O ano de 2016 foi bom pra alguns no rap e no cenário do hip-hop. Tivemos muitos destaques. Tivemos pela primeira vez na história do hip-hop um DJ Campeão mundial duas vezes no ano: meu mano Erick Jay. Muitos grupos novos surgiram, várias e várias composições boas e muitos e muitos views. Os 50 mil manos que apoiavam Racionais, no clássico CD “Sobrevivendo ao Inferno”, se multiplicaram e hoje são tantos, que até perdemos de vista quem é o nosso público, quem está curtindo rap hoje em dia.
Quem são esses 20 milhões de fãs que vemos constantemente nos views do youtube, mas que não vemos reunidos num evento de rap na quebrada, com exceção é claro do meu aliado Emicida que é fenômeno, que reúne 10, 15 mil pessoas que curtem suas músicas, cantam, e conhecem realmente cada verso dito. Assim como meu também aliado Criolo, que faz uma música de qualidade misturando rap com outros ritmos e que graças a Deus atingiu um patamar com sua música, que aqui no Brasil ainda era um tabu pra os mais conservadores do rap. Isso se chama trabalho duro, árduo, difícil e pra alguns, que não tem o conhecimento de como funciona o jogo dos negócios, dificilmente entenderá as dificuldades enfrentadas por muitos pra se manter entre os melhores!
Sucesso é fácil, qualquer um pode fazer. Vejo hoje muito grupo que surge do nada e quando menos esperamos, já vem um sucesso avassalador, na Internet. Ainda existem caminhos que são realmente verdadeiros labirintos pra quem não tem o conhecimento. Até porque a grande maioria hoje independe de rádio e isso acaba sendo muito bom. Tínhamos apenas três programas de rádio que faziam a cena girar. Um era do saudoso Natanael Valêncio, na rádio Imprensa FM, que infelizmente teve o final decretado com o falecimento do mesmo e não houve uma continuidade das pessoas envolvidas por N motivos. Tinha a Costa Norte, do nosso ex-sócio na CIA Paulista de Hip-Hop, Milton Salles, que também fez um barulho tremendo e devemos a eles o sucesso de “H.Aço”, do DMN, composta pelo meu mano LF. E, enfim, tempos ainda hoje o Espaço Rap onde o DJ e locutor Fábio Rogério corre e nada contra a corrente pra fazer a coisa acontecer, graças a Deus. Agora, eu acho muito pouco pois já vamos pra 30 anos de rap e ainda nos dias de hoje, com todos estes fãs de classe média alta que ganhamos com essa nova geração do rap brasileiro, com os nossos fãs e seguidores nas fanpages do Facebook, e comunidades de rap, com milhares de seguidores que temos no Instagram, ainda haver uma resistência de outras rádios e programas televisivos em colocar a nossa música inclusa nas programações diárias. Assim como também vejo uma resistência por parte dos DJs brasileiros em também fecharem os olhos pro rap brasileiro e ainda tocarem 80% de rap e músicas americanas nas baladas, quando na real estamos no Brasil vivendo uma outra realidade, com músicas que já não tem tanta diferença em qualidade de produção musical.
Tem muito produtor bom trabalhando a anos nas periferias e mandando muito bem em seus trabalhos e não são valorizados como deveriam. Os rappers agora estão brilhando o olho pra um monte de playboy que se dizem produtores de rap, que nunca fizeram nada pelo rap e tão ganhando uma fortuna em cima do que lutamos tanto pra conquistar e preservar. Estamos entregando o ouro na mão deles. Fora que infelizmente ainda continuamos com a mania de achar que o gramado do vizinho é o mais verde, o mais bonito…
Acho que 2017, tá na hora de enxergarem que no jogo do hip-hop é “nóiz por nóiz”. Temos que fazer o dinheiro girar entre nós, não darmos dinheiro pra quem já tem. Além de que, se não fizermos com que os diamantes que tem espalhados em cada quebrada nos quatro cantos das periferias do Brasil brilharem e serem valorizados colando nos shows, prestigiando o companheiro de profissão, compartilhando músicas boas e bons rimadores, fazer com que as pessoas e esse novo público conheçam verdadeiramente, a que viemos, quem somos e o que é o “verdadeiro hip-hop”, o brilho dos rappers genéricos de brinquedo de plástico e ocos sem conteúdo espalhados agora também no Brasil vão continuar brilhando e ai, não adianta depois reclamar que a coisa está decaindo e só os playboys são a batatinha da onda predileta.
O preconceito e o racismo ainda estão ai, cada vez mais óbvios. Só não vê quem não quer… Vamos prestar atenção manos e minas! Um próspero ano novo, com muito rap, rimadores, graffiti, DJs, B-Boys, B-Girls… Essa é a cena!
*Elly Pretoriginal é vocalista
do pioneiro grupo de rap
brasileiro DMN. Na atividade
desde 1988, é um dos principais
MCs da cena rap paulistana.