Ainda Resistimos

A ideia de a grana girar entre nós e não mandarmos tudo para as grandes plataformas e corporações ainda está longe de ser concretizada

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Faz um tempo que venho compartilhando discos de Rap brasileiro nas minhas redes sociais. São trabalhos lançados em diferentes períodos, com artistas de diferentes partes do país e com estilos que vão do underground ao pop, passando pelas fusões com o rock.

Ao voltar meu olhar para o acervo do Bocada Forte, vem à minha mente todos os sonhos e lutas de uma geração que trabalhou no subsolo e ajudou a construir as bases da nossa cultura. Algo que, por uma série de motivos, foi desenvolvido longe dos olhos do mercado e suas regras.

Registrar essa história, falar sobre como o Rap foi crescendo em meio ao ambiente político de um país racista, violento e desigual não é nada fácil, principalmente neste momento de ascensão econômica de uma parcela dos representantes do gênero (dos seus sub-gêneros).

As plataformas digitais e as grandes corporações ditam as regras: Olhar para frente é preciso. Falar do início da cultura de rua é válido apenas se tivermos uma estratégia de marketing para dar legitimidade aos nossos projetos e ações. Um gancho, algo como os 50 anos do Hip Hop. Existe uma cena na base, mas ela não monetiza, não engaja, não tem números. Resumindo: é humana também, mas não interessa.

No Bocada Forte, sabemos bem. Não somos livres, escolhemos viver esta parte da cena, com uma série de compromissos ligados à Cultura Hip Hop. Não há como ignorar o vínculo que foi criado durante anos. Também não há como ignorar o quanto isso limita o nosso alcance.  Falar do que foi feito no passado não é saudosismo barato, não é ser guardinha. É valorizar todos os sonhos, trabalhos e lutas do início, do meio de tudo.

O tempo passa, novas formas e gêneros surgem, uma nova geração continua ou rompe com o que já foi feito. Sempre foi assim. Mas não podemos deixar tantos registros sociais, artísticos e culturais serem esquecidos.

Nossa história não pode estar guardada num museu em chamas. Isso é real, esse é o movimento. Num passado nem tão distante, o Hip Hop também foi chamado de movimento. Isso foi motivo de orgulho por muito tempo.

Se hoje os rumos, desejos, objetivos, necessidades e sonhos são outros, é porque houve uma base para essa atual realidade. Há algo muito errado em celebrar os 50 anos do Hip Hop apenas com os que são considerados vencedores, mas é isso que será feito em muitas reportagens e eventos promocionais patrocinados por grandes empresas e plataformas digitais.

Entretanto, a base continua existindo em meio ao cenário desigual e com poucas oportunidades.

Continuaremos contando outras histórias. Aos que não se importam, não atrapalhem nossa caminhada. Aos que se importam, valorizem, divulguem, colaborem e coloquem seu dinheiro no que vocês tanto dizem que é o real Hip Hop. Isso sim faz a diferença.

Apoiem a mídia alternativa, comprem os beats dos seus parceiros e parceiras, contratem os serviços dos manos e manas do Hip Hop. Adquiram roupas e outros acessórios de quem luta e acredita na cultura de rua. A ideia de a grana girar entre nós e não mandarmos tudo para as grandes plataformas e corporações ainda está longe de ser concretizada. Sabendo disso, o que faremos?

Bocada Forte 24 Anos. Desde 1999 e contando…

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