#ElasNoBF: Proprietária da Livraria Africanidades indica 4 livros primordiais para entender melhor o Feminismo Negro

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Ketty Valencio é bibliotecária, livreira e proprietária da Livraria Africanidades, empreendimento que reúne acervo especializado somente em literatura negra e feminista.

Formada em Biblioteconomia pela FESPSP, com especialização em Bens Cuturais e em Gênero e Diversidade, na Escola da Unesp, Ketty Valencio desde sua infância sempre foi apaixonada pela leitura e livros, entretanto, algo a incomodava: a não representatividade nos livros que lia, havia uma dificuldade de identificação com as narrativas nas leituras que a cercavam.

Mais tarde, com pesquisa e estudo, descobre o legado que autoras negras produziram e produzem até hoje. Mas esses livros não chegavam com tanta facilidade no mercado editorial, e é aí que surge a ideia da Livraria, em 2013, no bairro do Imirim, na zona norte de São Paulo.

A livreira também é umas das idealizadoras da websérie “Mulheres de Palavra: um retrato das mulheres do rap de São Paulo”, além de ser uma das responsáveis pelo projeto “Mercado Negra”, que se baseia na economia solidária que tem como protagonismo o empreendedorismo da mulher negra.

Com esta vivencia, familiaridade e conhecimento na literatura voltada para o feminismo e negritude, Ketty fez uma curadoria de 4 títulos indispensáveis para o feminismo negro e para o aprofundamento nestas questões, para aproveitarmos este tempo de quarentena e colocarmos em dia leituras primordiais.

Veja as dicas valiosas de Ketty Valencio

– Estado de Libido: ou poesias de prazer e cura, de Carmen Faustino

“Quando eu li a obra bibliográfica de Carmen Faustino, automaticamente me recordei da frase célebre da autora Toni Morrison que diz assim: ‘Se libertar é uma coisa, reivindicar a posse desse ser liberto é outra’. Pois Faustino faz um convite para todxs nós mergulharmos do seu universo íntimo, erótico e desse modo promove uma metamorfose de corpos considerados subalternalizados para a emancipação, contudo não de apenas serem sujeitas da história, mas sim de donas do seu próprio prazer.”

Para sintetizar a minha escrita, destaco o poema ‘Meu Orgasmo é Cura’ p. 28.”

“Quando a explosão 
Toma conta
E aquece o estado
Líquido
Toda dor
Que esse mundo criou
Para me levar
À exaustão de banzo
Evapora
Meu corpo
Transcende
Como brisa leve
Beleza africana
Consagração
De um espírito livre
Quilombola”
De quem goza
Por rebeldia e pirraça
Pois o meu prazer
Você racista
Não mata

Sobre a autora: Carmen Faustino negra periférica, do Campo Limpo, bairro da zona sul de São Paulo. Poeta, escritora, ativista, educadora e produtora.
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– As Origens e a Comemoração do Dia Internacional das Mulheres’ de Ana Isabel Álvarez González

“A obra de González nos informa a origem da história da data do dia 08 de março, porém sem romantização, apenas desvenda e reconta uma outra narrativa e não apenas aquela que popularmente conhecemos pelo fato trágico do incêndio que matou diversas mulheres em uma fábrica no Estados Unidos. No entanto ela tece um panorama histórico importante através das lutas e conquistas das mulheres ligada ao movimento socialista no final do século 19 e início do século 20. Porém é inevitável não questionarmos o apagamento e a invisibilização de mulheres não-brancas nesse período histórico.”
“Ressalto abaixo um extrato do parágrafo que está na página 155.

“[…] Para além da importância politica que teve o nascimento do Dia Internacional da Mulher, é importante também atentar-se ao impacto que produziu na sociedade europeia o fato de ver, nas primeiras comemorações, as mulheres na rua, levando cartazes em que reivindicam o direito ao voto e marchando em defesa de seus interesses. Por meio dessas manifestações, herdeiras daquelas organizadas pelas sufragistas estadunidenses, as mulheres expressavam seu desejo e, o que parecia mais alarmante, suacapacidade de manifestar sua independência […]”

Sobre a autora: Ana Izabel Álvarez González nasceu em Nembra, norte da Espanha. É autora e professora
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– Educação e o Empoderamento da Mulher Negra’, organizado por Neide Cristina da Silva; Francisca Mônica Rodrigues de Lima; Maria Lucia da Silva

Este livro é organizado pelo Ylê- Educare e discorre a pluralidade do que é ser mulher negra na sociedade brasileira, através de temáticas e discussões abrangentes para a sua humanidade.

Entre menções de nomes e trabalhos de grandes notáveis, são trazidas como Virginia Bicudo, Neusa Santos Souza, Carolina Maria de Jesus e de tantas outras para a reflexão, além da abordagem de categorias de gênero, sexualidade e classe social.

Abaixo destaco uma parte do texto ‘Nada de Novo, Tudo Outra Vez: reflexões sobre a solidão da mulher negra’ de Maria Aparecida Oliveira Lopes e Francisca Mônica Rodrigues de Lima, p. 46.

[…] A insistência cultural para que as negras sejam vistas como empregadas domésticas, independentemente do status no trabalho ou carreira, bem como a aceitação passiva desses papéis pela mulher negra, constituem-se como uma barreira que impede que mais negras escolham tornar-se intelectuais. O trabalho intelectual também não é bem visto pela sociedade. Um dos estereótipos culturais do intelectual é o da pessoa que se preocupa com as próprias ideias, é um trabalho de pessoa egocêntrica […]
Sobre os autores O grupo de pesquisa ‘Ylê-Educare – Educação e Questões Étnico-Raciais’ é uma iniciativa sem fins lucrativos, formados por pesquisadores do programa de pós-graduação da UNINOVE.
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– ‘Uma Autobiografia’ de Angela Davis

Esta obra é um grande exemplo de como podemos ser uma ferramenta de transformação para outras vozes, pois Davis faz isso.
‘Uma autobiografia’ foi lançada originalmente em 1974 e depois de 45 anos é publicado no Brasil. Possui relatos extremamente relevantes, como por exemplo, sobre o sistema carcerário, movimentos negros, feminismo e entre outras.
A trajetória de Angela é uma busca obstinada pela sua libertação e da população negra, pois quando ela foi perseguida e presa, juntamente com ela todas nós fomos.
Evidencio abaixo um fragmento descrito na página 214.:”
[…] “Uma vez, eu estava fazendo compras no mercado perto de casa. Percebi que a mulher de meia-idade atrás de um carrinho próximo de mim pensou ter me reconhecido. Quando nossos olhos se cruzaram, os dela se iluminaram. Ela correu e perguntou: – “Você é Angela Davis?”. Quando sorri e disse sim, lágrimas inundaram seus olhos. Quis abraçá-la, mas ela foi mais rápida do que eu. Com um abraço firme e caloroso, ela me disse, em tom maternal: “Não se preocupe, criança. Estamos apoiando você. Nós não vamos deixá-los tirar o seu emprego. Apenas continue lutando” […]

Sobre a autora: Angela Davis nasceu em Birminghan, Alabama (EUA). É filósofa, professora, escritora e ativista.

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