Shin Shinoske lança vídeo em homenagem ao skatista Marcelo Akasawa (Nype do Gueto)

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Reprodução das redes sociais do Akasawa

É importante preservar a memória das pessoas que gostamos sejam elas amigas, familiares, ou ídolos, ainda mais quando essas pessoas nos serviram de referência. Shin Shinoske, filho de pai nissei e mãe preta, brasileiro da zona leste de SP, atualmente vivendo no Japão, fez isso no vídeo da música “SK8 Board one love”. Também tenho minha história e vivência com o skate e assim que ele me mandou o link fui assistir e vi ali a homenagem a um amigo em comum, o grande Guerreiro Marcelo Akasawa. Não conhecia o Shin, ou pelo menos não me lembro, talvez a gente até tenha se trombado, pois skatistas de São Paulo dos anos 90 frequentavam os mesmos poucos espaços e pistas que existiam. Já o Akasawa conheci pelas ruas da zona leste, éramos praticamente vizinhos, ele é cria da Cohab I (Conjunto Habitacional Padre Manuel da Nóbrega e Padre José de Anchieta/Artur Alvim).

Esse é o filme da Nype do Gueto, também em homenagem ao Akasawa

Quem me apresentou foi o Nicolau (Alexandre Grecco), trouxe ele pra nossa “casa”, a Rua Trapiche e o japonês andava muito! A partir dali a conexão foi imediata e além do skate tínhamos em comum a Cultura Hip Hop e a paixão pelo Rap. Fui olhar a última mensagem que trocamos e ela era uma indicação dele pra eu ir a uma festa de Rap, que ele só não iria porque estava internado. Akasawa faleceu em 2017, ele vinha há alguns anos sofrendo com a Diabetes, o que o impediu de continuar andando de skate em alto nível. Mas ele tinha outro dom que era o desenho, fazia Graffiti, tags, camisetas, adesivos, flyers, desenhos pra shapes, capas de discos, etc…

Jé Versátil também era amigo, é NG e foi influenciado pelo Akasawa, na entrevista abaixo ele falou sobre

Seu trabalho com o desenho era artesanal, ele também assinava como Rigor e onde ele mais mostrava seu dom era com a Nype do Gueto, inclusive em nosso último encontro ele me deu dois adesivos, que imediatamente colei no mixer. Esse último encontro foi no mesmo local do nosso primeiro, exatamente na Rua Trapiche, sem saber era a nossa despedida. Akasawa pra nós foi um exemplo de humildade e de luta pela vida.

Foto na Trapiche, última vez que nos vimos

No vídeo do Shin Shinoske tem várias imagens dele, quem conheceu vai se emocionar. Quem é da rua, do skate e viveu anos 90 e 2000 em São Paulo, certeza que o conheceu. Algumas fotos que vou deixar aqui são dos últimos encontros que a gente realizou, com muito Skate, Rap e Graffiti. O último encontro da Trapiche foi em 2018 e teve homenagem pra ele, pra esse ano já está sendo planejado os 30 anos da nossa banca e ele, assim como outros que estão olhando por nós, estará conosco!

Troquei uma ideia com o Shin pra ele falar da sua caminhada, seu último álbum, projetos futuros, a produção do vídeo e a sua vivência com o Marcelo. A imagem que usei no destaque é uma montagem com Akasawa em um dos nossos eventos fazendo algo que amava (desenhar) e ao lado o mixer com os adesivos que ele me deu, e um dos discos do Mobb Deep. Toda festa ou evento que a gente fazia, quando ele chegava e via o case, a primeira pergunta era: “trouxe aqueles Mobb Deep?”.

BF: Fala um pouco da sua caminhada e quando, onde e como conheceu o Akasawa?

Akasawa, Hiroshi, Shin – reprodução rede social

Shin Shinoske: Nasci e me criei na Vila Santa Isabel, zona leste de São Paulo, comecei a andar de skate em 1993, aos 12 anos de idade. Fui vocalista de uma banda de indie rock chamada Selfree, que misturava Rap com rock, trabalhei como produtor de bandas de reggae – nomes como Natiruts, Reggae Style, Planta e Raiz, Ponto de Equilíbrio, entre outros.

