Opinião: Sistema corrompido. E o rap com isso? | Por Noise D

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POR NOISE D

Após o impeachment da presidenta Dilma Rousseff, um verdadeiro golpe de Estado ocorrido em 2016, o momento vivido atualmente é dos mais graves política e socialmente falando. A sociedade brasileira parece em total “suspensão”, alheia a tudo o que acontece e os reflexos negativos, em todas as áreas, são visíveis.

Manifestante pró-golpe tire selfie com a polícia de choque durante manifestação

Quando um presidente de um país é deposto de seu cargo de forma completamente ilegal, com o amparo total das mais altas instâncias decisórias, como o Supremo Tribunal Federal, só nos resta o temor. Ou melhor, nos restou Temer. Michel Temer. O vice-presidente usurpador, traidor, representante das oligarquias brasileiras. Um covarde. Uma marionete do plano corrupto de “estancar a sangria”, como bem cita em gravação o seu braço direito, senador Romero Jucá. O engraçado disto tudo é que, enquanto a parcela endinheirada da população ía às ruas para gritar “Fora, Dilma” e “Fora, PT” – vestindo camisetas da confederação de futebol mais corrupta do mundo, a CBF -, o poder era entregue de bandeja aos principais interessados na continuação de todo o sistema de corrupção que permeia todos os segmentos do país. Mas não para por aí…

Lava-Jato de Moro atinge em cheio importantes setores da economia brasileira, como do petróleo. Quem tem interesse na quebra da Petrobras?

Muito além de um sistema político e econômico corrompido – completamente vinculado a especulação financeira e interesses internacionais escusos (Olha lá o Tio Sam!) -, nossa justiça, em todos os níveis, em especial nos níveis mais altos, também encontra-se totalmente envolvida em corrupção. Vamos pegar como exemplo a tal operação “Lava-Jato”, comandada pelo juiz paranaense Sérgio Moro. Uma operação dita “de combate a corrupção”, que, ao mesmo tempo, vem quebrando diversos setores importantes da economia brasileira. Começou pela quebra da indústria naval e desvalorização artificial da Petrobras, depois se alastrou pelo setor da construção civil, através das grandes empreiteiras brasileiras – empresas importantíssimas na captação de divisas para o Brasil. Em seguida, permeou a indústria da carne brasileira. Mas aí não vingou, pois o lobby dos barões do gado brasileiro não deixou. Só não vê quem não quer: muito além do combate a corrupção, essas operações estão sob a batuta de interesses internacionais em sintonia com as vontades das classes dominantes do país, representada pelos políticos corruptos, pela burguesia liberalista, boa parcela da classe empresária, bancos nacionais e internacionais, empresas de comunicação – Rede Globo, Band e companhia, que recebem milhões em publicidade justamente dessas classes dominantes.

Mas não para por aí. Reparem em que tom está a música rap brasileira hoje. Um rap desinteressado, individualista, egoísta, de falso brilho, ostentador. É esse o rap que queremos? Onde foi parar o olhar coletivo do artista e o discurso contestador? Porque os reais valores da música rap ficaram pelo caminho? Arrisco responder esta última pergunta: porque nossa sociedade mudou. Porque valores como empatia e solidariedade se perderam, bem como também se perderam os ideais. Porque a intolerância e o ódio vem ganhando cada vez mais terreno. Porque a exclusão social voltou a ganhar força, como nunca antes, deixando as pessoas inseguras e com medo. As pessoas não tem mais tempo para “pensar no outro”.

É lógico: a música rap é o resultado dos valores humanos. Quando uma sociedade adoece, a arte adoece junto.

Enquanto nossos rappers rimam sobre si mesmos, sobre outros rappers, sobre sexo, drogas, dinheiro e bens materiais, o governo usurpador que se instalou vai enterrando os direitos do povo, conquistados com sangue e suor no passado recente. O discurso do poder é falso e enganador. Reformas de nada adiantam. Ainda mais reformas que atingem tão somente o elo mais fraco da corrente: o povo, o trabalhador, o assalariado. Acabaram com investimentos em educação e saúde por 20 anos, em nome de uma tal “contensão de gastos”. Estão acabando com as leis que defendem o trabalhador. Estão condenando o povo brasileiro ao trabalho eterno, sem aposentadoria. Atingem a democracia em cheio, instalando um estado de exceção completo no Brasil. Muito em breve, nossa capacidade de escolha, via eleições diretas, também será minimizado, por meio da lista fechada, mudança no sistema político brasileiro, adiamento das eleições… Tudo com um clássico “lavar de mãos” do nosso Supremo Tribunal Federal.

Estamos vivendo um momento medieval na história brasileira, em pleno século 21. Ou acordamos para a coletividade ou estaremos condenados. Ou o rap volta a ser o que foi no passado recente, ou será tragado pelo sistema corrompido que hoje nos envolve de todo lado. Ou a cultura hip hop brasileira volta a assumir seu papel protagonista de apoio à luta popular, aos pobres e excluídos, ou estamos fadados a enfrentar um avanço nunca visto da miséria e da violência nas grandes cidades e periferias do Brasil.

Acorda, hip hop!

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