Pessoas com muito fazem pouco ou quase nada e pessoas com pouco fazem muito. Essa é uma grande realidade em nosso país. O povo pobre é solidário, ajuda o próximo e tira leite de pedra quando se propôe a ajudar. No extremo sul de São Paulo, no bairro Jardim Santa Teresa, na cidade de Embú das Artes está uma das provas desse fato, a Associação Zumaluma. Sem fins lucrativos e com poucos recursos, a Associação mantém uma biblioteca comunitária, com espaço para oficinas de Hip-Hop, capoeira, aulas de inglês, percussão, artesanato e ginástica.
Tudo isso no centro de uma favela, a Favela do Inferninho. No mesmo lugar onde a miséria traz conseqüências ruins para o povo, como o tráfico e o consumo de drogas, o pessoal da Zumaluma resiste e tenta mostrar para as crianças, jovens e adultos, outros caminhos através da leitura, da arte e da cultura.
A relação com o crime é de total respeito, cada um cuida da sua vida e as atividades na Associação seguem tentando fazer com que o povo da favela se interesse mais pela leitura e participe das oficinas e aulas, todas gratuitas. Os livros são emprestados aos moradores/sócios, que fazem uma carteirinha, um cadastro, levam os livros para casa e devolvem dentro do prazo estipulado, como qualquer outra biblioteca. A precariedade e a falta de recursos não amedrontam o pessoal da Zumaluma, uma máquina de escrever antiga para fazer as carteirinhas, um computador para cadastrar os livros, uma impressora matricial e uma impressora mais moderna (parada por falta de tinta) e um aparelho de fax são parte da estrutura administrativa da biblioteca.
O idealizador do espaço, foi o Vulto* (integrante do grupo de Rap Diagnóstico), que resolveu se apropriar do espaço dentro da favela em maio de 2002. Antes disso a casa era usada para o desmanche de motos e carros e para a venda e o consumo de drogas. A princípio era apenas uma biblioteca, com o passar dos anos outros espaços foram adaptados e reformados para que fosse possível realizar as atividades hoje desenvolvidas. Mensagens positivas e frases de conscientização escritas ou fixadas na parede mostram nitidamente a preocupação de Vulto e seus companheiros em educar as pessoas que frequentam o espaço e também trazer energia positiva para um lugar que só tinha energia contrária. A decoração da casa ainda inclui enfeites artesanais feitos com cascas de coqueiros.
O nome da Associação foi criado a partir dos nomes de Zumbi dos Palmares (ZU), Malcolm X (MA), Martin Luther King Jr. (LU) e Nelson Mandela (MA). Nas paredes, muitos Graffitis com imagens desses líderes e frases que ajudam a levantar a auto-estima e – como disse anteriormente – trazer positividade.
A Zumaluma se mantém com o auxílio de doações de livros, equipamentos ou até mesmo dinheiro e além de todas as atividades oferecidas, ainda ajuda a comunidade com doações de alimentos e remédios que aparecem de vez em quando. Com a Associação registrada juridicamente, eles também tentam ter projetos aprovados em editais lançados pelo governo ou por grandes empresas que financiam projetos sócio-culturais.
Eles contam com um espaço pequeno, mas bem aproveitado e distribuído:
Uma sala onde ficam os livros;
Uma sala da administração;
Uma sala de aula;
Um banheiro;
Uma mesa para leitura;
Uma mesa onde as pessoas são atendidas e onde são feitas as carteirinhas;
Uma cozinha, apenas com uma pia para as crianças beberem água;
E um quintal para as oficinas de dança, percussão e capoeira e a recepção.
Lendo pode parecer um espaço grande, mas é uma casa com 5 cômodos pequenos, um deles improvisado (a administração) e um campinho do lado de fora, onde organizam alguns eventos e oficinas.
Ver atitudes como essa na periferia é saber que tem gente indo além da teoria e colocando a mão na massa, fazendo muito pelo social sem precisar ficar aparecendo, se virando do jeito que dá e como podem. Se você tiver livros em casa ou qualquer outra ajuda que puder dar ao pessoal da Zumaluma, entre em contato e a ajuda será muito bem vinda. Livros antigos de matérias como: OSPB, Educação Moral e Cívica e Estudos Sociais são dispensáveis, pois não são mais usados. Apesar do conteúdo ser muito bom, a Zumaluma não está mais pegando esse tipo de livro, para poupar espaços que possam ser ocupados por livros atuais e úteis aos estudantes e moradores da favela, que usam os livros da biblioteca.
Trabalham diariamente na Zumaluma: Vulto, Crânio, Bisturi, Sinval, Fabiana, Mislene, Raquel e Adilson
Contato: 0xx(11) 4782-5532
* Atualmente, Vulto é conhecido como César Kaab Abdul e continua seu trabalho, ativismo e militância na periferia. Ele é Presidente do Centro de Estudos e Divulgação do Islam no Brasil e Diretor do Centro Cultural Islâmico de São Paulo.