Em 2004 vim para o Japão trabalhar como operário. Mesmo assim não consegui ficar longe da música e já no início de 2006 montei o grupo de Rap MDG 758 – uma referência à banca de skatistas Mundrungos, que na época se reuniam na pista de skate Wakamiya, em Nagoya. Lançamos o EP ‘758-4’ (Nagoya-Shi) em 2008 e em 2010 o álbum ‘Jah Bless’. O grupo teve várias formações, mas eu fui único que ficou da formação original.

Akasawa, Shin, Nelsão (que tb é ZL) – reprodução rede social

Em 2016 mudei para a cidade de Minokamo, onde montei meu próprio estúdio (Minokamo Rap Dojo), no começo a ideia era ser somente um estúdio, porém com o tempo se tornou um pequeno centro cultural, onde artistas de todo Japão vem para gravar e participar dos eventos, um espaço de convívio social.

Eu conheci o Marcelo Akasawa no Japão, ele também fazia parte da Família MDG Crew, quem me apresentou ele foi o Pixaim. A amizade foi crescendo e as histórias sendo contadas, no Japão, no Brasil e hoje pelo mundo.

BF: Como conseguiu as imagens utilizadas, foi difícil reunir tudo?
Shin: Bom, primeiro eu liguei para os manos da Crew, o Pixaim e depois para o Piercing, para contar a ideia da homenagem, então eles forneceram as imagens do Akasawa no Japão. Depois liguei para o  skatista Marcos Hiroshi, um amigo que a gente tinha em comum, que me indicou os caras da Love CT Crew e Pura Rua Skate, o Anderson Nego e o Tody, que forneceram as imagens do Brasil com toda atenção do mundo.

Akasawa com a banca da Cohab no CDC Patriarca – acervo pessoal

BF: A música faz parte do álbum que foi lançado bem antes do vídeo, ela já tinha sido feita pensando nessa homenagem?
Shin: Não, esta música eu já tinha começado a escrevê-la em 2009, mas não cheguei a gravá-la, então quando eu estava escrevendo o ‘TokiWoKoe Vol. 1’ decidi colocá-la no repertório. Fiz algumas mudanças na letra para homenagear melhor a história da família MDG e todos os skatistas. Até por que as olimpíadas de 2021 seria a primeira a ter o skate, então erguemos a bandeira para que mais pessoas saibam que o skate do Brasil e a música também estão no Japão.

BF: No vídeo você cita alguns coletivos (Nype do Gueto, MDG) fale sobre o que é e o que signifca?

Um dos desenhos do Akasawa – reprodução rede social

Shin: Nype do Gueto é o chamado de Jah na vida do Marcelo Akasawa, como ele sempre falou – “Deus me limitou de andar de skate do jeito que eu gostava, mas só que ele me compensou com  isso aqui, o desenho”. E daí nasce a ideia da Nype do Gueto, de maloqueiro para maloqueiro, por que nós sem nós não somos nós, com o estilo original, de um soldado das ruas autêntico. Andando de skate de Jordan no pé, criando as linhas de manobras e de desenho, na caminhada do nada, cores e vivência para trazer o pano de fundo da cultura de rua, um elemento do Hip-Hop. Marcelo Akasawa também assinava Rigor e todos que se identificam com ele e suas ideias carregam o Nype do Gueto Forever.

MDG é uma crew de skatistas que se originou no Japão, na cidade de Nagoya, que tem membros de vários países – Brasil, Canadá, E.U.A, Tailândia, Espanha, entre outros, mas a maioria são brasileiros. A pista de skate Wakamiya é a casa dos MunDrunGos, desta Crew nasceu o grupo de Rap MDG e Nype do Gueto Streetwear.

BF: Aproveitando, fale sobre o álbum, produção, significado do título, capa, etc.

