Quantidade x Qualidade
A velocidade e a quantidade de lançamentos é algo impossível de noticiar com a devida qualidade. Todos os dias tem lançamentos relevantes e alguns nem tão relevantes assim. Cada um faz seu filtro e escolhe o que vale a pena dar algum destaque, ainda mais nos dias de hoje, com tantas decepções em relação a artistas, seus comportamentos e ideologias.
Olhando por este lado, muitas vezes é melhor estar na “zona de conforto” e evitar a “zona de conflito”. Usei as aspas apenas pra ilustrar a metáfora usada. Em alguns momentos é preciso priorizar artistas que já conhecemos a caminhada, e não digo isto com medo de que num futuro próximo alguém diga “- Ah, mas você divulgou o trabalho daquele safado”. Realmente não é isto.
Mas, temos que tomar cuidado para não criar mais “monstros” além dos que já existem por aí e seguem ganhando corpo. Muitos acabam priorizando a velocidade, ignoram a qualidade e aí depois reclamam dos “monstrinhos” criados.
Bem, a introdução foi para noticiar alguns trabalhos que merecem atenção. Não postamos no ato dos lançamentos justamente para dar a devida atenção a cada um deles. Afinal “noticia boa é noticia bem dada”.
Freddie Gibbs prod Madlib – Crime Pays:
Terceiro single do segundo disco da dupla. Projeto que vem sendo anunciado desde 2016 e, como qualquer ideia musical que envolve o nome de Madlib, este trabalho é muito aguardado. O disco se chamará ‘Bandana’ e está programado para ser lançado agora em 28 de junho de 2019, mas enquanto isso eles vão soltando singles e pistas de como será o disco.
Esta música mostra mais uma vez a genialidade de Lib no uso de samples. Entre os elementos usados na construção do instrumental estão partes das músicas “Free Spirit” de Walt Barr e “Teach Me How”, cantada por Wee.
Madlib é gênio porque é privilegiado ou é privilegiado porque é gênio? Um pouco dos dois. Hoje, com tantos problemas envolvendo as plataformas digitais e samples, o produtor de Rap que consegue usar elementos de outras músicas sem precisar mascarar o uso delas, pode se considerar um privilegiado. E se esse mesmo produtor consegue não mascarar e usar esses mesmos elementos com maestria, ele pode se considerar um gênio.
Freddie Gibbs, sim, é um privilegiado, mas nesta música em especial ele não conseguiu fazer jus a genialidade de Madlib. A letra gira em torno do assunto tráfico de drogas e traição. O vídeo vende muito bem a ideia, mas a letra é muito fraca.
Voltando ao ‘Bandana’, eles também vem comentando que o disco fará parte de uma trilogia que começou com ‘Pinata’ (2014), passa pelo ‘Bandana’ e termina com ‘Montana’. ‘Bandana’, pelo que vem sendo anunciado, terá 15 faixas e participações de Killer Mike, Pusha-T, Yasiin Bey (Mos Def), Black Thought, dentre outros. Os outros dois singles já lançados foram “Flat Tummy Tea” e “Bandana”, são ótimas músicas.
Jeru The Damaja – Harriet Tubman:
A música é Jeru sendo Jeru. Rap de raíz em sua essência. O título da música é o nome da abolicionista norte americana Harriet Tubman (Araminta Ross). A letra faz referência a assuntos que Jeru cantou praticamente durante toda sua carreira: racismo, violência e ignorância. No início da música, um trecho do discurso de Martin Luther King Jr. “I have a dream”. No fim da primeira parte, após questionar a banalização da vida nas redes sociais e perguntar “O que aconteceu com Free Mumia?”, ele coloca um trecho de citações na voz do ex-Pantera Negra e preso político Mumia Abu-Jamal. O título da música são as últimas palavras ditas por Jeru. Isto faz parte do estilo dele de compor.
Ao final do vídeo mais mensagens: “- Você não pode saber para onde está indo se você não sabe de onde veio”, “- Vamos trazer o Hip-Hop de volta”.
Em suas redes sociais ele publicou o link do vídeo e escreveu: “Isto é apenas para quem é Hip-Hop de verdade, compartilhe isso somente se você é de verdade e ama a Cultura Hip-Hop. Se você não é Hip-Hop de verdade, isso não é para você”. Estamos com você Jeru!
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Smif-N-Wessum – Ocean Drive:
A música é mais um single do último disco da dupla, ‘The All’, lançado no início desse ano. É uma faixa bem diferente do estilo mais sujo e pesado que os tornaram conhecidos no Rap. Vendo o vídeo pode parecer que a música fale sobre ostentação material, mas não é. É a ostentação da parceria, do companheiro ou companheira que segue lado a lado, leal e também uma parceria entre amigxs.
A produção foi do Khrysis (The Soul Council), o refrão ficou por conta de Musiq Soulchild e a baixa mais sentida no vídeo é a Rapsody, que no disco está presente, mas ficou de fora no vídeo. Na letra ela traz um equilíbrio mostrando a visão feminina sobre o tema da música.
Obs.: Falei com Steele e ele explicou que a ausência dela foi por conta da agenda, ela estava trabalhando em outra cidade.
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