‘Que evoluam e criem uma alternativa que não passe pela simples cópia do que já está estabelecido’
Ela sai às 19h, mas fica até às 21h para aproveitar o computador ninja da empresa. Nossa amiga precisa terminar de editar uma galeria de fotos para colocar num post sobre o evento de rap que rolou no centro de São Paulo. Entre um café e outro, ela consegue dar um “migué” no gerente e conclui seu trabalho. Tudo estará em seu blog logo mais. Uma hora e meia de baldeações em linhas do Metrô, da CTPM e, finalmente, a lotação a espera. Agora são apenas alguns minutos que a separam de sua casa e do sorriso de seu filho.
Ele relembra momentos embaraçosos na época em que esteve num grande evento de Hip Hop na capital. A assessoria concedeu vinte minutos para registrar os bastidores do show de um grupo de rap norte-americano. O que o blogueiro não esperava: ao terminar o seu tempo, foi brutalmente expulso por dois seguranças da respeitável casa de espetáculos. Sua câmera caiu, quase quebrou, mas o post estava na web no dia seguinte.
Ela fica triste ao saber que os próprios membros do hip hop dão risada quando lêem em seu perfil no Facebook que ela é editora do blog tal. Como ela, diversos integrantes da nossa confusa mídia alternativa preferem colocar suas atividades relacionadas ao movimento hip hop em seus perfis nas redes. O emprego ‘formal’ fica em segundo plano.
Ele e ela têm amigos em comum. Um desses camaradas é um grande agitador cultural que, com ou sem verba, realiza eventos semanais que envolvem o hip hop e até outras áreas que ele nem domina, mas tem a ajuda de outras pessoas que se inspiram sua iniciativa.
São profissionais de diferentes frentes que dedicam parte do dia ao que amam. Apesar de todos os seus defeitos e vícios de trabalho, os comunicadores e agitadores culturais do hip hop disseminam sons, vídeos, releases, notícias, shows e mantém muitas pessoas conectadas aos principais lançamentos. Seja via web, seja no palco de algum canto da cidade.
Os princípios do hip hop valorizam esse tipo de serviço: o trabalho de base. Os princípios do mercado não. Outros valores são impostos para a sobrevivência no mundo dos “vencedores”.
O rap está crescendo a cada dia, muitas organizações estão de olho nesse crescimento e começando a lucrar (a busca é pela grana ou influência política). Os símbolos do hip hop estão espalhados nos quatro elementos, mas temos que admitir que bebidas caras e carrões também são os símbolos que mais são divulgados no rap.
Nessa mistura de cifras, contratos, aspirações políticas, militância e indiferença, estão ele, ela e outros que, mesmo sendo desprezados por um grande número de artistas e produtores, insistem em trabalhar pelo hip hop. Não são prioridade para uma grande parcela dos artistas, sabem que não dá pra disputar com o poder da grande mídia, mas não param, mesmo sabendo que o mercado diz não. Estão buscando parcerias, profissionalização, crescimento.
Blogueiros são essenciais para o nosso hip hop. Que cresçam e não deixem de lado a experiência deste presente, que evoluam e criem uma alternativa que não passe pela simples cópia do que já está estabelecido.