Sérgio Vaz, 44 anos, começou a escrever por acaso. Queria ser jogador de futebol, mas o trabalho, desde muito cedo o tirou dos campinhos onde a mulecada se divertia e o fez criar personagens em histórias que eram escritas no papel de pão, do lado de trás do balcão da padaria do pai.
Em 1992 lançou o primeiro livro, “Subindo a ladeira mora a noite”, e de lá pra cá não parou mais. Hoje, é conhecido pelo mundo como o cara que transformou a literatura em algo íntimo da periferia brasileira.
Influenciou movimentos semelhantes por todo o país, lançou livros, discos, levou o cinema para a laje e há oito anos, resiste bravamente, com o Sarau da Cooperifa, no extremo sul da zona sul, no Bar do Zé Batidão.
Em uma rápida entrevista, o poeta fala sobre a poesia na periferia, a importância do movimento Hip-Hop para a literatura e conta o que tem lido, ouvido e visto no cinema.
Bocada Forte: A literatura no país tem um histórico elitizado, principalmente a poesia. Como foi esta aproximação dos livros com a periferia?
Sérgio Vaz: A ideia sempre foi dessacralizar a literatura para que ela chegasse na quebrada sem a arrogância habitual dessa arte durante quase 500 anos. E para que isso acontecesse nos tiramos o sapato de Fernando Pessoa, Clarice Lispector, Jorge Amado, entre outros, agora, lá, todo mundo anda com os pés descalços.
BF: Como foi o processo de estímulo à estas pessoas para que elas começassem a ler e também produzir literatura?
Sérgio Vaz: Através da palavra. Apenas. Os poetas fazem a gentileza de recitar e a comunidade faz a gentileza de ouvir.
BF: A juventude lê pouco, e isso é comprovado por centenas de pesquisas na área de educação que demonstram que na era da internet, os livros passaram a ter um espaço ainda menor no cotidiano dos jovens. O que você acha que deve ser feito para que esta realidade mude?
Sérgio Vaz: Os saraus que estão acontecendo – quase 40 – são a prova que as pessoas querem interagir com os livros, não basta ser apenas iniciativas teóricas, é preciso fazer os livros chegarem nas mão das pessoas, para que elas possam manuseá-los, sentir-se donas. O livro precisa estar nas mãos das pessoas.
BF: Quais são os projetos futuros da Cooperifa?
Sérgio Vaz: No momento estamos trabalhando na II Mostra Cultural da Cooperifa que acontece do dia 19 a 25 de outubro, e que comemora os anos de atividades poéticas do sarau da Cooperifa na periferia de São Paulo, mas há muita coisa por vir.
BF: Qual a relação do trabalho da Cooperifa com o Hip-Hop?
Sérgio Vaz: Acho que o Hip-Hop foi quem acendeu tudo isso que está acontecendo na periferia. Devemos, todos nós, ao Hip-Hop por terem dado o grito de independência da periferia.
BF: Quais as apostas na literatura marginal para o ano de 2010?
Sérgio Vaz: Tem muita gente boa chegando, aliás, elas não param de chegar.
BF: Um livro.
Sérgio Vaz: “Espelhos”, de Eduardo Galeano.
BF: Um disco.
Sérgio Vaz: GOG ao vivo.
BF: Um filme.
Sérgio Vaz: ‘Conta comigo’.
Comentários resgatados do nosso Acervo
Li um livro desse mano…..A periferia precisa de muitos SERGIO VAZ SUCESSO , PERSEVERANÇA E FÉ NA CAMINHADA Ugli C.I. Filosofia De Rua
Por: Ugli C.I. – Em: 14/10/2009 11:39:26
Queria agradecer a generosidade do Bocada forte com o meu trabalho. Obrigado pelo espaço. Abs. Sérgio Vaz Vira-lata da literatura
Por: Sérgio Vaz – Em: 14/10/2009 07:36:22
Com os guerreiros de verdade que usam caneta e papel que esta situação literaria de conto de fadas em que vivemos irá mudar a periferia quer escutar a periferia ler a periferia e olhar a periferia, uma grande abraço a sergio vaz.
Por: Filipe da Costa – Em: 13/10/2009 23:07:05
Precisamos de mais pessoas assim
Por: Força Sul – Em: 12/10/2009 21:33:23
Vaz. Obrigado por trabalhar tanto pra divulgar o dom da palavra
Por: Flavinha – Em: 12/10/2009 21:32:33
Sergio é foda, a Cooperifa nem se fala, ele é simples e natural como a favela, não precisa gritar pra se fazer escutar, poetas assim são raros. Parabéns Serjão, continue assim, sua formula de ser o que é é simples. Abs Rangell
Por: Blequimobiu – Em: 12/10/2009 13:33:58