Indie Hip-Hop 2004 – 15 Anos | Entrevista com Hieroglyphics

2
533
Hiero no palco – Foto Acervo BF

Mais uma vez dezembro foi um mês bom em relação a eventos para a Cultura Hip-Hop em São Paulo. Além da batalha entre crews Master Crews, que aconteceu no dia 12 no centro da cidade, o SESC Santo André recebeu no sábado e no domingo (11 e 12) o Indie Hip-Hop.

A atração principal do evento foi o coletivo de MCs da Califórnia (Oakland), Hieroglyphics Crew (leia entrevista). Pelo terceiro ano consecutivo o SESC Santo André dedica um final de semana ao Rap Alternativo, em 2002 foi o grupo Lyrics Born, em 2003 o Blackalicious e agora Hieroglyphics.

Além de trazer importantes grupos internacionais para se apresentar na cidade, a grande vantagem do evento é que é de graça e mesmo Santo André sendo outro município, o público compareceu em peso. No sábado as atrações começaram as 17h00, com a exibição do filme “Aqui favela o Rap representa”, o apresentador nos dois dias foi o MC Kamau com apoio do DJ Will, MC Rick, Dieguinho Beat Box e seu projeto paralelo, o grupo Simples.

Espião (Rua de Baixo), Parteum e Secreto (Mzuri Sana) – Foto Acervo BF

Os primeiros a subirem no palco sábado foram Parteum (Mzuri Sana) e o grupo Rua de Baixo, ambos da Rhima Rhara. Parteum apresentou músicas do trabalho solo que acaba de lançar “Patrocínio Quebrado” (uma mix tape com algumas rimas e sons instrumentais) e também cantou músicas do seu grupo. Em seguida se apresentaram Max B.O e o MC carioca De Leve, os DJs foram Marco e Castro (Quinto Andar), depois dos brasileiros o público estava pronto para receber os californianos do Hieroglyphics. Opio, Pep Love, Phesto, Tajai, Domino e Casual entraram no palco agitando muito e fazendo o público vibrar com as músicas dos discos ‘Full Circle’ e ‘Third Eye Vision’, além das músicas do Souls Of Mischief e dos trabalhos solos de Casual, Pep Love e Opio.

No domingo o público foi bem maior – o que já era esperado – e o som estava bem melhor. O evento começou no mesmo horário do dia anterior com a exibição do filme “O Invasor”. Os primeiros a se apresentar foram Instituto e Z´África Brasil, que juntos mesclaram suas músicas e fizeram um bom show.

Black Alien e Mamelo Sound System – Foto Acervo BF

Na seqüência Mamelo Sound System se apresentou junto com Black Alien, que foi muito bem recebido pelo público e apresentou as músicas do seu primeiro disco solo, ‘Babylon by Gus’. Depois de um intervalo com muito freestyle do Kamau e músicas do Simples, novamente o Hieroglyphics subiu ao palco, com muito mais energia e mais à vontade, o público retribuiu com muita vibração. Eles inverteram a ordem das músicas na apresentação e cantaram algumas que não haviam cantado no dia anterior, como a música “Soweto”. Mesmo não contando com a presença de Del The Funky Homosapien e A-Plus os dois dias de shows foram bons.

Sem dúvida, mais uma vez o Indie Hip-Hop foi um sucesso e agora só nos resta esperar e torcer para que em 2005 esse e outros eventos com a mesma proposta aconteçam. Depois do evento fizemos algumas perguntas* para alguns integrantes da crew, falaram sobre os novos projetos e as impressões sobre o público brasileiro, entre outros assuntos.

Bocada-Forte: O que acharam do Hip-Hop no Brasil?

Casual e Opio – Foto Acervo BF

Opio: Nunca tinha escutado Rap em português, mas acho que a língua se encaixa muito bem. Eles têm a conexão real com a Cultura Hip-Hop, não estão fazendo isso por dinheiro e sim por amor à música, pelo menos do que conheci do Hip Hop alternativo daqui, há muito respeito pela Cultura.
Casual: Gostaria de conhecer mais, estou aqui há 3 dias e é minha primeira vez aqui, pude perceber que o Graffiti é muito forte, mas não vi nenhum B.boy, gostaria de ver alguns break dancers por aí. Ouvi falar que tem uma galeria de Hip-Hop, algo assim e não temos isso lá.

B.F: Você já usou algum sample de música brasileira em suas músicas?

Opio: Eu compro um monte de discos brasileiros, para ouvir o ritmo brasileiro, diferentes artistas, nem lembro os nomes e eu já sampleei música brasileira antes, coisa pequena, umas vozes, percussão…

B.F: Fale sobre o disco “Ascension”.

