No dia 17 de abril de 1990, o grupo A Tribe Called Quest lançava seu primeiro álbum, intitulado “People’s Instinctive Travels and the Paths of Rhythm“. pelo selo Jive Records. Foi o início de uma nova era para a música rap, indiscutivelmente. O disco, que foi extremamente ovacionado pela crítica (inclusive ganhando 5 microfones da revista The Source), acabou recebendo o disco de ouro em 1996.
Dentre os vários grupos e artistas que fizeram história e construíram uma reputação extremamente positiva para a música rap, a partir dos nos anos 90, está, sem dúvida alguma, o trio, e depois quarteto nova-iorquinho A Tribe Called Quest.
Mais ou menos no mesmo período o trio, juntamente com os grupos De La Soul, The Jungle Brothers e Black Sheep e os artistas Monie Love e Queen Latifah, formaram o coletivo chamado The Native Tongues, ou “As Línguas Nativas”. A intenção era a de congregá-los em prol da preservação da essência do Hip hop, mantendo a música rap em um alto nível, evitando, assim, a banalização do gênero no mercado já saturado por “falsos MCs”. Essa união pode ser muito bem notada nos vários vídeo-clipes e músicas produzidas por eles nos anos seguintes, onde sempre encontramos a participação de um grupo/artista com o outro e também citações em suas letras.
Após o sucesso do single “I left my wallet in El Segundo”, gravado pelo trio em 1990, chegou o momento da “Tribo Chamada Quest” assinar com uma grande gravadora. A Jive Records, por segundo eles próprios, possuir maior afinidade de representação com seu trabalho, foi a escolhida. Seu primeiro álbum, lançado também no mesmo ano, foi intitulado “Peoples Instinctive Travels and the Paths of Rhythm” (ouça abaixo), ou“Viagens Instintivas dos Povos e os Caminhos do Ritmo”. Os sucessos imediatos do disco foram as músicas“Bonita applebum” e “Can i kick it?”. Toda a crítica foi excelente e dizia que o A Tribe Called Quest se diferenciava porque, ao invés de apenas jogar um beat
Após o lançamento de seu primeiro disco, o ATCQ tornou-se um dos grupos de rap mais requisitados para shows, apresentações e entrevistas em programas de TV e rádio pelos Estados Unidos. Eram muito bem recebidos tanto pelos fãs do rap como também por pessoas não ligadas de nenhuma forma a música ou ao hip hop, bem como músicos e personalidades de outros gêneros. Num período em que o gangsta rap eclodia com força, chocava e conquistava grande espaço – como, por exemplo, o N.W.A. na costa oeste, em Los Angeles – o A Tribe conseguia transitar por um vasto perfil de público. Eram seus ouvintes, tanto aqueles que curtiam Eric B & Rakim, KRS-One ou Beastie Boys, como aqueles que escutavam 2 Pac, Dr. Dre, Snoop Dogg ou outros artistas da linha conhecida como “hard core hip hop” pelos norte-americanos.
O álbum “The Low End Theory” (ouça abaixo) veio em 1991 e revolucionou a música rap com uma pegada ainda mais jazz . Os destaques vão para as faixas “Jazz (We’ve Got)“, “Check The Rhime” e a clássica “Scenario”, com participação do grupo Leaders Of The New School, que tinha o rapper Busta Rhymes como destaque.
Dentre os trabalhos seguintes, destacam-se, sem dúvida os álbuns “Midnigth Marauders” (ouça abaixo) e “Beats, Rhymes and Life”. Ambos alcançaram o topo das paradas, por categoria, sendo sucessos absolutos de venda e crítica. Em “Midnight Marauders”, podemos perceber uma boa dose de influência de música brasileira, como bossa nova, e também muito Jazz. Foi um disco que marcou época com destaques para as músicas “Award tour” e “Eletric relaxation” e também apresentou um jovem produtor da cidade de Detroit, chamado Jay Dee. Foi então que surgiu, da parceria entre ele e Q-Tip o “grupo de produção” chamado The Ummah, que veio posteriormente a realizar trabalhos de grande sucesso com artistas como Nas, Mobb Deep, Cypress Hill, TLC, D´Angelo, Shaquille O´neal, Gil Scott-Heron, dentre outros.
Já o álbum lançado em 1996, “Beats, Rhymes and Life” representou o congraçamento do grupo. Os sucessos “1nce again” (part. de Tammy Lucas) e “Stressed Out” (part. Faith Evans), unidos a um excelente trabalho produção, levaram o grupo ao topo de todas as paradas.
No total, o ATCQ produziu cinco álbums oficiais em sua trajetória de dez anos, tendo como último lançamento o disco “The Love Movement” (ouça abaixo), lançado em setembro de 1998. Todos eles ficaram entre os duzentos melhores da BillBoard, sendo quase todos entre os cinco primeiros da categoria r&b/hip hop, dois deles conquistando o primeiro lugar. Foram inúmeros os sucessos e milhares de fãs conquistados em todo o mundo. É um grupo que realmente pode ser considerado como um expoente da Cultura Hip-Hop, assim como são Run DMC e Public Enemy para a história da música rap. Sem a contribuição da “Tribo Chamada Quest”, provavelmente teríamos hoje um rap menos rico e criativo e, quem sabe, muitos outros artistas e grupos não teriam surgido e contribuído para expansão do estilo pelo mundo.
Q-Tip: “Eu apenas espero que aquilo que deixamos pra traz as pessoas possam escutar. Que seja algo atemporal. Espero que quando as pessoas escutarem a nossa música possam senti-la da mesma forma que a sentimos hoje ou que encontrem algo mais nelas. Que elas possam ver o Hip-Hop ali, sentir a musicalidade, ver as oportunidades e chances que tivemos na vida, todo o divertimento que tivemos, as dificuldades e tudo mais e apenas tomar, compreender. Espero que as pessoas lembrem-se disso: que nós apenas fizemos um esforço para que as pessoas gostem mais de si mesmas e escutem um som do caralho!”
Ali: “Eu espero que seja lembrado. E não somente como o açúcar, que é rapidamente absorvido e era isso. Mas que você possa voltar a escutar e realmente significar algo. Que inspire as pessoas e que elas possam abrir suas mentes. Assim elas poderão perceber que nós colocamos muito trabalho duro no A Tribe e em nossas músicas e que lutamos para levar mudanças não só a nós, mas as pessoas que vem atrás de nós. Esperamos que estes que venham depois, possam fazer a mesma coisa para com aqueles que vêm ainda depois e tentar devolver algo as pessoas e não só tomar, tomar, tomar.”
Phife: “Que trabalhamos definitivamente para o melhoramento do Hip-Hop. O que fizemos sempre representou o nosso mundo, mas sempre tentamos representá-lo fazendo boa música o tempo todo. Tenho esperança de que as pessoas possam se atentar a isso e acreditar mais nelas e não apenas escutar o que todo mundo tem a dizer. Apenas seja você mesmo.”
*Matéria originalmente publicada em 2007. Acervo BF.