Já falamos aqui no site sobre seus corres e o da sua companheira Amanda NegraSim, tem matérias bem completas principalmente sobre o Trançado Periférico e a Favelinha City. Llobato tem essas iniciativas há muito tempo e repito, o foco principal de tudo que ele faz é a periferia, sem preocupação de engajamento nas redes sociais, views e likes.
A preocupação é levar cultura, educação, entretenimento e a mensagem para quem realmente precisa ouvir – adolescentes, crianças e adultos periféricos. Temos no Acervo do BF postagens que ele mesmo fazia em nossa Agenda que datam de 2007 quando ele desenvolvia o Projeto Vídeo Vinil, que acabou até sendo lançado em CD e DVD, inclusive com participação do DJ Cortecertu.
‘Palavras Preta’ é um lançamento da Ndoto Cultural, tem 8 faixas com letras atuais e além de Tony Di a única participação é da Amanda NegraSim. Pra quem gosta do Rap original de quebrada, pode ouvir de ponta a ponta – infelizmente hoje em dia é preciso usar esse termo “Rap Original de Quebrada”, em outros tempos isso seria redundância, mas é tanto Rap de prédio e de condomínio ou Rap feito pra agradar outras classes, que é preciso separar de alguma forma o joio do trigo. Llobato é cria da Favelinha City, extremo sul de São Paulo, Vila Joaniza, região da Cidade Ademar, é rua, é quebrada, beco, favela e a sua música traz toda essa essência.
Assim que o álbum foi lançado ele iniciou uma série de apresentações em diversas bibliotecas e unidades do CEU (Centros Educacionais Unificados), como sempre a grande maioria nas quebradas de São Paulo, zonas leste, sul, norte e oeste. A faixa que abre o álbum é a “20 rimas”, apresentação que sintetiza em 20 rimas muito do que estou escrevendo aqui sobre ele. A faixa “Até o fim” foi o primeira a ser lançada oficialmente e ainda ganhou um remix feito pelo DJ Cortecertu (clique para baixar). Em “Corres becos avenidas” mais papo de rua e fidelidade às suas raízes, no refrão sample da música que ficou imortalizada na voz dos Originais do Samba.
Em “Nu balanço” tem a participação de Amanda NegraSim no refrão, como citado anteriormente foi o único feat. e essa é a faixa que fala de festa, do rolê com os aliados no samba ou nos bailes de quebrada. Na música “O jogo” ideia sobre os cuidados com as trairagens e armadilhas. “Preta na cor” é a romântica do álbum, agradecimento, homenagem a quem muitos manos se esquecem de valorizar. Eu curti o álbum todo, mas a faixa que ele escolheu pra fechar achei a melhor, ela se chama “Todo meu respeito”. Essa música também é de agradecimento e homenagem, mas não a uma pessoa e sim a Cultura Hip Hop, na letra várias referências a artistas, músicas, discos e templos como a Estação São Bento, em um trecho ele rima – “filosofia de rua, a consciência black me formou um produto da rua” – quem conhece e viveu tá ligado!
Llobato, Tony, Amanda são parte do melhor que a arte feita nas quebradas tem pra oferecer, são inúmeras as contribuições de cada um desses nomes. Seus trabalhos você não verá ou ouvirá nas “bolhas” virtuais criadas e manipuladas pelas plataformas bilionárias e seus robôs. Pode ser que você que está lendo nunca tenha ouvido falar de nenhum desses nomes, nesse caso reveja como e se está realmente consumindo a arte autêntica produzida da quebrada, pra quebrada, com a quebrada e pela quebrada.
Ouça o álbum