Podcast “Da Rua pra Rua” estreia com discussão sobre ancestralidade, cultura hip-hop e desafios sociais
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O selo cultural hip-hop Ciclo Eterno, situado na Chapada Diamantina, interior da Bahia, lançou o primeiro episódio do podcast “Da Rua pra Rua”. Comandado por Infoguerra, a parada é um espaço destinado a explorar as raízes ancestrais da cultura hip-hop e suas conexões com ações comunitárias e experiências pessoais. O convidado inaugural é o rapper, compositor, corredor e ativista Carlos Rincon, que trouxe reflexões sobre lutas raciais, saúde mental, educação, literatura e musicalidade.
Carlos Rincon compartilhou sua vivência em Salvador, uma cidade descrita por ele como marcada por profundas desigualdades e segregação racial, apesar de sua história e forte presença preta. Ele relatou como sua trajetória foi moldada pela música, desde o reggae, influenciado por seu pai, até o impacto transformador do hip-hop. Um dos momentos marcantes foi receber, ainda jovem, o CD “Raio X Brasil” dos Racionais MC’s, que despertou sua consciência racial e social.
“Sempre questionei porque era tratado de forma diferente. O hip-hop foi uma porta para compreender minha história e buscar minha verdadeira identidade,” afirmou Rincon.
O episódio também abordou a comercialização da cultura hip-hop, a perda de sua essência educacional e a importância de resgatar valores e raízes. Rincon destacou o papel transformador do rap nas comunidades, citando influências como Malcolm X e artistas nacionais como Gog e MV Bill, que para ele, transcenderam o entretenimento para inspirar mudanças sociais concretas.
Educação e resistência: pilares fundamentais do hip-hop
Rincon reforçou a conexão entre hip-hop e educação, ressaltando a necessidade de sensibilizar antes de conscientizar, especialmente em um contexto onde a cultura foi, segundo ele, esvaziada pela indústria. Ele acredita que as ações comunitárias e a música ainda possuem potencial para mudar vidas e defende o autoconhecimento como um ponto de partida essencial.
“Educação é um passaporte para o futuro. Não se trata apenas de doutrinar, mas de ensinar valores,” declarou. Ele também incentivou pais a valorizarem o aprendizado, o esporte e as artes na criação de seus filhos, promovendo práticas que reforcem a autoestima e o orgulho racial.
“Sobre a Terra”: música como arma de transformação
Carlos Rincon compartilhou detalhes sobre seu projeto musical “Sobre a Terra”, atualmente em seu terceiro volume. A trilogia reflete sentimentos de amor e raiva como combustíveis para abordar temas como resistência racial e questionamentos sociais. Ele descreveu a música “Negro” como um manifesto contra as contradições do racismo estrutural e a hipocrisia social.
“Minhas composições são pautadas na integridade. Não vendo minhas ideias. Minha música é minha verdade, e é por meio dela que quero tocar as pessoas e incentivá-las a serem melhores,” concluiu.
O podcast “Da Rua pra Rua” propõe uma abordagem crítica e reflexiva sobre o papel do hip-hop como um elemento de resistência e educação, buscando reconectar a cultura a suas raízes históricas e comunitárias. A estreia foi uma demonstração poderosa do potencial do diálogo e da música para transformar consciências.
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