Pep Love: “Ascension” não é um álbum novo, saiu há 3 anos, foi um álbum que gravei quando tinha um monte de novas ideias vindo à minha mente e eu tinha muito para tirar de dentro de mim, pois estou fazendo Rap há 15 anos e me sinto feliz por meu álbum ter saído depois de tanto tempo. Estive negociando com selos, tempo perdido, frustração, as coisas não saíam do jeito que eu queria, mas tudo saiu de uma vez e ao mesmo tempo movemos a uma nova consciência, estar a par da guerra, sabe? Essas coisas, qualidade espiritual…

B.F: Como é o envolvimento de vocês com outros elementos do Hip-Hop?
Casual:
Eu fazia Graffiti quando era mais jovem, um pouco de breaking, mas não era bom em nada, até que comecei a fazer Rap.
Tajai: Eu costumava fazer tags, se você procurar vai achar alguma coisa a caneta por aí, mas não vou falar sobre isso para as câmeras. Mas só tags, coisa pequena.

B.F: Tajai, fale sobre o seu disco, Power Movement.

Tajai: Está nas lojas, para manter as pessoas pensando, manter as mentes correndo, começar a olhar o mundo diferente, mas também se divertindo ao mesmo tempo.

B.F: O que acharam do público brasileiro, esperavam ver tanta gente com discos, camisetas, etc.?

Visão do público – Foto Acervo BF

Opio: Foi nossa primeira vez aqui, eu me diverti tanto, pois não sabia que tantas pessoas nos conheciam por aqui, não tinha certeza de que eles já eram familiarizados com o som, que já existe há mais de dez anos. Fiquei surpreso, me senti honrado, a resposta que obtivemos foi um sentimento bom, as pessoas dançando, muita energia, queria que tivéssemos mais shows assim, com essa vibração, pessoas jovens vindo de muitos lugares, queria shows assim onde vivemos.
Pep Love: Esta é a última parte do que eu não esperava, a primeira parte é que não sabia que seria um evento tão enorme, e fiquei surpreso com tanta gente jovem, pois estamos juntos desde 92, não somos exatamente um grupo novo, é muita energia e estamos atingindo mais de uma geração.
Casual: Não esperava, não esperava nada. Fizemos muita coisa em lugares distantes, então achava que alguém fosse conhecer, mas não tanta gente com álbuns, mas gostei! Foi muito parecido com o público de onde venho, é a mesma coisa de eventos Hip-Hop nos Estados Unidos.
Tajai: Não esperava ser tão grande, temos um monte de fãs por todo o mundo, ficamos sabendo sobre eles pela internet, coisas assim, mas nunca se sabe até ver e vemos aqui um monte de gente com discos e tudo mais.

B.F: Porque o Del e o A-Plus não puderam vir?

Tajai: O Del não gosta muito de viajar, não gosta de sair de casa, só fica fazendo música o tempo todo e A-Plus não pôde vir por alguma coisa que aconteceu no último minuto, mas nós voltaremos e na próxima vez eles virão.

B.F: Você mostrou muita energia no palco, sentiu o mesmo do público

Tajai: Definitivamente. Vai e volta. É uma troca de energias, eu não ia ficar gritando lá em cima se ninguém estivesse dentro do clima.

Assista ao vídeo do show, filmado pelo Bocada Forte

B.F: A crew de vocês está aberta a novos integrantes?

Tajai: Nós temos um selo e por ele lançamos Encore, Goapele, Z Man, mas como um grupo não teremos mais gente, não espera-se que os Beatles, por exemplo, adicionem um carinha! Não que sejamos como os Beatles, mas também não adicionaremos mais gente, mas como selo estamos abertos a todos os tipos de artistas.

B.F: Quais os novos projetos da Hiero Imperium?

Opio: Tajai acabou de lançar um novo álbum chamado “Power Movement”, Casual está lançando “Casual Presents Smash Rock Well”, A-Plus está lançando “My Last Good Deed”, Del “Eleventh Hour” e o meu “Triangulation Station”, que está saindo dia 22 de fevereiro de 2005. O ano que vem será cheio de coisas, como o vídeo que Pep Love e eu estamos fazendo de um single meu, inclusive estamos gravando cenas aqui em São Paulo.
Tajai: Eu também tenho alguns lançamentos pela Clear Label Records, o projeto 2501, que eu lancei em 2000 e agora vem a seqüência, que irei lançar em breve. Tenho um álbum com novas músicas do Souls of Mischief, chamado “Machine language” e também um novo álbum meu chamado “Rising Sun”, estou tentando me manter criativo dentro de minha própria atmosfera. Eu trabalho em outras áreas também, tenho que ter certeza que “Triangulation” de Ópio está indo bem, “Smash Rock Well” do Casual, mas temos muita coisa pra sair, visuais também, filmes, trilhas sonoras, etc.

[+] Ouça e leia a entrevista no Programa Boomshot #21
[+] Leia a entrevista com Tajai

[+] Relembre o álbum “93′ Til Infinity”, lançado pelo Souls Of Mischief em 1993

*Entrevista por Gil e Noise D. Tradução por Juliana Feijó

2 COMENTÁRIOS

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.