Capa do álbum, lançado pelo selo Shuriken

Shin:‘Toki Wo Koe Vol. 1 – I Have a Dream’ é o nome do meu primeiro álbum solo, com sete faixas, o trabalho foi gravado no Minokamo Rap Dojo Studio – Toki Wo Koe significa “à frente do tempo”. Eu assino a co-produção, a   mixagem e masterização é do engenheiro de som japonês Norihito Sugiura, mais conhecido como Birdie, da East Blue Studio, uma parceria formada para firmar a união cultural entre Brasil e Japão. A ideia do álbum é trazer o skate, um pouco da cultura Tokusatsu, que é uma das formas mais populares de filmes de super heróis japoneses, como Ultramen, Spectremen, Jiraiya, Jaspion, Flashman, entre outros.

No Brasil foram muito populares nas décadas de 1980 e 1990, onde marcou muito minha infância e a adolescência. Enquanto muitos amigos meus gostavam dos super heróis da DC e da Marvel, eu gostava mais de tokusatsu. Então fizemos uma parceria com o ilustrador paulistano Ratones, explicamos a ideia, o conceito, e ele topou a parceria deixando o disco mais rico, culturalmente falando. Tem muitas referências nesse disco que resumem um pouco da caminhada na Cultura Hip-Hop, na cultura de rua, com influencias de Rap, reggae e rock.

BF: Atualmente você está no Japão, você tem alguma proximidade com a cena do Rap ai e como é essa cena?

Cohab 1 – Desenho do Akasawa – Reprodução de rede social

Shin: Sim, atualmente resido no Japão. Eu comecei a cantar com o canadense DJ Casper, minha primeira apresentação foi solo, depois montei o grupo MDG 758.

Minha primeira apresentação foi em um clube chamado Club Buddha, na cidade de Nagoya, desde então sempre fiz parte desta cena do Rap underground do Japão, já me apresentei em diversos festivais, por exemplo: Toyota Rock Festival, World Collaboration Festival, Nagoya Latino America Festival, Summer Jam, entre outros.

Já me apresentei com nomes da cena como Ackee&SaltFish, DJ Moto, ShingoNishinari, J.M.W ( J.Fox& Bongo X), J-Soushi, Nikkei Kyoudai, entre outros. MeVejo a cena aqui dividida em duas classes: o Pop e o Underground. Aqui a Cultura Hip-Hop é muito forte, muito Graffiti, muitos eventos de Breaking, muitas batalhas de MCs, muitos shows de Rap, campeonatos de turntablism. Tem muitas marcas do segmento, a cena é muito rica e também tem a cultura Low Rider em todo o país. O Japão é um país que toca Rap nas lojas de conveniências, restaurantes e super mercados, o rap é tão popular no Japão que até em filmes e novelas o Rap está presente.

Hoje os meus projetos estão bem alinhados com a cena do Rap japonês, os artistas do Minokamo Rap DojoStudios na sua maioria são Japoneses e estrangeiros criados no Japão, mas os brasileiros também colam e representam.

Akasawa, Macário, Dudu, Rincon (ZL em peso) – reprodução rede social

BF: Projetos futuros?
Shin: A pandemia foi fértil para mim, gravei dezenas de músicas no período e estou com outros discos prontos, um é o ‘TokiWoKoe Vol. 2’, também produzido pelo engenheiro de som japonês Birdi. Antes disso, porém, planejo  lançar o álbum “Mundo Moderno” (Shinsekai), com beats produzidos por outro produtor dekassegui brasileiro, Duda Sanzz – disco que contará com participações de peso, como Sandrão e DJ Cia (RZO), Kiko Latino, DBS, Sombra e Bad (Tribunal Popular e atual formação do 509-E), entre outros. E um terceiro, um EP de reggae intitulado ‘Ovahground Dread Muzik’, também está pronto e na fila de lançamento.

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Abaixo está o vídeo de “SK8 Board one love” e o álbum do Shin Shinoske

https://www.vakinha.com.br/3105032

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