulação Política:  o hip hop como ferramenta para mobilizar as periferias em torno de pautas sociais e políticas, como a luta por direitos trabalhistas, igualdade racial e de gênero. (leia também)

Grana entre nós: se você acredita na cena alternativa, politizada e coletiva, coloque sua grana em iniciativas que são voltadas para os nossos.

O Bocada Forte, como veículo de comunicação, segue firme nessa construção.